Em Klaus, Grant Morrison escreve uma das suas histórias mais simples e diretas. Por isso, o quadrinho funciona tão bem, já que conta com um ilustrador fantástico para dar vida a esse conto de origem do Papai Noel.
A ideia parece estapafúrdia: contar uma história de origem do Papai Noel, como se o mito bom velhinho na verdade tivesse nascido em uma terra cheia de magia e feitiçaria, onde o protagonista na verdade é um guerreiro que age em prol da liberdade de seu povo e quer acabar com a tirania, trazendo esperança na época de Natal (ou Yuletime, no caso). Basicamente, esse seria um quadrinho como se Papai Noel fosse um super-herói. Mas, acreditem, a história de Klaus funciona e muito bem nas mãos do escritor escocês Grant Morrisson.
A história se passa na cidade de Grimsvig, onde um caçador, que estava ali somente para vender peles de animais, encontra sua terra tomada pela tirania bem no período de Yuletime (festival germânico pré-cristão, que vai do final de dezembro até 01 de janeiro). Os brinquedos das crianças são confiscados e levados para o filho do lorde da cidade. Os homens são forçados a trabalhar até a exaustão nas minas de carvão. E é proibida qualquer manifestação para comemorar o período de festas.
Vendo toda essa opressão, o caçador chamado Klaus decide trazer alegria para Grimsvig, construindo brinquedos e lutando contra o governo opressor, já que, aos poucos, se mostra, nessa história de 07 partes, que o personagem principal é bem mais que um simples caçador. O fantástico se faz presente na obra, onde espíritos da floresta ajudam Klaus e existe magia, deveras presente nesse mundo, tendo até mesmo um mistério de um demônio que influenciou o barão que oprime seu povo.
Para uma história de origem, os elementos de Klaus funcionam muito bem. A motivação e a história dos personagens vão sendo mostradas aos poucos e de forma eficiente. O leitor vai conhecendo o que move cada um deles em uma leitura simples e com diálogos diretos. E, levando em conta quem escreve, isso é um feito e tanto.
O escritor escocês Grant Morrison é mais conhecido pelos fãs de quadrinho por suas tramas complicadas, cheias de referências, que levam até mesmo o leitor desavisado a se perder no que ele está contando ali. Porém, ao lado da ótima Happy, Klaus é um dos textos mais simples de Morrison, mesmo que o escritor use de magia, demônios, festas pré-cristãs e uma terra fabulosa.
Ao contrário de obras como Os Invisíveis, em Klaus há uma proposta bem clara ao contar a história de origem desse Papai Noel revolucionário e super heroico. E uma coisa se pode afirma com precisão: Morrison acerta nos diálogos. O que sempre é um demérito do autor, já que ele embola demais a conversa de seus personagens, fazendo com que uma simples troca de palavras entre pessoas pareça uma história difícil de ser entendida. Isso não ocorre em Klaus.
Porém, a escrita de Grant Morisson não é o grande destaque desse quadrinho lançado pela Boom! nos EUA, em 07 partes entre 2015 e 2016, e pela Devir no Brasil, em um encadernado de luxo, apesar do texto cativar o leitor. Quem realmente brilha é o desenhista Dan Mora. Dono de um traço ágil e detalhado nos cenários, o artista cria painéis lindos, tudo com cores vibrantes, até mesmo no branco do inverno, dando um sentimento de frio, realmente.
Ler Klaus se torna mais prazeroso por causa dos belos desenhos e só engrandece a história. Se não fosse por Dan Mora, a história de origem do Papai Noel poderia desandar para uma história descartável estilo Papai Noel Ano Um e se perder entre tantos contos de origem de personagens. Há uns probleminhas aqui e ali na transição de quadros, mas nada que afete o todo da obra.
A edição da Devir está bonita, sem erros aparentes de ortografias, contando com as sete edições americanas originais, as capas originais e alternativas e a bibliografia dos artistas envolvidos. Porém, conta com um erro grosseiro ao atribuir a arte de capa ao desenhista Dan Mora. Pois, como se pode ver pela própria assinatura do artista na arte, a capa é de Cully Hammer. Capa essa que não chega a ser tão bonita e chamativa quanto as originais de Mora, tendo a Devir perdido a chance de escolher uma arte de capa melhor para seu encadernado.
Contando com um roteiro ágil, com diálogos eficientes e uma arte soberba, Klaus é uma das histórias mais acessíveis do escritor Grant Morrison, e, por isso, funciona tão bem. Mas o brilho da edição que a destaca entre tantos contos de origem realmente é a bela arte de Dan Mora. Tudo isso lançado em um belo encadernado de luxo da Devir, com apenas um escorregão ao atribuir a capa ao desenhista errado.
Ficha Técnica
- Capa dura, com 208 páginas
- Editora Devir
- Lançamento em dezembro de 2017
- Preço de capa: R$ 96,00
- Tamanho: 19 x 27,5 cm
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