Lovecraft Country estreou este final de semana mescla terror e uma vingança contra o racismo.
Texto escrito pela Soletine
Eu vi algumas reclamações esparsas a respeito do primeiro episódio de Lovecraft Country, que estreou nesse domingo 16 de agosto. Mas após assistir apenas metade do episódio, eu tenho que dizer que a série parece ser exatamente como imaginei.
Talvez alguns fãs de Howard Phillips Lovecraft tenham se empolgado ao imaginar as possibilidades do Horror Cósmico numa série da HBO, na esperança de sorver diversão sem compromisso, mas a produção-executiva nas mãos de Jordan Peele, já conhecido por mesclar terror à críticas ao racismo em seu filme “Corra!” (2017), nunca deixaria passar a chance de repetir e quem sabe aprofundar a necessária reflexão sobre o tema.
Os primeiros diálogos, entre o protagonista Atticus e uma companheira de viagem a respeito da literatura pulp, em que a mesma se surpreende ao descobrir que o herói do livro que Tic está lendo é um ex-confederado, ao que o rapaz tenta relevar enfatizando o status de “ex”, me remeteram quase que instantaneamente à defesa que alguns fãs mais ferrenhos fazem à obra de H.P. Lovecraft. Para mim, é uma critica certeira ao escritor que incutiu em suas histórias o preconceito pelos “outsiders” em geral, imigrantes de toda sorte e dentre eles, é claro, as pessoas de pele escura.
Mas “as falhas ainda estão lá”, é preciso lembrar. Afinal, a série e livro fazem sim, uma homenagem ao conjunto da obra que tanto influenciou e influência o terror, mas homenagem alguma pode ser isenta de crítica.
Na série, uma adaptação do livro de mesmo nome, escrito por Matt Ruff, acompanhamos o veterano da guerra da Coreia, Atticus “Tic” Freeman, viajar de Chicago à Massachusetts em busca de seu pai, que despareceu em sua própria busca obsessiva à ancestralidade de sua falecida esposa. Atticus aqui encarna o protagonista que ele tanto admira em seus livros Pulp, “viajando por ai, enfrentando monstros”. Só que os monstros têm feições muito mais familiares.
O país, impregnado com as leis de Jim Crow, choca com sua violenta segregação. O tom vilanesco nas ações dos supremacistas brancos que aparecem na tela chega a ser cartunesco de tão sádico, quase remetendo aos malfeitores das aventuras pulp que o protagonista tanto é fã, mas ao mesmo tempo chocando o espectador posto que tudo aquilo foi e ainda é bem real.
Aliais, referências ao Pulp, à literatura de ficção, seja de aventura, terror ou espacial é oque não falta na série. “Drácula”, “O Conde de Monte Cristo”, dentre outros, são citados ou até apresentados de fato ao espectador. Mas há outras referências como na família de George Freeman, em que a menina Dee desenha seu quadrinho com uma heroína espacial ou quando Letie e Tic falam de um antigo clube de livros de ficção quando crianças. Referências ao Cthulhu Mythos nem é preciso enumerar: a própria abertura do episódio é uma cena dantesca envolvendo as criaturas e nomes como Arkham e Shoggoth serão certamente ouvidos.
Para encerrar, de minha opinião, acho uma bela vingança a inserção de um protagonista negro em meio aos horrores lovecraftianos. E, que entre o horror sobrenatural e os horrores provocados pela própria humanidade, sabemos qual é o mais assustador.
Lovecraft Contry está disponível na HBO.
Sexta Macabra | Documentário: Lovecraft – Fear of the Unknown
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