Sam Levinson trouxe um drama sombrio da adolescência que é implacável em sua representação de certos elementos comportamentais e serve como um aviso para todos nós, tão difícil de assistir que ficamos entorpecidos no final da temporada. Com vocês, Euphoria.
Euphoria é uma história assombrosa, dolorosa e pessoal em sua cerne, bem como a performance assombrosa, dolorosa e avassaladora de sua estrela maior, Zendaya. Ela interpreta Rue Bennett, de 17 anos, uma adolescente em crise e viciada em drogas. Voltando de sua reabilitação, depois que sua irmã mais nova encontrar ela coberta de vômito por causa de uma terrível overdose de drogas. Rue sabe que é uma viciada e o mais dolorido é que ela ficou resiliente sobre isso. Ao longo dos primeiros quatro episódios, Rue repetidamente se coloca em situações perigosas, tudo em busca do sentimento fugaz de – não euforia, de sentir mais nada; uma ausência da existência sombria que vem transformando sua vida em algo difícil de continuar.
Zendaya é excepcional em cada cena. Acrescenta uma leveza de cortar o coração a momentos em que sua adolescente em espiral se sente invencível em vez de frágil, e o modo como ela carrega uma série dramática, sua história, nos domina de uma forma avassaladora. Você sente muito por tudo que Rue passa e fica surpreso com ela, o que não é fácil.
Mas a autenticidade de seu trauma é subjugada por diversas outras histórias dolorosas. Como Rue, o drama da HBO de Sam Levinson é mais difícil do que se pode mastigar – ou, melhor dizendo, é mais difícil do que o público conseguirá lidar. Quando a coisa se expande para além do arco de Rue, no caso, seus colegas problemáticos do ensino médio, a representação inabalável de “Euphoria” de eventos adolescentes pesados e agitados cria uma experiência cansativa e exasperante. Apesar de todas as suas transições incríveis, ritmo propulsivo e estilo visual dinâmico, Levinson – que dirige cinco dos oito episódios, com Augustine Frizzell dirigindo o episódio piloto – não consegue escapar da escuridão coletiva no centro de cada história individual. Separados, eles são angustiantes. Juntos, eles são terríveis e devastadores.
No entanto, em uma justaposição estranha, “Euphoria” é principalmente uma história de amor. Quando Rue sai da reabilitação, ela logo encontra, Jules (Hunter Schafer). Uma garota transexual que acabou de se mudar para a cidade, Jules carrega sua própria bagagem dramática – ou seja, ela é atraída por homens muito mais velhos e abertamente homofóbicos – mas ela e Rue se dão bem imediatamente. Cada uma está tentando descobrir quem elas são, e nenhuma delas teve um parceiro no crime até aqui.
Além de suas próprias ansiedades compreensíveis, barreiras e gatilhos mentais, os colegas de classe com os quais elas não conseguem ter uma conexão mais íntima também dão um grande show na série. Em destaque está o símbolo convencional de perfeição do ensino médio: o zagueiro e estrela do time, Nate Jacobs (Jacob Elordi). Nate é popular. Ele é alto, bonito e bem de vida. Sem Nate, as festas não são as mesmas, onde ele faz o que a maioria dos atletas adolescentes faz, sejam eles pressionados ou não: ele bebe, mostra seus músculos e fica com a garota mais sexy que consegue encontrar.
Normalmente, isso significa que Maddy (Alexa Demie), namorada de Nate, sofre por isso, mas ela, está apaixonada demais para não lutar por Nate. Ele não é exatamente bem uma pessoa ajustada. Seu passado sombrio o levou a um presente ainda mais sombrio, e o que ele gosta não é o que ele é conhecido publicamente. A história de fundo de Nate é mostrada no segundo episódio, e Levinson segue este modelo na série: Um personagem é apresentado como uma criança e desenvolvido através de montagem para explicar como eles acabaram sendo o adolescente que são hoje. A maioria dessas histórias vai do chocante ao chocante, seja passado ou presente, e elas se somam.
Em “Euphoria” não existe uma história triste que não pode piorar. Há cenas que você deseja nunca ter visto e muito menos refletir sobre elas. Sexo com um menor ocorre no primeiro episódio. Um homem de meia idade se masturba via webcam na frente de uma adolescente. Na verdade, existem diversas cenas explícitas, todas elas são inquietantes. Existe até algumas cenas que foram retiradas por que eram mais chocantes.
Mas cada cena e momento é feito para refletir a verdade de alguém. “Euphoria” é um drama teen que realmente se esforça para ser honesto dentro de uma perspectiva adolescente – mesmo que elas sejam as piores experiências adolescentes que você pode imaginar. Na verdade, a série não esconde que isso é mais real que possamos lidar. A HBO sabia o que estava fazendo quando produziu a série. A realidade é brutal. Lembre-se de quando você tinha 15 anos, todo flerte ou insulto parecia vida ou morte? É como vai se sente ao assistir “Euphoria”, embora esse tipo de assunto que precisava ser trivial, não seja mencionado pela família tradicional.
Para alguns, “Euphoria” será uma experiência extremamente desagradável. Para outros, pode ser catártico. Esteticamente, é extremamente nítido. Levinson se move suavemente de assunto para assunto, evento para evento, com toques habilidosos espalhados por toda a série. O quarto episódio é uma obra-prima de como se fazer uma cena com apenas uma tomada. Há uma construção constante em não deixar a coisa clichê. Levinson não tem medo de simbolismo evidente.
Apesar de todo o comando que Levinson tem sobre sua estética de contar histórias, Zendaya é o raio de sol abrindo as nuvens tempestuosas. Seu papel é rico, autêntico em cada cena, mesmo que seja sobre a ótica de uma adolescente caindo no caos e trevas do mundo das drogas, é preciso aproveitar as cenas dessa jovem atriz. O melhor que podemos fazer é sentir empatia por essas crianças. Se para ajustar alguma coisa, “Euphoria” poderia ter uma visão mais otimista, um pouco de senso humor e até mesmo um vislumbre de bondade. Porém, só sentimos trevas, impacto e uma conexão dolorosa de Rue que parece que não terá paz.
https://youtu.be/3nVkTkS2hHY
Veredito
Apesar de tudo, existe um brilho na série. Ela é causadora de diversas polêmicas nas redes sociais. Mas arte surgiu para isso mesmo: criar reflexões. “Euphoria” implica repetidamente que esta é uma questão crucial para os adolescentes e para a sociedade em 2019, que interpretamos erroneamente símbolos e sinais óbvios, ou simplesmente os ignoramos inteiramente.
É uma das séries de 2019, HBO mais uma vez acertou em cheio e vem fazendo o que os outros canais e serviços de streaming estão com medo de mostrar. Euphoria está em exibição na HBO.
2 Comments