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Resenha | Alvar Mayor, de Carlos Trillo e Enrique Breccia (Editora Lorentz)

Por Marcelo “Presto”*

Sim, ela voltou!!! Editora Lorentz está de volta trazendo um ótimo resgate histórico produzido pelos nossos Hermanos na década de 1970 e início de 1980. Estou falando de Alvar Mayor, escrita e desenhada por Carlos Trillo e Enrique Breccia.

Embora o cenário editorial brasileiro esteja em crise, vivemos um momento de grandes lançamentos e redescobertas que tornam o acervo de publicações de quadrinhos no Brasil mais rico e diversificado. Ano passado comentei sobre Mort Cinder, lançado pela editora Figura, no qual Enrique teve um papel de colaborador junto com seu pai Alberto Breccia e Hector Oesterheld, mas o desenhista tem muitos outros trabalhos importantes tanto com Oesterlheld como em grandes editoras como a Marvel, DC e a italiana Bonelli.

Carlos Trillo, por sua vez, tem uma longa produção em quadrinhos e roteiros de cinema, se destacando nas histórias de humor e no meio editorial. Colecionou prêmios pelo mundo como o Angouleme e o Yellow Kid, mas infelizmente o faleceu no ano de 2011.

Alvar Mayor é um dos principais trabalhos da dupla, sendo lançado dentro da revista argentina Skorpio entre os anos de 1977 e 1983 em 57 capítulos de 12 páginas cada. Essa edição da editora Lorentz compila as primeiras 18 histórias, sendo seis ainda inéditas no Brasil. Entre os anos de 1979 e 1981 as 12 primeiras histórias de Alvar Mayor foram publicadas aqui no Brasil em uma revista que tinha o mesmo nome da publicação argentina, lançada pela editora Vecchi esta durou apenas 1 ano. Desta época para cá nunca mais soubemos sobre o personagem até essa retomada da Lorentz, que deve compilar tudo em três volumes.

As histórias se passam no fim do século XVI, quando a coroa espanhola já tinha certo controle territorial da América e delegava poder a determinadas pessoas. Muitos destes líderes territoriais passavam a explorar outros colonizadores e subjugar violentamente os mais diferentes povos nativos.

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O protagonista, Alvar Mayor, é filho de uma mulher de etnia Inca com um colonizador que participou da expedição de Pizarro. Já adulto, perambula pelo Vice-Reino do Peru. Os dezoito primeiros capítulos que temos nesse volume se dividem em dois conjuntos de histórias: na primeira parte acompanhamos Alvar em companhia de Tihuo, num roteiro mais aventuresco, com a dupla defendendo os mais fracos e oprimidos; na segunda metade do encadernado, o foco é no relacionamento com Lúcia, numa jornada mais psicológica, na qual a magia se mostra mais presente.

É interessante como a abordagem da dupla de heróis justiceiros é sempre sagaz, geralmente se valendo dos preconceitos da época (e infelizmente ainda presentes mesmo depois de mais de 500 anos). Muitas vezes os vemos enganando seus inimigos ao se aproximar de forma aparentemente inocentemente, apenas para dar o bote no momento de maior fragilidade.

Outro destaque é como percebemos a evolução dos dois artistas ao longo das histórias. Os textos mais simples de Carlos Trillo vão ficando cada vez mais complexos com a inserção de elementos fantásticos, personagens históricos e uma trama menos linear. Os desenhos de Breccia também parecem se aprimorar a cada história, sua técnica realista já surpreende desde o início, mas com o passar das histórias vemos como sua narrativa gráfica vai melhorando, bem como o domínio na variação dos enquadramentos e da criação de sequências.

 

No entanto, são perceptíveis alguns problemas na construção narrativa, principalmente nas primeiras histórias. A passagem de tempo muitas vezes é confusa e apressada, como se as elipses temporais merecessem mais páginas para desenvolver em tramas mais longas. Fica a sensação de que faltam quadros para indicar progressão. Os diálogos também são, por vezes, desnecessariamente descritivos e redundantes. Porém, como já mencionado, são características que vão sendo amenizadas com o passar do tempo.

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A jovem editora Lorentz já é conhecida por ressuscitar boas obras como Dylan Dog que ganhou três edições celebrativas em 2017 e levando a Mythos a arriscar outros personagens da Bonelli. Como naquela época, a qualidade gráfica de suas edições é surpreendente em relação ao preço praticado. Alvar Mayor sai em capa dura com papel offset de alta gramatura, um formato maior que o americano, de forma a contribuir para a melhor apreciação da arte de Breccia.

Com tratamento editorial bacana, minha única ressalva fica por conta da imagem da guarda e folha de guarda que, embora muito bonitas, poderiam ser escolhidas de forma a montar um painel duplo e não duas imagens separadas. No entanto, essa é uma crítica estética que nada atrapalha a obra, apenas um comentário de alguém que não encontrou problemas realmente relevantes para apontar. E a pergunta que fica é: quando sai o segundo volume?

 

*Marcelo é colecionador de revistas em quadrinhos desde A Morte do Super-Homem, mas que se tornou eclético demais para escolher um gênero preferido. Historiador de formação, já participou de algumas escavações arqueológicas, mas agora está embrenhando no ramo editorial (quem sabe?). Atualmente escreve para o Tapioca Mecânica e o blog Mythológico, participa dos podcasts do Aracnofã e lança vídeos no YouTube no seu Canal do Presto.

Ficha Técnica

  • Capa dura, com 224 páginas
  • Editora Lorentz
  • Lançamento em abril de 2019
  • Preço de capa: R$ 54,90
Parnaibano, leitor inveterado, mad fer it, bonelliano, cinéfilo amador. Contato: rafaelmachado@quintacapa.com.br