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Hellblazer | Constantine é bissexual

Estou aqui com a revista Fantasmas do Passado (140 páginas, R$19,9) e preciso recomendá-la para vocês, porque ela evidencia algo claro: Constantine é bissexual e isso é ótimo para ofender a moral e os bons costumes das famílias tradicionais que existem ao redor do mundo.

O mais correto a se fazer quando escrevemos uma resenha, é ler o bagulho todo até o final antes de tecer uma crítica, mas não foi o caso aqui, porque precisei de poucas páginas para simpatizar com essa história em quadrinhos. Acontece que, se você já leu as histórias do personagem escritas por Jamie Delano ou Garth Ennis conhece bem que antes de ser simplesmente “Constantine”, o título chamava-se “Hellblazer” e a pegada era outra.

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Em 2011, a editora DC (dona do personagem), resolveu reformular todo o seu universo editorial e relançou praticamente tudo que publicava. Chamou a isso de “Novos 52”. O título “Hellblazer” acabou. No lugar de um personagem soturno, sujo e escroto, surgiu uma HQ clean que tentava agradar leitores mais acostumados com Superman ou Batman. Nada contra esses dois ícones dos quadrinhos, mas a ideia errada foi nivelar Constantine ao mainstream do universo de super-heróis. Não deu certo. Não fui o único que colecionava o personagem há décadas e que não conseguiu acompanhar seu novo título mensal, ou o Liga da Justiça Dark, revista onde ele era o líder de um grupo de mágicos ou místicos (o que poderia até ser bom, só que não…).

Enfim, talvez eu esteja sendo apenas um velho (ainda vou fazer 39), mas o fato é que li 8 ou 9 edições daquele título do Constantine e achei um lixo. Hoje, não suporto mais ver o personagem fazendo uma bola de fogo ou com uma luzinha na mão…

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Hora ou outra, Constantine soltava hadukens em sua versão “Novos 52”

O ponto de virada de Fantasmas do Passado, aqui é que após apenas 20 páginas desse novo encadernado, algo importante aconteceu… A princípio, Constantine, nessa nova aventura, não faz nada de excepcional: 1)condena uma mulher ao inferno porque ela havia matado várias pessoas em um ritual satânico, 2) conversa com “fantasmas do passado” que atormentam sua via, 3) usa magia para roubar novas roupas. Coisas que costuma fazer, frequentemente.

Mais adiante, vemos algo realmente curioso: Constantine vai até uma espécie de bordel que imita os nove círculos do inferno de Dante, onde cada andar tem um tipo específico de cliente, e isso é muito legal, mas, antes disso, ele entra em um bar onde encontra um homem de quase dois metros de altura e ombros largos. Sabe o que ele pensa: “olá, estranho bonitão”. E começa a flertar com o cara. Sim! Constantine é bissexual! Fato que é dificilmente abordado em suas Hqs, porque trata-se de um tabu. Algo que muitos leitores (ou mesmo escritores) desavisados poderão repudiar (sim, isso acontece, infelizmente). Então, vale a pena ler algo fora do comum mas que continua abordando aspectos fiéis ao personagem.

E essa sexualidade é uma abordagem fiel ao personagem porque foi originalmente abordada por Brian Azzarello ainda em 2001, no arco que começou na edição 164 e quando Hellblazer foi encerrada, para inserir o personagem nos Novos 52, ela estava no número 300 (esse história foi publicado no Brasil em 2010, no título “Pecados do Passado”, e recentemente em Hellblazer Assombrado vol 4, ambas pela Panini).

Outro fato curioso é que Constantine teve poucas autoras por trás de suas histórias. Já li Denise Mina (do arco Empatia é o Inimigo e outras). A escritora deste novo arco chama-se Ming Doyle e acredito que ela sabe o que está fazendo.

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Olha que capa sensual sem ser vulgar!

O traço também foge do comum e com um pouco de leitura você acaba aprendendo a gostar.
Parece ser o velho Constantino para novos leitores. O que deveria ter sido a reformulação proposta para os Novos 52. Algo novo se você não quiser ficar preso aos clássicos escritos por Jamie Delano ou Garth Ennis.

Sou desenhista, criador do Máscara de Ferro e autor do quadrinhos Foices & Facões. Sou formado em história e gerente da livraria Quinta Capa Quadrinhos