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Dica de leitura | The Black Monday Murders (Hickman & Coker)

The Black Monday Murders não é um quadrinho fácil, que vai pegar o leitor pela mão, explicando as várias referências e elementos da trama que envolve dinheiro e magia. Não, os vários documentos, e-mails e diários presentes nos dois volumes já lançados pela editora Devir constroem uma grande teia complexa na qual as famílias mais ricas do mundo estão envolvidas com o ocultismo. Mas, para aquele disposto a solucionar a grande trama de Jonathan Hickman e Tomm Coker, vai se deparar com uma trama angustiante e incrível.

Arte de The Black Monday murders
Familiares, demônios, assassinatos, dinheiro e mercado financeiro. O leitor vai se deparar com muitas informações que precisa decifrar em The Black Monday Murders.

Sejamos sinceros, leitor. Você já se deparou com aquele quadrinho que traz conceitos que não teve contato ainda e, por isso, dificultou sua leitura. Ou você taxou a HQ de ruim ou falou que é ilegível.

Sim, isso já aconteceu comigo. Os Invisíveis, de Grant Morrison, é o exemplo que uso de quadrinho que não me agradou pelo excesso de ideias que eu desconhecia e impediam que a leitura básica fluísse. Merece uma releitura? Com certeza.

Já até fiz isso com outros quadrinhos, como Promethea, de Alan Moore. Após a edição 10 do título americano, que foi compilado aqui pela Panini em duas edições tijolos, a quantidade de conceitos envolvendo tarô, criação do mundo e magia me deram dor de cabeça. Abandonei a leitura e só voltei muito tempo depois para desvendar essa grande tapeçaria que é o trabalho de Moore e J.H. Willians III.

Os Invisíveis. Arte de Brian Bolland.
Não, leitor, você não é burro (ou a história é mal contada) só porque não entendeu algum quadrinho com ideias complexas. Agora, cabe a você embarcar nesse mundo e desvendá-lo, se achar necessário.

E posso falar o mesmo de The Black Monday Murders da dupla Jonathan Hickman e Tomm Coker.

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Não que a hq lançada em duas edições até agora pela Devir no Brasil seja indecifrável. O ponto aqui é que ela não vai te entregar tudo de mão beijada como outros trabalhos de mais simples apreciação.

Vamos começar pelo básico. O quadrinho trata acerca da presença de forças ocultista que influenciam o mercado e a produção de riquezas no mundo. Através de famílias, o mundo é dominado atualmente pelo capital financeiro. E se você pensou acerca dos 1% da população que concentram as riquezas do nosso mundo, sim, acertou.

E isso vem desde tempos imemoriáveis, como vamos descobrir mais para frente. Porém, a trama e seus personagens se focam mais no início do século XX e no XXI. Acontece assim porque é quando o capital financeiro (bolsa de ações) é criado. As crises posteriores, como a de 1929 e de 2007 são frutos desse controle demoníaco, afinal, o deus mercado precisa ser alimentado.

Arte de Tomm Coker.
O suicídio de banqueiros e agentes da bolsa em 1929 é parte de um grande ritual onde o caos financeiro serve para alimentar forças ocultas.

Ao começar a leitura, já nos deparamos com sacrifício humano, o papel dos mercados e seus agentes. No segundo momento, já somos apresentados a outro sacrifício, só que, dessa vez, a morte envolve um representante de uma das famílias que controlam o mundo, os Rothschild.

Algumas situações são até clichês em The Black Monday Murders, como o detetive que tem contato com o paranormal investigar essa teia de eventos que envolvem as famílias mais ricas e o papel da irmã exilada que volta para assumir o seu lugar, em busca de vingança pela morte do irmão.

Mas os clichês funcionam para fazer a história andar e causar familiaridade ao leitor. Pois, grande parte da trama vai sendo apresentada através de documentos, e-mails e diários. O leitor vai ter que montar o quebra cabeça da organização das famílias, os sacrifícios que ocorrem dentro desses círculos, a presença de familiares e as regras desse universo.

Arte de Tomm Coker
Figura quase onipresente, a mulher de branco é um dos grandes mistérios de The Black Monday Murders.

E é aqui que The Black Monday Murders se encaixa naquele rol de quadrinhos que o leitor vai ter que fazer um esforço para compreender. A edição é recheada de cartas, relatos e informações sobre a organização das famílias e o modo como atuam, tendo até mesmo causado uma crise financeira sem a aprovação de seu deus, como saberemos.

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Eu mesmo tive que ler e reler os dois volumes já publicados pela Devir no Brasil para perceber alguns elementos que passaram em branco pela primeira vez. Mas o leitor que se esforçar para conhecer The Black Monday Murders vai se deparar com outro grande trabalho do criador de Projeto Manhattan e escritor de uma das melhores fases a frente dos Vingadores e Quarteto Fantástico.

Arte de Tomm Coker.
O trabalho de arte de Tomm Coker só ajuda a elevar a qualidade de The Black Monday Murders.

E aqui entra uma ressalva. A publicação americana, apesar de ter começado em 2016 pela editora Image, só tem até agora 8 edições, que já foram compiladas aqui pela Devir. Sim, os dois volumes que o leitor brasileiro tem em mãos é todo o trabalho já feito por Hickman para The Black Monday Murders. O autor é deveras requisitado, tendo assumido recentemente X-men, na Marvel. Novas edições podem demorar a sair.

Isso estraga a leitura? Não, pois muitos dos mistérios iniciais já foram descortinados. Porém, ainda há muito a ser dito na trama, fazendo com que o leitor fique na expectativa pelo futuro.

Arte de Tomm Coker.
Tudo tem um preço que precisa ser pago. O dinheiro é a manifestação física de uma magia secular que envolve retirar as riquezas da terra e alimentar força maiores.

The Black Monday Murders não é daqueles quadrinhos fáceis. Precisa de atenção, haja vista o autor não entregar todos os elementos que fazem parte dessa trama de mão beijado ao leitor. Porém, para aqueles dispostos a ir juntando as partes que fazem desse quadrinho algo envolvente, estarão diante de outro grande trabalho de um dos melhores criadores da atualidade.

Assim como seus personagens, para entrar no universo de The Black Monday Murders o leitor terá que pagar um preço. E a moeda é a sua dedicação aos elementos que formam esse quadrinho.

Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.