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Crítica | Sweet Tooth da Netflix é providencial

Bico Doce
Reprodução (Netflix/Twitter)

Sweet Tooth da Netflix é uma história de aventura delicada e fascinante

Pode parecer mentira, mas o texto original e a produção começaram antes da Pandemia da Covid-19. “Sweet Tooth” ou Bico Doce se tornou uma das maiores surpresas da Netflix de 2021. A série é sobre um mundo pós pandemia? Sim e o eco que isso causa na gente que ainda estamos vivendo isso é surpreendente REAL.

Eu já havia escrito sobre “Sweet Tooth” quando anunciaram a produção Netflix/Warner. Quem quiser ir primeiro lá e saber como é a história com muito spoiler, clica aqui.

Mesmo assim, vamos do começo. Para quem ainda não sabe, “Sweet Tooth” conta a história de como um vírus devastador – Flagelo – quase extermina a humanidade, os que sobrevivem, agora desconfiam da própria sombra, se escondem em lugares distantes e sem pessoas, se tornaram pessoas apáticas, com medo, mas que se permitirem lutar contra isso quando suas decisões formam laços incríveis e inesperados. 

É sobre isolamento e tristeza, mas também tem muito a ver com as conexões imprevisíveis que podem acabar nos definindo. É uma narrativa intensa e fascinante. Tem muita gente comparando ao fenômeno Stranger Things, eu poderia até dizer que lembra as narrativas dos filmes do Steven Spielberg, mas como estamos num momento histórico que mudou e mudará nossas vidas daqui para frente, “Sweet Tooth”, atinge um tom diferente em 2021 do que qualquer um poderia esperar.

O diretor/roteirista Jim Mickle  co-escreveu “Sweet Tooth” com Beth Schwartz, ele também dirigiu o episódio piloto de estreia e mais alguns ao longo da primeira temporada de oito episódios.

Baseado no amado e aclamado quadrinhos de Jeff Lemire, “Sweet Tooth” é uma visão de uma pandemia  que muda toda a vida moderna da humanidade e que a quase a destruiu completamente, enquanto também traz o próximo passo na evolução humana, as crianças híbridas. O vírus Flagelo dividiu o planeta sobre se os híbridos, as crianças humanas que nasceram metade animal após a pandemia, são ou não os culpados pelo quase fim da espécie. No fim, as crianças híbridas tornaram-se inimigas, caçadas e mortas, algumas tinham um destino pior, se tornaram cobaias para acharem a cura para o vírus letal.

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O protagonista de “Sweet Tooth” é o incrível Gus (Christian Convery, uma das melhores performances infantis na TV em anos), um híbrido de cervo / humano que foi mantido escondido por seu pai (Will Forte). Treinado para sobreviver isolado, à parte de um mundo.

A vida simples de Gus e de seu pai acaba chegando ao fim quando descobrem seu esconderijo dentro da floresta, por causa disso, Gus entra numa  jornada para tentar encontrar sua mãe. Tudo o que ele tem é uma foto e que ela mora no estado americano do Colorado. Seu inesperado companheiro de viagem é um gigante gentil chamado Grandão (o fenomenal Nonso Anozie), que já serviu na milícia chamada Os Últimos Homens, caçadores de híbridos e qualquer pessoa que os esconda.

A primeira temporada de “Sweet Tooth” ficou dividida em três arcos narrativos. O principal é a jornada do Grandão, Gus e uma eventual terceira viajante, a combatente e ex-líder de um grupo de defensores dos híbridos, a Ursa (Stefania LaVie Owen),  ela acredita que as crianças híbridas são a salvação da humanidade e não sua destruição.

Enquanto isso, o Dr. Aditya Singh (Adeel Akhtar) usa sua esposa que está infectada pelo Flagelo, doses de uma cura potencial para a pandemia que ainda assola o país, mesmo que isso acabe com seus princípios morais.  O que pressiona sua pesquisa é a esposa Rani (Aliza Vellani) a doente cobaia, que os dois tentam esconder da vizinhança. O momento mais sombrio da temporada se desenrola no episódio três, quando é revelado o que acontece nesta utopia suburbana quando alguém começa a apresentar sintomas do Flagelo. Ao mesmo tempo, somos apresentados a Aimee (Dania Ramirez), que cria dentro de um zoológico uma morada ‘segura’ para híbridos. O narrador original em inglês é o lendário James Brolin, o cara faz uma diferença sem precedentes na narrativa de “Sweet Tooth”, se gosta de assistir na versão original, vai adorar.

Embora a maioria dos arcos e seus  personagens não se cruzem na primeira temporada de “Sweet Tooht”, a narrativa do Jim Mickle é perfeita e fluída. Ele não é um diretor exagerado ou barulhento, gosta de contar uma história que permita os personagens se encontrarem ao longo de suas próprias aventuras com vários enredos, nenhum episódio dessa temporada é ruim ou com barrigas, é algo genial, principalmente vindo de uma produção original Netflix que sucumbe em séries com diversas temporadas que acabam te levando para lugar algum.

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As performances dos atores são acima da média o tempo todo – Anozie é particularmente o melhor – mas é a escrita consistentemente inventiva e a produção cinematográfica (prestem atenção na fotografia da série) é que fazem o projeto se destacar. É sincero e fantástico ao mesmo tempo, trazendo-nos a um mundo muito diferente do nosso, mas com personagens que têm preocupações e emoções reais de pessoas que vivem dentro de uma pandemia. A trilha sonora também ajuda muito, quem cuidou dessa parte foi o famoso Jeff Grace, o compositor já tem no currículo 40 produções, ele sempre fez e fará a direção musical das obras do Jim Mickle já que são amigos de longa data.

Até onde você lutaria para sobreviver? Até onde você iria para ter certeza de que as pessoas que ama sobreviveram? A que ponto sua moral seria destruída para salvar a si e um ente querido? Questões de sacrifício, isolamento e agora reconexão ecoam em “Sweet Tooth”, assim como em nosso mundo, mas quem poderia imaginar que uma série de fantasia/ficção seria tão certeira com o mundo real em pleno 2021? Ninguém sequer cogitou,  mas acho que “Sweet Tooth” teria sido um grande sucesso antes da Pandemia da Covid-19.

É uma série sobre como as conexões pessoais podem nos colocar em perigo e nos inspirar, uma história de aventura antiquada de “família improvisada” que parece incrivelmente atual e ainda atemporal em sua estrutura, estilo e emoção. “Sweet Tooth” termina com uma série de obstáculos que podem levar alguns a criticar esta temporada como sendo mais  prólogo, mas é uma reclamação menor para um programa que eu realmente espero que acabe sendo tão importante quanto ele merece ser.

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.