Na última sexta feira (dia 10) aconteceu o pré-lançamento do filme Unicórnio, com a presença do diretor Eduardo Nunes, conforme divulgamos aqui.
Já é a sétima Sessão com Debate que o Cinemas Teresina oferece ao público teresinense e foi uma exibição especial, com sala cheia. Dava para perceber a felicidade nos rostos de Douglas Machado (curador do cinema) e do próprio Eduardo Nunes, muito acessível e tirando fotos com o público antes mesmo das filas se formarem.
Douglas Machado apresentou ao público o estilo de cinema de Eduardo Nunes, citando o livro “Esculpir o Tempo”, de Tarkovski. E, mesmo conhecendo Andrei Tarkovski apenas de nome, já pude imaginar o que “Unicórnio” seria: um filme longo, com lentos travellings, com cortes pontuais… E era isso mesmo, mas não apenas isso.
Ainda antes da exibição, Eduardo Nunes nos adverte que o filme quase não tem diálogos e que não tentou fazer uma adaptação literal dos textos dos textos de Hilda Hilst, mas apenas uma equivalência do que havia lido, advertiu que há sensíveis diferenças. Pediu, inclusive, que o público se deixasse levar pela narrativa, que pudesse experimentar a busca sensorial que o filme procura.
De fato, o filme busca a imersão do espectador. Por ser muito silencioso, todo o som ambiente do filme é realçado: os ventos, os pássaros, as folhas farfalhando, as águas golejando. A fotografia, ora muito aberta, ora muito fechada, oscilava entre um mundo colorido de grandes paredões ou campos abertos, com minúsculos personagens em cena, e em detalhes muito próximos, com uma zona focal muito curta.
Existe algo de encantador nas imagens do longa. “O filme é bem artesanal. As cores são todas retocadas à mão”, afirmou Eduardo Nunes, como que realçando nas matizes da “película” o caráter de fábula que a narrativa tem, afinal “a primeira cena é um unicórnio. Depois disso, a gente pode fazer qualquer coisa”, inclusive saturar as cores, dando certo ar fantástico à projeção.
Mas, afinal de contas, do que trata as mais de duas horas do filme? Novamente, Eduardo Nunes provoca: “não é fácil. É um filme longo que trata de temas difíceis. Se tiver de sintetizar, diria que é sobre a descoberta da sensualidade”. Não é mesmo um filme fácil, mas é justamente este tipo de arejamento visual que Douglas Machado procura nessas sessões especial que o Cinemas Teresina propõe: algo diferente, um ponto fora da curva. Engraçado comentar isso porque Eduardo Nunes disse que adora todo tipo de cinema e que está empolgado para ver Megatubarão. Deve haver espaço para todos os tipos de cinema.
Mas, voltando, como eu escreveria uma sinopse? Unicórnio é um filme que trata do relacionamento de mãe e filha, que se descobrem vivendo sozinhas em casa, na ausência de uma figura masculina, que faz muita sombra, principalmente sobre a menina, uma garota de 13 anos, com enormes saudades do pai. Neste cenário, surge um vizinho, um criador de cabras exótico, que começa a despertar olhares da mãe e curiosidade da menina, que não sabe direito como reagir aos próprios sentimentos, diante de um novo homem tão próximo, ou dos ciúmes que ele desperta tanto sobre à mãe quanto à memória do pai. É neste lento desenrolar, que Eduardo Nunes vai construindo uma história ao mesmo tempo bucólica e bizarra, com suas estranhezas abertas a várias interpretações.
Outro destaque fica por conta dos atores Patrícia Pillar, Zé Carlos Machado, Lee Taylor e, principalmente, para a estreante Bárbara Luz, que tinha os mesmos 13 anos da personagem que interpretou, ou seja, passava pelas mesmas “descobertas sensoriais” (como diria Eduardo Nunes) mas não se deixou sair do papel, levando com singela naturalidade os problemas que enfrentava.
Eduardo Nunes disse que “espera tudo do público, inclusive que ele saia da sala. Tudo bem. Às vezes, a pessoa não está no tempo de se deixar levar…”
Deixe-se!
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