Há um encanto no filme Sergio, o retrato narrativo do documentarista Greg Barker sobre o diplomata brasileiro da ONU Sérgio Vieira de Mello, uma narrativa dramática de uma vida que ele já trouxe à tela em um documentário de 2009 com o mesmo nome.
(Obs: Você pode nos ajudar a manter nosso site e podcast no ar e ainda concorrer a brindes e sorteios através de nossa campanha de financiamento coletivo. Para saber mais, clique aqui).
O conhecimento de Barker sobre a vida e as realizações de Sérgio é baseado em um claro respeito por quem ele era e, por isso, embora o filme seja tenha bastante detalhes sobre a vida do brasileiro, como seria de esperar, também está enraizado no desejo de Baker de mostrar sua humanidade, dentro e fora do trabalho, além de incluir uma tragédia romântica, talvez também como uma maneira de diferenciar seus dois trabalhos sobre a mesma pessoa.
Sergio estreou no festival Sundance no início deste ano com uma atenção mínima de público e crítica que estava no evento e agora finalmente chegou de forma suave na Netflix três meses depois. E se você não assiste filmes dramáticos, o filme não aparece para você.
Sergio é uma combinação eficaz de duas linhas distintas de fazer cinema em fatos, apela para a consciência humanitária e o coração. O filme começa em 2003 e Sérgio (Wagner Moura) está chegando ao Iraque com uma tarefa invejável e ao mesmo tempo complexa pela frente. Nomeado como representante especial do secretário-geral da ONU, ele esperava preencher a lacuna criada pelas forças americanas, para garantir ao povo que a democracia estava a caminho. Mas logo que inicia seus trabalhos, um ataque terrorista atinge a sede da ONU e deixa Sérgio preso sob os escombros. O roteiro, do escritor do filme Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2014) Craig Barton, nos leva de volta ao trabalho que o levou ao Iraque e à mulher que estava lá ao seu lado.
A forma que a narrativa mostra o mundo que ocorrem os fatos e a mudança de tempo na maior parte do filme são engenhosos, especialmente quando usados para nos mostrar um ato melancólico sobre o Brasil, mas também pode ser igualmente frustrante, já que esse tipo de narrativa fica puxando o telespectador para frente e para trás na linha temporal do filme. Isso me confundiu um pouco compreender a importância e força que o Sérgio de Mello tinha dentro da política de paz mundial.
Tão compreensivelmente admirados pelo tema, Craig Barton e Greg Barker – até os nomes têm as mesmas grafias de leitura – às vezes se sentem inseguros sobre a melhor maneira de ilustrar exatamente o que Sérgio Mello fez e como ele fez. O seu trabalho altamente considerado e importante no Timor-Leste é dividido em traços digeríveis e amplos, que muitas vezes são contrários ao seu romance crescente com a colega de trabalho Carolina Larriera, interpretada pela nova estrela do cinema Ana de Armas.
É o relacionamento deles que, em última análise, impulsiona a maior parte do filme, muitas vezes em detrimento ao que acontece ao redor e sobre a história contada, além disso, existe uma potência visual na conexão entre os dois personagens e atores. A química entre Wagner Moura a Ana de Armas é visceral de assistir e enquanto o roteiro de Barton pode se inclinar bastante no romance, ele não romantiza o ambiente, ao contrário de catástrofes com temas semelhantes como foi em Amor Sem Fronteiras (Beyond Borders, 2003) e The Last Face, 2016. É também na vida pessoal de Sérgio que aprendemos suas falhas menos digeríveis e o filme não se esquiva de mostrar como alguém tão empático e nobre em sua vida profissional pode ser alguém tão ausente e quase não se importando com sua família.
Wagner Moura é um monstro brasileiro que domina a tela completamente e tem um encanto instintivo que funciona para explicar por que Sérgio era tão respeitado e admirado, mostrando as facetas do homem que sempre foi calmo tanto em reuniões importantes com líderes mundiais ou enfrentando explosões terroristas. Quando chega na parte final do filme, Moura mostra porque é um dos atores mais importante de sua geração.
O romance abrangente e emocionante do último ato pode não funcionar para alguns, que poderiam argumentar que seu domínio deixa lacunas na vida profissional de Sérgio, mas contribui para um final emocionalmente satisfatório. Na segunda tentativa de Barker de celebrar a vida de Sérgio, é o coração que vence no final.
Você pode nos ajudar a manter nosso site e podcast no ar e ainda concorrer a brindes e sorteios através de uma campanha de financiamento coletivo. Para saber mais, clique aqui.
É um filme sobre um brasileiro que talvez tenha sido o último homem bom a andar na terra. Mesmo com alguns percalços, é sobre dignidade e isso está em falta hoje. Recomendo. Está disponível na Netflix.
Você pode gostar: 10 códigos de condutas moral de personagens icônicos que envelheceram rápido
Apoie a Quinta Capa, clique no banner abaixo:
Leave a Reply