Resenha crítica do KDrama “Porque esta é minha primeira vida” disponível na Netflix e sem muitos spoiler!
Talvez “Porque esta é minha primeira vida” tenha um dos textos mais bonitos de um Kdrama disponível no catálogo da netflix depois de My Mister e Signal. Because This Is My First Life (이번 생은 처음이라) no original, é sobre Se-hee e Ji-ho, duas pessoas com personalidades muito incompatíveis e foi exibida pelo canal tvN entre 9 de outubro e 28 de novembro de 2017 e está disponível na Netflix.
Se-hee (Lee Min-ki) é um amante de gatos e sua casa, cujo o planejamento para terminar o financiamento dela durará 35 anos; ele tem tudo anotado do que irá gastar até lá, além disso, odeia relacionamentos, enquanto Ji-ho (Jung So-min) é uma aspirante a escritora de novelas que de repente se torna uma sem-teto. Depois de uma reviravolta hilariante, os dois resolvem se casar como um contrato, Se-hee sendo ajudado a pagar a casa e Ji-ho finalmente tendo um teto para morar. Tudo assinado e aceito em comum acordo entre os dois graças a conveniência.
A ideia original parece fácil, mas a convivência é um negócio que mexe muito com nossos sentimentos e o que acontece? Da forma deles (muitas vezes bem divertidas de assistir), acabam se apaixonando, porém, ao mesmo tempo, as coisas começam a complicar para eles. E a forma que cada um lida sobre essa sensação de gostar de alguém fazem “Porque esta é minha primeira vida” tão especial e divertida de assistir. Além do par de pombinhos problemáticos, os melhores amigas de Ji-ho (Soo-ji e Ho-rang) têm conexões românticas com os colegas de trabalho de Se-hee (Sang-goo e Woo-seok). Apesar de seus mal-entendidos estressantes, todos esses personagens secundários dão mais humor e profundidade à novela. O trio de casais acabam virando três aspectos distintos de como seria e é um relacionamento nos tempos modernos, assim, cada um acaba atraindo um público bem amplo para o K-Drama.
Mas talvez o grande nome de atuação de “Porque esta é minha primeira vida” seja o gatinho de Se-hee. Na verdade, o gato é uma grande metalinguagem sobre o amor. No original ele se chama Goyang (literalmente gato em coreano), mas Ji-ho acaba dando um nome mais apropriado para ele, chamando de Uri (nós). Todas as cenas com o Goyang/Uri são plots que amarram cada trama e subtrama do incrível roteiro desta novela e isso é muito importante e divertido de se notar.
Se-hee e Ji-ho apesar de serem opostos, têm uma química divertida em frente da câmera. Mesmo sendo estoico e meio cansativo enquanto aparecia sozinho, Se-hee virava outra pessoa quando o assunto era seu gato, como criador de gatos foi muito divertido vê que todo mundo passa pelos mesmo perrengues. Mas acredito muito que o papel de Ji-ho feito pela Jung So-mim é um achado para quem vive de escrever roteiros como eu. Muita gente pensa que escrever e ser roteirista é puro glamour e café. Não chegam nem perto disso.
E Ji-ho mostra muito bem como é nossa vida, a dificuldade de começar uma história, de horas de pesquisas e anotações que às vezes você não vai utilizá-las. Das horas e horas na frente de uma tela sem saber por onde começar ou por onde continuar, além disso, o quanto somos tratados como lixos pela sociedade. Ser escritor não é fácil e se você sonha com isso, pare bem aí! Ganhe dinheiro na área de TI como o Se-hee. Mentira, pessoal, leia muito, pesquise muito e passe horas e horas escrevendo sobre tudo que um dia a fama vem!
