Em mais uma iniciativa para “atualizar” sua linha de títulos bonellianos, a Mythos Editora encerrou o formatinho em papel jornal da criminóloga Julia Kendall na edição 154, o substituindo pelo formato italiano original, em papel offset, reiniciando a publicação. E a efeméride não foi casual: essa jogada combinou com a edição de número 200 da série italiana, que saíra em cores.
Imagino não haver título com maior potencial do que este para atrair novos leitores, e a decisão editorial deve chegar a quem antes torcia o nariz para Júlia em razão do formato. A série criada por Giancarlo Berardi, um dos “pais” do mítico Ken Parker ao lado de Ivo Milazzo, é um misto de novelão, ao explorar a vida pessoal da protagonista e dos diversos coadjuvantes, e investigação criminal, mergulhando a cada volume em casos apresentados de forma esmiuçada e contundente.
A astúcia dos roteiros, que misturam trechos do diário de Júlia, dando voz e sensibilidade às tramas, com diálogos naturais, ganha forma no traço de variados artistas, todos empenhados em preservar a paisagem urbana bem delineada e a caracterização expressiva dos personagens.
Nesta edição, temos Júlia recebendo sua irmã Norma e o namorado brasileiro dela em casa, enquanto se envolve no caso de Evelyn Wescott, um ex-fotógrafo cego que sofre um série de acidentes “suspeitos”. Quem poderia estar por trás dos episódios sinistros? E Norma finalmente teria encontrado o grande amor de sua vida em João?
A forma como as duas linhas narrativas se alternam e se abraçam conforme o final de “A imagem perdida” se anuncia é mais uma prova da engenhosa abordagem anunciada por Berardi desde os primórdios do título, que pretendia fugir do usual nas tramas bonellianas. 200 histórias depois, é possível afirmar que seu objetivo foi alcançado com êxito.
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