Nas duas histórias reunidas em “Mágico Vento: Graphic Novel Deluxe Volume 7” (Editora Mythos, 204 páginas, R$ 79,90), Gianfranco Manfredi mergulha nas lendas e crenças indígenas, envolvendo suas referências com os elementos típicos da série.
Assim, em “O demônio dos enganos“, somos apresentados a Iktomi, uma das diversas versões do Enganador, figura tradicional no imaginário dos índios americanos, ganhando nome e forma diferente conforme a narrativa tribal.
Iktomi, com seu viés caótico e catalizador de conflitos, costuma se manifestar nas proximidades do hunka, celebração voltada para a união da aldeia, como se quisesse testar os laços entre os nativos. Poe segue como os olhos do leitor dentro da história, inquirindo e observando tudo que lhe soe estranho ou desconhecido.
E nesse embate com Iktomi em que Mágico Vento acaba envolvido, de forma a proteger sua tribo, Poe assume papel de caçador e vítima da entidade, contra a qual nosso protagonista precisa usar de todo seu conhecimento xamã para derrotar.
Há uma certa visão poética dos casos ambientados no território sioux, como a evocar uma cultura perdida e refeita de lembranças. Esse tom é reforçado na segunda história, “A dança dos espectros“, que parte de um fato histórico, a absorção do cristianismo pelos indígenas em suas cerimônias, mesclando-o com práticas seculares, para construir um conto ousado, diante do que estava em jogo.
Afinal, a reunião de dezenas de chefes indígenas na aldeia de Alce Ereto, para conhecer o profeta Chifre de Prata, desperta rumores de uma possível rebelião contra os brancos. Medo este manipulado por Howard Hogan, que entra em cena outra vez, agora com um aliado misterioso diretamente ligado a Chifre de Prata.
Mas qual a origem do profeta? Seriam verdadeiras suas visões? Mágico Vento acompanha o conclave de modo a perscrutar os segredos daquele que vem mobilizando os nativos, ajudando-o ao mergulhar seus sonhos enquanto Poe segue uma investigação paralela, afim de saber o que o exército pensa sobre o caso.
Manfredi, auxiliado pelo lápis de seus comparsas Ramella, Barbati e Frisenda, é hábil ao costurar ficção com realidade, evitando saídas fáceis. Um trabalho realmente diferenciado.
Leave a Reply