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Sim, pessoas negras consomem cultura pop japonesa

João Luiz BBB21
Imagem cedida pelo Twitter do João Luiz, ex-Big Brother Brasil 2021.

Pessoas negras tem o direito de consumir cultura pop japonesa como todo mundo.

Quase sempre alguém comenta “Nossa, eu não sabia que negros gostavam de anime”, isso acontece mais vezes que você possa imaginar. No twitter, a rede social que eu mais tenho acesso, isso é diário – e nem quero imaginar o que acontece nas outras redes sociais. Apesar de estarmos em 2021 e de pessoas ao redor do mundo curtirem anime, mangá e cosplay, ainda é de, alguma forma, surpreendente para muita gente que os negros gostem de cultura pop japonesa. 

A cultura pop japonesa é um fenômeno psicossocial (para saber mais sobre isso, leia este artigo aqui). Um fenômeno que já vem sendo estudado por teóricos há anos, sendo um ponto comum entre todos é que foi graças a relação ao mundo das comunicações de massa que fizeram este fenômeno explodir em todo o planeta, ou seja, apesar da cultura pop japonesa inserir e englobar o passado e presente do japão em suas dinâmicas e mídias (cosplay, anime, mangá e games), as pessoas absorvem e a consomem de uma forma quase orgânica.

Acredite ou não, os negros amam a cultura japonesa há muito tempo. Houve muitas inter relações entre a cultura negra e a cultura japonesa. Algumas pessoas falarão: “Os japoneses amam basquete e os negros amam filmes de artes marciais.” Também. O Basquete americano foi uma porta de entrada entre as duas culturas. Quando Kareem Abdul Jabbar enfrentou Bruce Lee em Jogo da Morte, milhões de negros ficaram maravilhados com Bruce Lee e milhões de japoneses ficaram maravilhados com Kareem. 

Mas onde é ponto que faz esses acontecimentos ligarem a cultura pop japonesa  em si? Bem, na verdade, é algo bem simples: pela música. 

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Já ouviram falar do grupo Wu-Tang-Chan? Eles foram a referência do rap de nova york e suas músicas tinham grande influência da cultura pop japonesa. Kanye West sempre comenta que o anime ‘Akira’ é a sua ‘maior inspiração criativa’. Claro, estou colocando exemplos simples que grande parte das pessoas já sabiam, mas da mesma forma que negros da periferia que mostravam sua cultura pela músicas que criavam, a cultura pop japonesa foi de grande influência para que isso tenha acontecido, o feedback do lado de lá também é real.

Nas últimas décadas, vários autores de mangás, artistas de games e músicos utilizam ou fazem referência à cultura negra nas suas obras, não apenas negras, mas também de diversas outras etnias. Existe uma mutualidade cultural aqui e que muita gente não consegue enxergar pelo simples fato de serem racistas.A música foi apenas um dos fatores, mas como foi muito forte esse movimento cultural, ele serve como um bom exemplo.

Os japoneses amam a cultura negra. Na verdade, existe toda uma subcultura japonesa dedicada a imitar tudo na cultura negra, desde os estilos de cabelo até a música e as roupas. Você acha que estou brincando? Assista esse video.  Então pergundo de novo: Por que negros não podem amar a cultura pop japonesa? Já ouviram falar do movimento B-stylers?

Deixe-me perguntar de uma forma mais global, por que alguém de fora do Japão gosta de anime? Por que alguém fora da América gosta do Superman? Não sei. Talvez seja apenas um bom entretenimento. É entretenimento. Raça não tem nada a ver com entretenimento. É como perguntar “Por que os brancos ouvem rap?” Eu só quero curtir e consumir cultura pop japonesa como as outras pessoas. E isso não deveria ser explicado.

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A capa deste texto de opinião, é a tatuagem do professor João Luiz que participou até ontem do BBB21. A frase é um pedaço da música da rainha negra Elza Soares chamada “Negrão Negra”.

Eu me chamo João Luiz e também sou professor de Geografia. E o João lá como o João aqui, luta todo dia por respeito, que se posiciona diretamente no combate ao racismo, que lutou no maior programa do Brasil sobre seu cabelo, sobre como isso é importante ser dito, ser o que você quiser. Ele mostrou que podemos falar sobre cultura pop, que podemos escrever sobre qualquer coisa. Somos negros, mas isso não significa nada e brigamos bravamente por respeito.

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.