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Resenha | Quarteto Fantástico nº 01 – Eternamente (Slott & Pichelli)

 Quarteto Fantástico Eternamente, pelo roteirista Dan Slott e a artista Sara Pichelli, deveria ser o retorno triunfal da primeira família do universo Marvel. Porém, decepciona em tudo que se propõe, acertando apenas no lado familiar da equipe, o que se torna o único ponto alto do encadernado, mesmo sendo o feijão com arroz da equipe.

 

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Imagine fundar uma empresa de sucesso com base em um produto. Agora, pense que, mesmo não vendendo tanto quanto antigamente, esse produto ainda era tido como o bastião do que representava a sua empresa. Então, em uma virada que só o destino pode aplicar, sua empresa perde os direitos sobre um aspecto extremamente lucrativo do produto (cinema), mesmo ele ainda sendo vendido em sua forma original (quadrinhos).

Agora, pense que, não podendo lucrar como queria, você decide enterrar o seu produto por anos, após uma despedida triunfal (Guerras Secretas), deixando os consumidores fiéis abandonados.

Essa alegoria toda resume o que ocorreu com o Quarteto Fantástico, a Marvel e a Fox nos últimos anos. Após perder os direitos cinematográficos na década de 1990 e, se vendo impossibilitada de usar os personagens no cinema como gostaria, já que a Fox os usava de outras formas, o gibi da primeira família da Marvel (e seus produtos) foi cancelado, dando sumiço em Reed e Sue Richards ao final da mega saga Guerras Secretas, de Jonathan Hickmann, deixando o Coisa e o Tocha Humana em outras equipes.

 

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Pelo menos, a despedida temporária do Quarteto Fantástico se deu de forma apoteótica em Guerras Secretas.

 

Porém, após um longo período na geladeira, mostrando que em matéria de quadrinhos nada dura para sempre, a Marvel decidiu voltar com os personagens que primeiro fizeram sucesso lá na década de 1960 e transformaram a editora no que é hoje.

É uma pena que esse retorno é tão apático e frustante, com uma vilã ruim e cenas de ação bem anêmicas. Para uma equipe que já teve fases aclamadas como as de John Byrne, Mark Waid, Mark Millar e Jonathan Hickmann, a dupla Dan Slott e Sara Pichelli frusta o leitor.

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Capa de Esad Ribic.

 

Para que não acompanhou a ótima revista Tocha Humana & Coisa, do escritor Chip Zdarsky, lançada em dois volumes pela Panini, essa edição até que abre bem, mostrando como Jonnhy Storm e Ben Grimn seguiram com sua vida sem a presença do Senhor Fantástico e da Mulher-Invisível, que, junto com a Fundação Futuro, estão viajando pelo Multiverso, recriando-o.

Para quem já leu o trabalho de Zdarsky, que seria um prólogo desse título e que funciona muito melhor, o começo de Quarteto Fantástico Eternamente bate só na mesma tecla, apontando como o Tocha Humana se sente abandonado sem seu cunhado e sua irmã e o Coisa, que sabe que o casal está perdido pra sempre, seguiu sua vida.

Mas, quando uma ameaça surge no Multiverso, fazendo com que o casal Richards volte para pedir auxílio aos seus companheiros, é que começam os verdadeiros problemas dessa fase de Dan Slott.

 

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A vilã que o Quarteto enfrenta, inicialmente, se mostra bastante perigosa, com um nível de poder avassalador. Porém, esse senso de ameaça é logo desfeito pelos acontecimento, tornando tudo menos urgente e sem emoção. Chega ao cúmulo da vilã cair no clichê do herói que fala que, se a equipe estivesse toda reunida, ela iria perder, fazendo com que Reed traga seus companheiros e todos os heróis da terra que já fizeram parte do Quarteto.

É tão tolo e bobo que irrita.

Mas a sensação de urgência decai não só pelo roteiro, mas devido, também, à arte de Pichelli. Longe de ser uma má desenhista, já que possui um traço limpo e dinâmico, usado à perfeição em outros personagens da editora, aqui, a artista italiana não emplaca cenas de ação grandiosas que um conflito pelo Multiverso precisa. Está muito apático o trabalho de arte aqui.

É uma pena o leitor ser frustrado pelo roteiro e pela arte, pois é tudo muito limpo e muito sem emoção.

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O ponto alto dessa edição realmente é a personalidade dos personagens e sua interação. Mas se lembrarmos que isso é a base do Quarteto Fantástico há quase seis décadas, então, não temos nenhuma novidade aqui.

Mas a caracterização existe e ela é realmente muito boa, muito pela experiência de Slott com personagens mais humanos, já que passou quase uma década escrevendo Homem-Aranha, o qual tem um momento muito bom nesse encadernado.

Quero crer que as histórias melhorem daqui pra frente, em especial, porque ela tem uma ligeira melhora na quarta parte desse encadernado, quando o Quarteto Fantástico volta à Nova York e vai reconstruir sua vida. Não custa ser otimista, mas com grandes ressalvas, haja vista o balanço desse volume.

Tanto é que há uma história extra apática aqui, com desenhos de Simoni Bianchi, que traz o retorno do Doutor Destino ao velho status quo de sempre. Ou seja, a Marvel (e Slott) não arriscou em nada ao trazer de volta o Quarteto Fantástico.

 

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A edição da Panini está bastante decepcionante também. Sem um editoral ou retrospectiva que explique os fatos anteriores, contanto apenas com as capas originais e extras, o leitor cairá de paraquedas no ocorrido nessa edição. Sorte de todos que o texto é bem expositivo sobre o que ocorreu e é fácil se contextualizar.

 

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A primeira família da Marvel merecia mais depois de um longo período de ostracismo nos quadrinhos. Com roteiro e arte sem emoção, o acerto aqui é só no desenvolvimento de personagens e sua interação, ou seja, o velho feijão com arroz do Quarteto Fantástico. Torcemos que isso melhor ou que apareça outro Jonathan Hickmann no fututo para chacoalhar tudo e levar os heróis que são uma família a lugares nunca antes explorados.

 

 

Ficha Técnica

  • Capa cartão, com 120 páginas
  • Editora Panini
  • Lançamento em outubro de 2019
  • Preço de capa: R$ 20,90
  • Tamanho: 17 x 26 cm
Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.