Dentre os diversos gêneros narrativos, o Terror é certamente o meu preferido. No entanto, preciso reconhecer que assisti mais filmes do que propriamente li obras do tipo.
Atualmente, dentro deste nicho, algumas editoras fazem um ótimo trabalho ao lançar edições caprichadíssimas de autores clássicos como H.P. Lovecraft, Edgar Allan Poe, Mary Shelley, Bram Stoker, dentre outros, ajudando assim neófitos neste tipo de literatura a encontrar títulos que antes eram artigos raros nas livrarias.
Dentre os citados, o americano H.P. Lovecraft é meu favorito e o que escolhi para a resenha deste Janeiro Literário. Seus textos renderam boas adaptações no cinema como Re-animator, filme que “gelava” minha espinha na adolescência, fazendo com que o nome do autor ficasse gravado em minha memória para sempre.
Ano passado, finalmente adquiri uma compilação de seus contos que traz justamente uma de suas obras mais icônicas: “O chamado de Cthulhu”, que nos brinda com duas das mais fantásticas criações que ainda hoje são reverenciadas na cultura pop: o Necronomicon e Cthulhu.
Coletânea do autor americano lançada pela editora Hedra
Desde cedo Howard Phillips Lovecraft desenvolveu seu gosto pela literatura influenciado por familiares. Temas que iam da filosofia, passando pelo gótico até a astronomia moldaram sua escrita, desenvolvida nos períodos de isolamento causados por surtos depressivos ocasionados por sua frágil saúde e tragédias familiares.
Em “O chamado de Cthulhu” temos sua masterpiece, sua tour de force; responsável por criar uma mitologia própria relacionada aos Grandes Antigos, criaturas cósmicas monstruosas que estavam em nosso planeta antes de qualquer forma de vida habitá-la. Cthulhu, um gigantesco monstro antropoide-octopoide com corpo de dragão, seria um dos líderes dos Grandes Antigos e o responsável pelo despertar de todos os outros seres em um determinado alinhamento estelar.
O conto é dividido em três partes e narrado em primeira pessoa. Nele, temos a descoberta de documentos e um baixo relevo de argila com a monstruosa figura talhada, além de estranhas inscrições em uma língua desconhecida. Tal achado é feito pelo sobrinho-neto do professor e arqueólogo George Gammel Angell, que herda dele todo esse material após sua morte. A partir daí um terrível quebra-cabeças começa a ser montado com a junção de várias pistas encandeadas por estranhas coincidências, que nos levam a rituais macabros, loucura, histeria em massa, expedições em alto mar e o conflito entre o humano e o mal inominável supremo na forma de Cthulhu.
Representações artisticas da criatura mitológica criada por Lovecraft
O ponto alto deste conto, escrito em agosto de 1926 e publicado em fevereiro de 1928, é sua narrativa permanecer atual. Podemos jogar a história em qualquer década que ela se adapta perfeitamente. Outro destaque é a construção de uma mitologia centrada em monstruosas entidades cósmicas que acabam aparecendo em contos posteriores a este.
Ainda que imerso em um mundo de ficção, seus contos refletiam uma visão particular da humanidade ao nos colocar como criaturas insignificantes perante o universo (representado na forma dos deuses monstros) ou, em suas palavras, “incidentes passageiros”.
Infelizmente, Lovecraft não teve reconhecimento em sua época e esta leva derradeira de contos envolvendo os mitos de Cthulhu não passou de três. Como se não bastasse uma vida de agruras, onde a escrita foi o seu refúgio, acabou falecendo aos 46 anos vítima de um câncer no estômago.
Os diretores Jordan Peele, responsável pelo elogiado Corra!, e J. J. Abrams, que capitaneia os novos filmes de Star Wars, estão encabeçando a adaptação do livro “Lovecraft Country”, de Matt Ruff, em formato de série pela HBO com uma estória que mistura o contexto da segregação racial dos EUA da década de 50 com mistérios sobrenaturais para estrear este ano.
Como se pode ver os tentáculos do legado lovecraftiano ainda nos assombrarão por gerações.
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