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Resenha | O Anel do Nibelungo

O Anel do Nibelungo é a perfeita manifestação artística feita por um mestre dos quadrinhos do trabalho de um mestre da ópera.

 

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É inegável que uma análise de um trabalho artístico que tem diversas camadas em sua narrativa se torna uma tarefa hercúlea para quem tem que transpor para simples palavras o sentimento, a força e a emoção que é ler uma obra de arte complexa. Essa tarefa se torna até mesmo ingrata, pois há sempre a possibilidade que o autor do texto da crítica falhe em apontar algum ponto importante presente na obra. Haja vista a dificuldade em escrever uma crítica sobre uma das adaptações mais perfeitas da obra do compositor Richard Wagner, imagine adaptar a obra em si para os quadrinhos? Transformando em imagens sequenciais o texto e o ritmo da ópera imaginada pelo compositor.

Esse trabalho executado à perfeição foi obra de outro gênio em seu meio, no dos quadrinhos, no caso, o americano P. Craig Russell. Para os leitores, Russell não é um estranho, ao contrário. Seu nome está na mente daqueles que conhecem a série da Vertigo Sandman, onde colaborou com Neil Gailman. O artista também fez outras adaptações do trabalho de Gailman, como Coraline e, recentemente, Deuses Americanos.  A biografia de Russell fala por si, mostrando que o artista é um exímio contador de histórias, sendo gabaritado para adaptar qualquer texto que possa interessar.

Porém, O Anel do Nibelungo, trazido pela editora brasileira Pipoca & Nanquim, não é qualquer texto. A obra é a conjunção de quatro óperas do compositor alemão Richard Wagner, que compõe uma extensa trama envolvendo amor, morte, mitologia alemã e o ciclo de nascimento e morte dos deuses nórdicos. Você, leitor, pode não conhecer a obra completa de Wagner, pode nem mesmo ter ouvido qualquer ópera, mas é inegável que em um momento de sua vida ouviu A Cavalgada das Valkirias. (Se não lembra, clique aqui)

 

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A adaptação de O Anel do Nibelungo por Russell se deu fielmente à proposta de Wagner. O desenhista adapta as quatro partes da obra em sequência, fazendo com que a história seja um grande épico dos quadrinhos. Então, no volume único brasileiro, temos Ouro do Reno, a Valquíria, Siegfried e Crepúsculo dos Deuses. A adaptação da obra por Russell só foi capaz de ser realizada através da tradução do texto original por Patrick Manson.

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Na trama, após um prólogo sem palavras, mas com muita força visual, onde o mundo é criado e o deus Voton (Odin) bebe das águas do conhecimento e retira um galho da árvore do mundo, vimos o nibelungo Alberich roubar das náiades (belas sereias) o ouro do Reno (um rio que atravessa a Europa de norte a sul). Com o ouro do Reno, Alberich, ao abdicar do amor, forja o anel que o tornará o senhor dos nibelungos, dando a ele grande poder. Os deuses cruzarão o caminho de Alberich quando Voton, ao ser aconselhado pelo deus Logé (Loki), precisará do anel do poder para pagar uma aposta com dois gigantes que construíram um suntuoso castelo (Valhala).

Ou seja, a obra de Wagner, consequentemente de Russell, adapta em muito a mitologia nórdica, trazendo Odin, Thor, Loki e outros deuses para essa grande trama de nascimento e morte. Por opção dos editores do Pipoca & Nanquim, os nomes foram mantidos conforme o original americano, mas a percepção do leitor que conhece o mínimo da mitologia envolvida já basta para que se identifique os personagens envolvidos.

 

A obra, que possui quatro partes, foi publicada originalmente nos Estados Unidos da América pela Dark Horse, onde ganhou o prêmio Eisner, o oscar dos quadrinhos, sendo o volume único agora publicado pela editora brasileira Pipoca & Nanquim.

É uma excelente oportunidade para o leitor conhecer essa adaptação da ópera de Wagner, com o belos desenhos e narrativa de Russell. Ao contrário do que pode pensar o leitor que está esperando falas complicadas em versos ou algo do tipo, o texto está muito fluído e compreensível. Dessa forma, quem ler esse trabalho conhecerá a maldição do anel, a saga de Voton, a sina dos irmãos apaixonados Siegmund e Sieglinde, a história da valkiria Brünnhilde e do herói Siegfried, tudo mostrado em belos desenhos e em boas sequências de quadros, afinal, quem for ler os extras dessa edição se deparará com a forma de trabalho de Russell, que teve todo o cuidado de compor os quadros do quadrinho enquanto pensava nas notas musicais, em seus momentos mais tensos e de calmaria.

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Será uma excelente leitura para quem não conhece mitologia ou ópera, já que estará diante de uma excelente narrativa. Porém, para quem conhece a obra de Wagner e os mitos nórdicos e alemães, a obra de Russell é um verdadeiro deleite, tornando essa uma das adaptações mais perfeitas da saga do anel (e quem lembrar de O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, não estará enganado, já que o escritor bebeu muito da fonte do conhecimento da obra de Wagner para escrever a saga de Frodo e do Um Anel).

 

 

A edição nacional mantém o elevado nível de outras publicações da editora Pipoca & Nanquim. O volume conta com duas introduções, uma de Michael Kennedy e outra de Matt Wagner, com as capas originais americanas, os relatos e esboços do próprio Russell ao adaptar O Anel do Nibelungo e uma pequena biografia do Autor. O cuidado da editora foi grande nessa obra de mais de 400 páginas, já que colocaram até mesmo uma fita azul para marcar as páginas no momento da leitura.

 

 

Uma adaptação magistral para uma da óperas com uma das narrativas mais impactantes e complexas de todos os tempos. Essa é uma definição simples de O Anel do Nibelungo por P. Craig Russell. Tudo isso publicado em um quadrinho com acabamento caprichado em mais de 400 páginas. O leitor não teria o que pedir mais de uma das melhores leituras do ano. Afinal, se em uma simples resenha não pôde caber toda a complexidade da obra de Wagner, em um belo quadrinho coube uma estupenda adaptação.

 

 

Ficha Técnica

  • Capa dura, com 448 páginas
  • Editora Pipoca & Nanquim
  • Lançamento em setembro de 2018
  • Preço de capa: R$ 109,90
  • Tamanho: 26,6 x 17,4 x 2,8 cm
Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.