Pois bem, todas as cenas de Ji-ho são monólogos sobre o amor e sobre a vida adulta. E são nessas horas que “Porque esta é minha primeira vida” é tão bonito de assistir. Os autores utilizam livros e poetas reais dando ganchos da trama e aumentando a qualidade textual de cada personagem. Os livros citados no KDrama foi o “A Namorada do Fim do Mundo” (세계의 끝 여자친구) de Kim Yeonsu, o livro é uma coleção de contos que possuem temáticas universais do dia a dia do ser humano. Na obra, as personagens sofrem com problemas que podem acontecer com qualquer indivíduo. De acordo com um artigo de Kim Seung-bok para o portal Korean Literature Now, as sete histórias são “repletas de humor, intensidade e esperança”. O escritor Kim Yeonsu recebeu diversos prêmios por esse trabalho. A “Ilha” é um livro de poemas para o desenrolar do relacionamento de Ji-ho e Se-hee, assim como para introduzir uma outra personagem importante para a trama. Ele foi escrito por Jeong Hyeonjong e lançado pela primeira vez em 2009, possuindo 34 poemas que refletem a vida do poeta. O livro “O Quarto 19” (tradução literal. Em inglês é “To Room Nineteen”) foi escrito por Doris Lessing e publicado pela primeira vez em 1954. Ele é o único título não coreano. “O Quarto 19” é abordado na série por Ji-ho. Ela faz uma reflexão sobre a ideia de casamento e utiliza das histórias do livro para entender o próprio relacionamento com Se-hee.
O último livro citado em “Porque esta é minha primeira vida” é o “Chorar não muda nada” (tradução literal. Em inglês: Crying Doesn’t Change A Thing/Even Though Nothing Changes If You Cry. Em coreano é 운다고 달라지는 일은 아무것도 없겠지만) do escritor Park Joon. Segundo Ji Yeon Kim, em uma publicação para o portal Voko, a obra de Joon é uma coleção de prosas com a inclusão de poemas. Para saberem mais sobre as obras leiam o artigo original de onde tirei as informações aqui.
Escrever um roteiro onde os protagonistas se relacionam com prosas, poemas e livros reais não é inédito, mas o que fizeram aqui é de tirar o chapéu e fôlego, pois são esses elementos que dão vida para as os monólogos de Ji-ho e deixa tudo mais profundo.
A paixão de Ji-ho por escrever foi sua melhor característica. A indústria do K-drama deve ser tão competitiva que nem mesmo um diploma da Universidade de Seul pode garantir o sucesso. E perseguir seus sonhos apesar de tanta turbulência emocional exige tenacidade e inspiração. Meu único problema com Ji-ho era sua inconstância; seus sentimentos por Se-hee eram tão previsíveis quanto o vento. Mas como sempre, eu nunca me interesso tanto pelo romance dos protagonistas. (Risos)
O par mais emocionante foi Ho-rang (Kim Ga-eun) e Woo-seok (Kim Min-suk). Entre todos os personagens, eles tiveram os problemas mais significativos. Mesmo depois de sete anos juntos, Ho-rang e Woo-seok não podiam se casar porque não estavam financeiramente prontos. Além disso, embora Ho-rang sempre “incentive” Woo-seok a pedir sua mão em casamento, ele não era maduro o suficiente para ler nas entrelinhas. Para ser justo, Ho-rang poderia ter expressado seu desejo em termos diretos (por exemplo, “Vamos nos casar.”). No entanto, era impossível escolher um lado. Ambos tinham falhas que tiveram que superar e isso é muito real.
Soo-ji (Esom) e Sang-goo (Park Byung-eun) foram os personagens que deixaram a desejar. Eles tinham uma boa química na tela. No entanto, eu não gostei da base do relacionamento deles: um caso de uma noite. Mas isso é muito subjetivo. Mas “Porque esta é minha primeira vida” também abordou temas como o abuso sexual, psicológico e físico e existe um plot incrível com Soo-ji e um abuso que ela sofreu desde jovem por ser tão independente e mulher.
Para mim, a mensagem geral é que não devemos banalizar o casamento, independentemente das ideologias progressistas da sociedade. Se você entrar nessa união idealmente permanente por capricho, não pode esperar ter uma vida feliz juntos. Já é hora de os casais se despedirem de desculpas como “diferenças irreconciliáveis”. Com texto e uma mensagem poderosa sobre relacionamento “Porque esta é minha primeira vida” vale a pena para qualquer idade. Esse recomendo muito e espero que gostem.
Um dorama que dá vontade de recomeçar quando chega ao último episódio. Já assisti duas vezes e ainda não estou satisfeita.😂😍
Amei o post ! Assisti na pandemia…e amei…resolvi assistir novamente agora ..será outro olhar…
Ahh achei uma análise sobre essa série que estou assistindo <3 Que série gostosa de assistir, é um confort drama <3 É uma série que deveria ser mais popular que outras séries. Eu amei!