Breve romance de formação, retrato das aguras do que uma paixão provoca, quanto mais num coração jovem, puro, inquieto e sonhador como o de Vladímir Petróvitch. “Primeiro amor” (Companhia das Letras, 112 páginas, R$ 34,90) do russo Ivan Turguêniev é, em síntese, aquilo que o título revela: uma narrativa envolvente sobre a força de um sentimento vivido pela primeira vez; a alucinação que causa, o desconserto, a rendição, o encanto.
Visto em perspectiva, o relato que nosso protagonista entrega adquire forma e cor aos nossos olhos conforme traça, com astúcia e precisão, o cenário onde os fatos ocorrem – uma casa no interior – para onde se muda o jovem Vladímir, então com 16 anos, e seus pais, aparentemente presos num casamento de conveniências.
Algum tempo depois a casa aos fundos é ocupada por uma princesa quase falida e sua filha, Zinaida, um anjo alvo por quem nosso protagonista queda numa paixão absoluta. Mas as coisas não serão fáceis: Zinaida, mais velha, não o enxerga propriamente como um homem; ademais, o séquito que monta em seu entorno, disputando atenção, acaba criando barreiras e entraves.
Acompanhamos a situação desenrolar-se por dias a fio, um amor fogoso a brotar no coração de Vladímir, o brilho nos olhos cinzentos de Zinaida, enquanto paralelamente desenrola-se um drama familiar, silencioso, velado pela discrição aristocrática, entre o pai de Vladímir, uma figura austera e pouco presente, e sua mãe, irritadiça e controladora.
O intricado jogo de sedução proposto por Zinaida, envolvendo sinais obscuros, palavras sussurradas e submissão aos seus caprichos, acaba arrastando nosso protagonista para uma trilha onde a maturidade desponta como única saída para seus conflitos.
O segredo de Zinaida, verdadeiro choque de realidade para o idílio juvenil de Vladímir e que encaminha o desfecho, é uma prova de que, para Turguêniev, nunca estaremos livres da brutalidade do amor. Em todas as suas dimensões.
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