A busca por novas definições e vivências para a velhice vem calcada nas transformações sociais ocorridas nas últimas décadas, marcadas pelo envelhecimento populacional. Fenômeno observado em diversos países, a inversão da pirâmide etária tem sido alvo de diversas análises, seja pelo prisma econômico, social, político, entre outros.
Diante deste quadro, muito se fala sobre uma “reinvenção” da velhice em curso. Mas há realmente algo de novo em ser, hoje, um velho? Os avanços da medicina estão mesmo tão avançados a ponto de transformar o estado de uma idade avançada? Quais as permanências e mudanças no que se passou a ser chamada como “terceira idade”? Ou este seria apenas mais um elemento discursivo, entre tantos, que pretende desconstruir a experiência da velhice?
O livro “Novos Velhos”, publicado pela editora Record, debate as transformações na vivência do envelhecimento.
Interessante observar como a arte tem retratado esses novos tempos. No cinema, o filme “Um senhor estagiário”, estrelado por Robert De Niro e com direção de Nancy Meyers apresenta um viúvo de 70 anos que postula e consegue a vaga de estagiário numa empresa moderna capitaneada pela personagem de Anne Hathaway. Aqui encontramos uma face solar da velhice, em que a sabedoria conquistada com a idade é bem-vinda por todos e as relações inter-geracionais se dão em perfeita harmonia.
É um retrato diametralmente oposto ao exposto pelo americano Philip Roth em seu romance “O animal agonizante” (adaptado para o cinema, por sinal; com Ben Kingsley e Penélope Cruz nos papéis principais). Em suas páginas, a velhice se retrai por inabilidade e insegurança, anulando seus próprios desejos quando o caso de amor entre um professor e sua aluna enfrenta o preconceito de outros ao redor, motivado pela diferença de idade.
Cena do filme Um Senhor Estagiário: a sinergia que nasce da relação inter-geracional
Já o seriado “O Método Kominsky” costura com eficiência as duas visões à medida que explora temas por vezes espinhosos, mas sem perder o humor. Se a primeira temporada, sobre a qual falamos aqui, serviu com uma apresentação satisfatória e estimulante da relação de amizade entre Sandy (interpretado por Michael Douglas) e Norman (papel de Alan Arkin), a segunda leva de episódios começa mais “azeitada”, aprofundando tramas a partir dos eventos já mostrados.
Entre as novidades, temos o namorado de Mindy surgindo em cena, um homem mais velho que acaba criando uma identificação com seu pai pelas experiências similares de vida; a saída de Phoebe da reabilitação e seus esforços para finalmente se entender com Norman; e Lisa propondo um relacionamento mais leve e descompromissado a Sandy. As atuações seguem espontâneas e bem afinadas, muito por conta de um roteiro que traz o melhor de Chuck Lorre.
Sandy precisa lidar com novas formas de relacionamento propostas por Lisa
Famoso por suas produções para televisão como “2 homens e meio” e “The Big Bang Theory”, Lorre explora com eficiência a capacidade de seu elenco, abordando ao longo dos oito episódios temas caros à velhice com sensibilidade e destreza. Se Sandy enfrenta dificuldades em lidar com a proposta de “amizade colorida” que Lisa lhe faz, Norman retrata as barreiras de se criar intimidade com uma nova parceira a certa altura da vida, ao iniciar um namoro com uma antiga paixão da juventude.
O criador Chuck Lorre conversa com os protagonistas Alan Arkin e Michael Douglas
O peso da memória e os famigerados problemas de saúde também ganham destaque, com o diagnóstico abrupto que um dos protagonistas recebe, reverberando de maneira significativa junto ao espectador no entendimento sobre o tempo e tudo o que vivemos.
Contando mais uma vez com participações especiais hilárias, como a de Kathleen Turner, “O Método Kominsky” continua com tom e ritmo calibrado, reafirmando-se um seriado com fôlego para seguir adiante. A esperar pelo anúncio de uma terceira temporada agora.
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