“Henri Désiré Landru” é o quarto trabalho do francês Chabouté lançado pela editora Pipoca & Nanquim. Conta com 148 páginas, ao preço de R$ 79,90, capa dura e miolo em offset de alta gramatura, que realça a fantástica arte em preto e branco.
Esta banda desenhada apresenta a história daquele que seria um dos maiores assassinos seriais da França. Dividida em três atos, abre com o julgamento de Landru, acusado formalmente pelo assassinato de onze mulheres. A passagem, centrada na fala do promotor, esmiuça a materialidade do caso, conforme as provas e evidências reunidas pela Justiça à época.
Segundo as investigações, Landru seguiria um modus operandi parecido com todas as vítimas: na Paris que então atravessava a 1° Guerra Mundial, seduzia mulheres viúvas ou solteiras, levando-as posteriormente para uma propriedade rural em Gambais, onde acabariam mortas, esquartejadas e incineradas. De volta à capital francesa, o assassino tomava posse de todos os bens da vítima.
No segundo ato, Chabouté inova e decide narrar uma versão própria do caso. Para tanto, recua no tempo alguns anos e apresenta o soldado Paul, desesperado para fugir dos horrores do campo de batalha. Mesmo ferido no rosto por estilhaços de bomba, consegue escapar, reencontrando sua esposa e com ela montando um esquema de chantagem que acaba envolvendo Landru.
Dessa forma, o autor elabora uma história que escapa das evidências históricas e recria os passos de seu protagonista, investindo numa trama que envolve diferentes esferas do poder, postas a par das ameaças de Paul que “obrigariam” a Landru seduzir e seguidamente levar para Gambais as mulheres solitárias de Paris. Mas nada de passagens grotescas que explorem a violência: Chabouté parece mais interessado na reconstituição do período retratado, fazendo um trabalho cenográfico soberbo, rico, ainda que repetitivo.
O terceiro ato abraça de vez essa proposta narrativa, fazendo de Henri o rosto conhecido de uma engrenagem criminosa que o tempo ocultou. A cena final, de uma dramaticidade seca, é apropriada para a história que Chabouté escolheu contar, embora frustre quem esperava algo mais fidedigno aos crimes perpetrados pelo “Barba Azul de Gambais”.
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