Dando espaço para personagens até ali não desenvolvidos, Os Muitos Santos de Newark é um prequel que a série Os Sopranos não necessariamente precisava, mas faz bonito perante a clássica série da HBO.
Como fazer uma história interessante de um material que é visto por muitos como uma das pedras fundadoras da chamada era de ouro moderna da televisão, ao lado de Breaking Bad, por exemplo?
E como fazer isso quando o seu ator principal, o excelente James Gandolfini, e rosto da série, faleceu de forma trágica, devido a um infarto há quase 10 anos?
Voltando a citar Breaking Bad, e dando resposta de como se deve dar sequência a um material já clássico, a série tem um telefilme na Netflix, El Camino, que soube responder a essa questão: 1) Utilizar os atores originais da trama; 2) Manter os mesmos produtos na série, pois são eles que conhecem o material original; 3) Dar um futuro (ou um passado) para a história que conhecemos.
Os desafios eram muitos para Os Muitos Santos de Newark ficar, pelo menos, na sombra de Os Sopranos, pois, sem a figura magnética do falecido James (Tony Soprano), só restou ao filme explorar o passado, mais exatamente, os anos 1960 e 1970, onde os movimentos negros tem um papel importante naquela sociedade suburbana de Nova York e New Jersey, dominada pela máfia italiana.
Sendo sincero, só assisti Os Sopranos recentemente, com a chegada da HBOMax. E, claro, percebi que a série é tão boa quanto a crítica afirma. Terminei as 7 temporadas em menos de 2 meses. O tema máfia sempre me atraiu. Sou uma daquelas crianças dos anos 1980 e 1990 que os pais (no caso, meu pai) cresceu influenciado pela fama de O Poderoso Chefão. E, quando você assiste Os Sopranos, o expectador vai se afeiçoando a todos ali em tela, como um relacionamento abusivo que não conseguimos largar, pois Tony Soprano é um imoral que nos afeiçoamos até seu trágico final (ou não, o final da série é discutido até hoje)
Então, quando assisti Os Muitos Santos de Newark, identifiquei muito da série, as situações e os personagens marcantes em suas versões mais novas. Tudo está bem representado, mas com uma coisa que chama atenção, e isso só perceberá quem tiver entrado de cabeça na série.
Há muitos atores conhecidos ali, interpretando personagens conhecidos da trama, como, por exemplo Jon Bernthal, que faz o pai de Tony, Jonnhy boy; Corey Stoll faz o Tio Júnior; e Vera Farmiga faz a temível Lívia Soprano, mãe e causa de muitos traumas de Tony.
Porém, o personagem principal de Os Muitos Santos de Newark é Dickie Moltisanti (Alessandro Nivola), pai de Christopher, que não aparece na série principal, e, quando é citado, é como uma figura paterna para Tony.
É como se David Chase, criador da série, e Alan Taylor, diretor do filme, afirmassem que a família principal de Tony já teve o destaque devido, através das histórias que o mesmo contou durante a série ou até mesmo em diálogos. Os atores estão ótimos e geram excelentes momentos, recriando até o que foi mostrado ou dito na série. Porém, todos estão ali para orbitar Dickie Moltisanti.
Mas vamos ao principal em uma análise de um filme que já vem como uma prequel de um sucesso da TV: Os Muitos Santos de Newark funciona como filme solo ?
Sim, funciona. Existe um arco narrativo ali. Um tio, e uma família, envolvida no submundo do crime e um sobrinho que utiliza a imagem deles como exemplo, por mais que fale que quer se manter longe. Enquanto isso, as mudanças que o movimento negro causou no subúrbio de Nova York e New Jersey gerarão conflitos a frente.
Porém, é justo afirmar que só vai adorar o filme quem conhecer a série. E um dos atrativos que liga as duas obras é a figura de Tony, vivido aqui pelo filho do falecido James, Michael Gandolfini. E você não conseguirá tirar os olhos dele, vendo como a semelhança é imensa com o pai. Aposto que, por isso, o filme teve muitas críticas e sua avaliação não é tão boa, porque o público deveria estar esperando um filme de um jovem Tony Soprano, mas ele aparece tão pouco.
Mesmo assim, o que torna Os Sopranos único está ali no filme. A boa produção e atuações. E as explosões de violência que vem do nada. É chocante como você não está preparado e não ouve o que está chegando, até ser fatídico.
Talvez, Os Muitos Santos de Newark é o prefácio que Os Sopranos não sabia que precisava. Ou, quem sabe, a primeira parte de muitas boas histórias que esse universo rico ainda tem a explorar em seu passado.
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