Primeiras impressões de talvez a série mais épica de 2024, conheçam Shōgun sem spoiler
Shōgun é uma adaptação da maior obra do romancista James Clavell – Xógun – A Gloriosa Saga do Japão (1975). Eu li o livro pela primeira vez em 2010 e de lá para cá, reli umas três vezes. Já que para mim, é uma das coisas mais incríveis já escritas da história da ficção com elementos históricos. Apesar de basear a narrativa meses antes da grande batalha de Sekigahara que conta ascensão do daimyo “Toronaga” (analogia a Tokugawa Ieyasu) ao Xogunato, a história é contada pelos olhos de um piloto inglês. Só que tudo é grandioso, a narrativa de James é detalhista ao ponto de ele explicar cada costura da roupa de um simples samurai que morreria no parágrafo seguinte.
E quem conseguiu essa façanha titânica foi o canal FX (Disney), entrando na mente do James Clavell e fazendo uma das séries mais incríveis do ano até o momento. Esta é a segunda vez que a história é adaptada, tendo a primeira sido em 1980, que foi um enorme sucesso de audiência do canal ABC. A nova versão é assinada pelos premiados Justin Marks e Rachel Kondo com 10 episódios da primeira temporada.
Como dito acima, a narrativa de Shōgun começa quando um misterioso navio europeu chega à uma aldeia de pescadores na costa do Japão. A tripulação era guiada pelo piloto inglês John Blackthorne e sua chegada mudaria todos os planos do daimyo Toronaga na guerra civil que estava eclodindo naquele país no século 17. Os dois homens mergulham profundamente no ambiente político da ilha, à medida que vamos compreendendo os conceitos de civilização dentro de uma guerra sangrenta, amor e um choque de culturas.
Mas adaptar um livro tão grandioso como Shōgun com bastante dinheiro não é nem de longe uma tarefa difícil. Nos últimos tempos, filmes como Flash, Morbius e Mulher-Maravilha 1984 tiveram orçamentos gigantes, mas suas bilheterias foram medíocres e vergonhosas. A FX gastou mais ou menos 200 milhões de dólares para dar vida a Shōgun e, ao contrário dos projetos mencionados anteriormente, valeu cada centavo gasto. Desde dos primeiros minutos do primeiro capítulo, a série é simplesmente colossal. E eu só assisti até o dia que sentei para escrever esta resenha, dois episódios.
Não existe nada parecido com esta série. Shōgun é maior que a vida. Tem um desenho de produção incrível que nos coloca diretamente no Japão do século 17, cheio de detalhes precisos e uma produção e edição única.Tecnicamente é uma obra-prima.
Beleza, Pikachu, mas o roteiro e elenco valem a pena? Muito. O argumento final é de Justin Marks e Rachel Kondo, eles fazem uma dinâmica cultural que não só diversifica a história, mas permite a gente mergulhar no mundo político do Japão antes de se isolar do mundo por mais de 300 anos. Tudo é cativante e equilibrado.
John Blackthorne é interpretado pelo ator/músico/produtor Cosmo Jarvis. É um personagem complexo, ele odeia o Japão, é uma cultura e língua totalmente diferente da sua, então precisa se adaptar da pior forma possível àquele novo mundo. E o que mais o irrita é a toda a complexidade e atmosfera políticas dos lordes samurais, além do fato de quase o tempo todo tem alguém tentando matá-lo. Por enquanto, Cosmo Jarvis tá entregando tudo com o Blackthorne.
Mas para mim, os protagonistas de Shōgun são a senhora Mariko e o senhor Yoshii Toronaga. Mariko é interpretada por Anna Sawai (Pachinko e Monarch: Legado dos Monstros). A natureza empática de Mariko fundamenta a série de uma forma muito necessária. Sawai é fascinante, sutil e está fazendo a protagonista mais bem escrita da literatura. Fiquem de olho em Mariko que ela vai lhe surpreender.
Toronaga é interpretado pela lenda viva Hiroyuki Sanada. E ele só aceitou o papel se a produção respeitasse um de seus pedidos: que todos o elenco japonês fosse feito por atores japoneses.
Shōgun é uma série única e rara que prova que as produções americanas ainda tem salvação. É uma história épica, poderosa e cheia de proezas políticas, realçando o que é bom e o que é mal, o que é bonito e o que é feio. Ao longo dos anos, assitimos algunas séries fantásticas, mas nada tão arriscado como Shōgun.
Recomendo sem medo. Shōgun está disponível no Star Plus.
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