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Entrevista | Editora Antofágica

Tempos atrás falei de Machado de Assis e a eterna relevância dos clássicos, obras que se comunicam com todos os tempos, como se preservassem em si passado, presente e futuro simultaneamente. E foi uma grata surpresa conhecer quem leve a cabo essa percepção, ao se dispor trabalhar sobre esse rico material, ainda que em um momento de incertezas no mercado.

Mas essas questões não abalam a turma da editora Antofágica, fundada recentemente e ainda com seu primeiro livro no prelo. Daniel Lameira, Sergio Drummond, Rafael Drummond e Luciana Frachetta preparam o lançamento de “A Metamorfose”, de Franz Kafka, numa bonita edição em capa dura com ilustrações do gênio Mutarelli. E já anunciaram “Memórias Póstumas de Brás Cubas” como próximo a sair, resgatando desenhos seminais de Candido Portinari inspirados na obra.

Apoiados numa sólida parceria com a Amazon e investindo numa comunicação com o leitor que perpassa as diferentes redes sociais (incluindo um canal no YouTube que produz conteúdo diferenciado), acreditam no potencial de vendas de livros que todos afirmam conhecer, mas muitas vezes passam longe da leitura.

Seria possível vender o clássico como algo novo? É sobre esse e outros assuntos que conversei com o pessoal da Antofágica, na entrevista a seguir:

5C: Como surgiu a ideia da editora? A opção pelos clássicos foi pensada desde o início?
Sergio Drummond:
Diante de livros clássicos tive a desagradável sensação de que aqueles textos nunca chegariam aos jovens ou ao público em geral. Seria medo? Exigência de iniciação? Negligência? Não, a resposta é simples: falta de comunicação e esclarecimento. Na minha opinião, não são os jovens que têm que criar interesse pelos clássicos, e sim os livros que devem ser apresentados de forma atrativa para conquistar os jovens. E essa é a tarefa da Antofágica. A editora nasceu depois do meu encontro com Daniel Lameira. Nossa ideia é ligar o mundo cult ao mundo pop, com um bom aproveitamento das tecnologias que temos à disposição atualmente: Youtube, Instagram e Facebook.

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Capa da bela edição do clássico de Kafka a sair pela editora Antofágica

5C: “A Metamorfose”, de Franz Kafka, foi anunciado como primeiro lançamento e chegará em capa dura, com ilustrações de Lourenço Mutarelli e textos de apoio. O formato seguirá nos próximos lançamentos ou os projetos gráficos serão pensados caso a caso?
Daniel Lameira:
Além da curadoria, um diferencial de grande destaque da Antofágica é o projeto gráfico, sempre pensado a dedo para potencializar cada título. Por isso, todos os nossos livros serão de capa dura, mesclando artes plásticas e literatura.

5C: Algo que chama atenção é a apresentação dos canais de comunicação da Antofágica, seja seu perfil no Instagram ou o canal no YouTube. No caso do Instagram, podemos até falar numa narrativa ( ao longo das postagens) que se elabora com base no lançamento do livro de Kafka ou no vindouro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, por exemplo. Como são pensadas essas ações e qual papel é pretendido para as redes sociais?
Luciana Fracchetta:
O desafio é como apresentar esses livros para novos leitores, especialmente os jovens, e como re-apresentá-los para quem já os leu. Então, a campanha de cada título é criada de forma única e cuidadosa, sempre pensando em como chegar nesses dois públicos. A nossa intenção é que as redes sociais sejam um espaço de conversa, com troca de ideias sobre não só literatura, mas arte, séries de tv, filmes, tudo o que o gostamos. A ideia é que nesses canais o foco seja mais em conteúdo e não só na venda, mostrando que o livro pode ser uma experiência que se expande além das páginas.

5C: A editora anunciou uma parceria com a Amazon para venda exclusiva de seu catálogo. O mercado livreiro foi “sondado” como um primeiro caminho antes ou a falência de grandes redes como a Saraiva os levou a buscar um ponto seguro de apoio comercial?
Daniel Lameira:
A Antofágica se propõe a ser uma editora diferente, então nossa forma de comercialização segue o mesmo objetivo. Acreditamos muito no serviço que a Amazon presta para o leitor e a parceria com a casa foi o primeiro caminho que nos veio à cabeça. Mas visando atender todos os tipos de consumidores, principalmente aqueles que apreciam a experiência de conhecer e folear o livro antes da compra, estaremos em diversas livrarias independentes, importantíssimas na formação do leitor.

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5C: Começar as atividades num período de instabilidade econômica e turbulência no mercado editorial assusta?
Sergio Drummond:
Toda crise ou recomposição de sistemas traz profundas possibilidades de recriação e podemos avaliar uma profunda modificação no mercado. O problema das editoras com a falência de grandes redes deve ser revisto e, com isso, surgir novas formas de negociação e ênfase na venda direta.

5C: É possível vender o clássico como algo novo?
Sergio Drummond: Os clássicos se renovam a cada geração e há sempre interesse potencial neles. Representantes de uma época e uma cultura que são a experiência humana consolidada, eles podem e devem dialogar com a contemporaneidade. Cada texto clássico se enraiza num momento da história humana. Esta história deve ser mostrada junto com o livro. Não são letras, são momentos. E é aí que a Antofágica utiliza as redes sociais e novas tecnologias a serem criadas.

Parnaibano, leitor inveterado, mad fer it, bonelliano, cinéfilo amador. Contato: rafaelmachado@quintacapa.com.br