Morgan Lost é uma grande trama que se passa em um universo steampunk, homenageando as tramas noir e o cinema, em um jogo de cores de cinza e vermelho que chamará a atenção do leitor.
O leitor que acompanha os lançamentos de quadrinhos através dos catálogos das editoras e por sites especializados, como o Universo HQ, percebe o bom momento que as publicações envolvendo a Sergio Bonelli Editore vivem no país, principalmente, se levarmos em consideração as várias campanhas que são abertas na plataforma de financiamento Catarse.
Editoras como Panini, Mythos, Red Dragon Publisher, Graphite e Editora 85 possuem hoje em seu catálogo uma vasta gama de personagens bonellianos, como Mister No, Deadwood Dick, Face Oculta, Dylan Dog, Martin Mistery, Lilith, Brad Baron, Dampyr e Nathan Never.
E nem vamos entrar no assunto Tex, pois, sem dúvida, hoje, é o personagem que mais conta com publicações que chegam nas bancas e livrarias, contando, de cabeça, os títulos regulares Tex Ouro, Graphic Novel, Em Cores, Edição Histórica, Gigante, Tex Willer, Platinum e Gold, sendo as primeiras lançadas pela editora Mythos e a última uma grande coleção em capa dura pela editora Salvat.
Se formos puxar pela memória, um ponto de largada recente para essa popularização dos títulos Bonelli foi o lançamento de 03 edições (com preços bastante enxutos – R$ 16,00) de Dylan Dog, no ano de 2017 pela editora Lorentz.
Dali, entre conversas editoriais e aceitação do público, nasceram várias iniciativas, como a da Editora 85, que, no mesmo ano de 2017, utilizou-se do Catarse para resgatar um personagem Bonelli anteriormente publicado pela Mythos, Dampyr.
Hoje, a 85 já conta com várias campanhas de sucesso na plataforma, tendo resgatado até mesmo Diabolik, da editora Astorina, criando no Catarse um meio seguro de lançamentos da Bonelli, que foi seguido por outras editoras que não tem o porte da Mythos e da Panini, editoras que, também, aumentaram o número de lançamentos da Bonelli nos últimos tempos, tal como Dragonero.
Bem, mas essa introdução toda é importante para o que mesmo? E é aqui que entra o objeto dessa resenha, o lançamento de mais um personagem da Sergio Bonelli Editore no Brasil, Morgan Lost, pelas mãos da Editora 85.
Novamente, através de uma campanha de sucesso lançada no Catarse, as edições de Morgan Lost começaram a chegar para os apoiadores em maio de 2020, fazendo com que eles tenham em mãos mais um personagem bonelliano, só que com um elemento que foge à regra das publicações da casa de Tex e que chama atenção logo de cara: a história não é em preto e branco, assumindo tons de cinza com vermelho, haja vista seu personagem ser daltônico e enxergar o mundo assim.
Para os leitores que vão conhecer Morgan Lost agora, evitando o máximo de spoilers, podemos afirmar que a história se passa na década de 1950, só que em um mundo onde uma grande catástrofe ambiental mudou radicalmente a forma de viver do ser humano. As mudanças são perceptíveis na leitura, haja vista as adversidades do clima terem desencadeado avanços tecnológicos e mudanças no comportamento da sociedade.
O leitor atento perceberá logo de cara que a arquitetura e a tecnologia no universo de Morgan Lost mudaram radicalmente, e, em especial, a religião, pois a grande influência aqui é a egípcia, não a católica, o que reflete também nos prédios e ruas da cidade.
Aqui, os assassinos em série são o grande entretenimento da sociedade, ou seja, podemos dizer que o divertimento dessa sociedade é a morte, tendo inclusive um programa diário onde são apontados os matadores mais populares, incentivando não só a população a adorá-los, como, também, caçadores que devem caçá-los. E esse é o papel de Morgan Lost, um caçador de assassinos em série, que traz no rosto as marcas de um encontro com uma seita de assassinos, a qual quase o levou a morte.
Criado por Claudio Chiaverotti, Morgan Lost tem vários elementos que o leitor prestará atenção, já tendo o seu criador dado um norte para suas influências no editorial que faz parte desse volume 1 da Editora 85: o cinema.
Chiaverotti afirma que usou em Morgan Lost várias características suas para compor Lost, tais como a insônia e o amor ao cinema. O leitor vai se deparar com homenagens a Instinto Selvagem, O Sobrevivente, Metrópoles e outros filmes clássicos, tendo a cidade onde se passa a história história (Nova Heliópolis) uma pitada de Gotham do Batman de Tim Burton e, também, Blade Runner.
O estilo noir da trama é presença constante, ajudado pelo preto, branco, cinza e toques de vermelho, e reforçado pela trama detetivesca, com um ambiente inventivo, além de contar com o personagem amargurado e desiludido com o seu passado e futuro.
Reunindo duas edições italianas (O homem da última noite e Não me deixe), a edição da Editora 85 forma um arco de introdução ao personagem, sua ambientação e ao seu elenco de apoio, sendo uma história completa, mas com grandes ganchos para o futuro.
Na primeira parte, O homem da última noite, os desenhos são de Michele Rubini, enquanto Não me deixe é de Giovanni Talami. Os traços dos dois artistas se assemelham demais, fazendo com que a arte desse primeiro volume seja bastante homogênea, tendo os tons de vermelho da história realçado a arte.
Já o roteiro é um bom ponto de partida para acompanhar e conhecer o personagem e a realidade em que vive, mesmo se perdendo em alguns momentos, como na apresentação de Pandora Stillman, onde um fato de seu passado é relatado em várias páginas, fazendo com que o ritmo da trama contada desde o começo seja quebrado. Serve para apresentar personagens, mas não funciona como deveria no momento que a trama está e isso ocorre algumas vezes nessa edição.
Mas o primeiro volume de Morgan Lost é bastante instigante, sendo daquelas histórias que desperta o interesse do leitor, ainda mais sabendo que a série tem 24 edições regulares na Itália, podendo a Editora 85 terminar, seguindo o padrão do número um, em 12 volumes a publicação do título.
Morgan Lost volume um da Editora 85 nos apresenta outro personagem da Sergio Bonelli Editore que era até então inédito para o público brasileiro. E, nessas duas edições presentes no volume um, o leitor vai se deparar com vários elementos envolvendo cinema, sendo apresentado a um mundo inventivo e a um personagem interessante, por mais que a trama derrape em alguns momentos, principalmente quando apresenta personagens secundários. Só nos resta aguardar por mais de Morgan Lost.
Ficha técnica:
- Capa cartão, com 196 páginas;
- Editora 85;
- Lançamento: maio de 2020;
- Dimensões do produto: 16 x 21 cm;
- Preço de capa: R$ 39,90.
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