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Jason Brinca Com Ficção E Realidade No Divertido “A Gangue Da Margem Esquerda”

Paris, 1920. A capital francesa respirava ainda os suspiros melífluos da belle époque e se gabava de ser considerada epicentro cultural do, assim conhecido, mundo civilizado de então. Nesse cenário, o Quartier Latin, bairro localizado na margem esquerda do rio Sena, tornou-se um ponto de referência, ao ser povoado por artistas em busca de fama, fortuna e glória.

Nomes como os americanos Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald e o irlandês James Joyce roíam o osso em seus porões e apartamentos minúsculos, produzindo, bebendo, conhecendo mulheres e circulando pelos salões e saraus, à espera do golpe de sorte (e reconhecimento) que mudaria tudo.

Essa vertigem cultural foi explorada por Woody Allen, por exemplo, na películaMeia-Noite em Paris, que retrata a cena parisiense da época de maneira fabulosa e um pouco ingênua. Jason também a resgata, com seus característicos animais antropomórficos, mas de maneira deliciosa, mesclando arte, crime e uma boa dose de humor, adotando assim um tom longe do sua conhecida verve melancólica e cortante.

Aqui, os nomes são preservados, mas a literatura cede espaço aos quadrinhos. Para quem é afeiçoado com o período, a obra dos autores, suas biografias, tipos, manias, “A gangue da margem esquerda” (Editora Mino, 48 páginas, R$ 49,90) é um prato cheio com suas referências.

Jason faz caracterizações precisas de Hemingway e Fitzgerald; retrata o comportamento inconstante de Zelda; menciona Kiki de Montparnasse; lembra as visitas à “Shakespeare & Company“, livraria que preserva até hoje sua áurea; os primeiros trabalhos rejeitados pelas publicações da época e as preleções de Gertrude Stein. Tudo embalado em diálogos que transformam romances consagrados em quadrinhos. Impossível não se divertir com as citações.

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Mas, conforme a trama avança, percebemos que nem tudo em Paris é uma festa. As contas se acumulam e as carreiras demoram a deslanchar. Por isso, ao avistar um roubo na rua, Hemingway começa a pensar: e se ele e seus amigos armassem um grande assalto, de modo que pagassem as dívidas e pudessem ter um pouco de sossego?

Tão Logo põe seus companheiros a par da ideia, como Fitzgerald, Joyce e Ezra Pound, o grupo decide roubar a bilheteria de uma luta de boxe. E mal poderiam imaginar a sequência de surpresas e atrapalhadas que teriam pela frente…

Jason é criativo ao fazer, deste ponto em diante, um frenético thriller de assalto, contando a sequência do roubo sob diferentes perspectivas, sempre acrescendo uma nova camada na história conforme conhecemos a visão de determinado personagem sobre o crime. No fim, percebemos que escrever “O Grande Gatsby” não foi o maior desafio para Scott Fitzgerald. O difícil era ele manter a boca fechada mesmo.

Parnaibano, leitor inveterado, mad fer it, bonelliano, cinéfilo amador. Contato: rafaelmachado@quintacapa.com.br