Em A Ressurreição da Fênix – O Retorno de Jean Grey, a franquia dos mutantes da Marvel chega ao seu esgotamento de ideias, com uma trama que só os fãs de longa data entenderão as referências. Até mesmo o trabalho dos vários desenhistas presentes nessa edição parece cansado.
Não é spoiler para ninguém, afinal, o motivo desse encadernado está estampado na capa: o retorno de Jean Grey. A mutante telepata e telecinética vem sofrendo sucessivas mortes ao longo do tempo na franquia dos X-men desde a fase de Chris Claremont e John Byrne na década de 1970, quando se revelou que a entidade cósmica Fênix usava Jean como hospedeira.
De lá para os tempos atuais, a personagem voltou nos anos 1980, mesmo Claremont sendo contra a ideia. Viveu uma crise envolvendo clones com sua cópia Madelyne Pryor na década de 1990. Até ser morta novamente na fase de Grant Morrison nos mutantes no começo do século XXI.
Porém, Grey sempre foi uma figura que orbitou a franquia, tanto que o escritor Brian Michael Bendis trouxe uma versão jovem da personagem, retirada do passado dos heróis X, em sua passagem pelo título.
Seria questão de tempo para a mutante ser ressuscitada em definitivo pela segunda vez no universo regular da Marvel. E é esse o centro da história de A Ressurreição da Fênix – O Retorno de Jean Grey, publicada pela editora Panini em março de 2019, com roteiro de Matthew Rosenberg e arte de Leinil Francis Yu, Carlos Pacheco, Joe Bennet e Ramon Rosanas.
Na trama, quando manifestações psíquicas envolvendo a Fênix começam a aparecer pelo globo, os X-men, liderados por Kitty Pryde, percebem que tudo está envolvido com o retorno de Jean Grey, entrando em uma caçada pelo globo para descobrir mais. Enquanto isso, acompanhamos uma jovem chamada Jean vivendo em uma cidadezinha pacata, sendo que sua realidade está prestes a ruir.
Uma coisa merece ser dita acerca sobre texto de Rosenberg, apesar do começo confuso e, até mesmo, com situações desnecessárias, onde os heróis se separam pelo planeta e encontram manifestações mentais do passado de Jean Grey (clichê usado à exaustão nos quadrinhos, em especial, dos X-men), o final da trama é focado especialmente na relação Jean x Fênix, evitando pancadaria desnecessária que a trama estava preparando, sendo um bom respiro para o roteiro e uma solução que foge do lugar comum.
Esse é o destaque dessa edição e seu ponto alto, fazer com que a solução da trama não envolva mais porradaria sem sentido, como ocorre no começo dessa história em cinco partes. Há um momento onde o Velho Logan entra em um bar e tem uma conversa com Jean Grey que merece elogios pela tensão que é criada ali.
Porém, a condução entre o começo e o fim é cercada de conceitos e referências que só fãs antigos perceberão, como o local do ovo da Fênix ser um lugar onde Scott Summers e Jean Grey se beijaram na fase Claremont/Byrne ou até mesmo o incidente do ônibus espacial envolvendo os X-men, fazendo com que o desenrolar da trama seja uma grande colagem de momentos chaves da personagem, mastigando ideias já remoídas ao extremos na franquia mutante.
E essas informações sobre o passado dos X-men que só os fãs veteranos entenderão é reforçado pela edição encadernada lançada pela editora Panini Comics, já que não consta nenhum editorial ou notas de rodapés para contextualizar muitos momentos da história.
Mesmo o time de desenhista de primeira linha presentes no encadernado não chega a se destacar, fazendo com que A Ressurreição da Fênix – O Retorno de Jean Grey cresça como um grande retorno. Tirando o trabalho dos sempre competentes Carlos Pacheco e Joe Bennet (que dá umas boas escorregadas nos desenhos em alguns momentos) e o traço simples, porém, detalhista de Ramon Rosanas, a arte desse encadernado parece cansada e sem brilho.
Em especial, as passagens de Leinil Francis Yu. Não que os desenhos estejam ruins, mas os rostos sempre iguais dos personagens femininos e masculinos e a ausência de cenários de fundo chegam a incomodar na leitura desse encadernado. E isso só se agrava ao percebermos que Yu e Pacheco são velhos conhecidos dos mutantes, fazendo a arte parecer algo requentado do que já vimos tantas vezes.
Ou seja, não chega a comprometer a história, mas a fadiga das histórias dos X-men chega aos desenhos dessa edição, onde, ao acompanharmos mais um retorno de Jean Grey, somos apresentados a conceitos já batidos desenhados por velhos conhecidos da franquia.
Como dito, o trabalho editorial da Panini não ajuda o leitor novato a se contextualizar na trama. O encadernado só traz as histórias originais que saíram em 05 partes nos EUA, as capas originais e várias capas extras. Para uma história que é um amontoado de acontecimentos de quatro décadas, as informações para quem é um leitor novato seriam um grande diferencial nesse encadernado, o que não ocorre nessa publicação.
Com um roteiro cheio de ideias batidas e desenhos que parecem cansados, mesmo brilhando em alguns momentos, pelo menos A Ressurreição da Fênix – O Retorno de Jean Grey não termina em uma grande batalha envolvendo todos os heróis, sendo o fim focado na relação Jean x Fênix, o que é um grande alívio para essa segunda volta dos mortos da mutante. Uma pena que seja uma edição que só os fãs veteranos compreenderão em sua plenitude, haja vista a falta de informações presentes no encadernado da Panini.
Ficha Técnica
- Capa cartão, com 148 páginas
- Editora Panini
- Lançamento em março de 2019
- Preço de capa: R$ 22,90
- Tamanho: 17 x 26 cm
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