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DICA DE LEITURA | CHE (Héctor Germán Oesterheld & Alberto Breccia)

A biografia de Ernesto Rafael Guevara de la Serna, o Che, lançada pela editora Comix Zone em 2021, me fez perceber o quanto as feridas da América Latina ainda estão abertas e a convulsão popular nos países tropicais ainda nos mostra como a história da região é dinâmica.

Che, de Oesterheld e  Breccia
Che e Fidel se foram. A América Latina e seus problemas continuaram. Se cabe à história julgá-los, é dever dos vivos lutar por um futuro melhor.

Vamos começar esse texto sobre CHE, da editora Comix Zone, de forma clara e direto: sou de esquerda. Até hoje, sou filiado a apenas um partido, o PCdoB. Mas, quem me ouvia falar nos anos 2010, ou quem lesse o que eu escrevia, juraria que sou de direita. Eu entendo isso, porque eu metia muita pancada nas atitudes da esquerda no poder, em especial nos anos Lula e Dilma.

Não era o ideal que era ruim, eram as ações. No meu entendimento não havia o investimento correto em educação básica para a população, apenas um acesso sem discernimento aos bens de consumo. E o resultado está aí, uma nação que caiu mansamente nas garras do fascismo em 2018, com ajuda da mídia, das redes sociais e de um judiciário viciado, como a história nos mostrou.

Viver esses últimos 3 anos sob um governo de extrema direita, como é o de Jair Messias Bolsonaro, me fez realçar o meu pensamento esquerdista, a necessidade de dialogarmos melhor com a população que não caiu na picaretagem que envolve liberdade apenas para quem tem dinheiro (dando a ela o direito de delinquir), ataque aos direitos humanos (quando esse governo sair, ainda teremos anos sombrios no que envolve direito do índio, da mulher e causas raciais) e a política de arma na mão do cidadão (apenas na daqueles que tem dinheiro e que querem ter sua opinião validada por um revólver na mão).

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E ler, CHE, da editora Comix Zone, meu terceiro quadrinho em 2022, me faz ter um misto de alegria, questionamento, revolta e esperança para o futuro.

Che, de Oesterheld e Breccia
Transitando entre o passado de Guevara e sua última luta na Bolívia, a biografia de Che Guevara, por Héctor Germán Oesterheld e Alberto Breccia, vai nos mostrando mais sobre o homem que inspirou a esquerda revolucionária no século XX.

A alegria vem por saber que os pensamentos de um homem que quer o bem ao próximo podem perdurar por anos. Inclusive, anos esses em que a sua imagem e ideias foram emporcalhadas por uma direita ofensivo.

Questionamento pelo fato de conhecer as ações de Ernesto Guevara e saber que ele errou, foi vaidoso e cruel em momentos, era humano afinal. Mas tinha uma ideia na cabeça em busca da revolução que influenciou toda uma geração, e essa geração foi a de meu pai, que também é de esquerda, tendo sido segurança de Luiz Carlos Prestes, em uma visita a São Luís.

Revolta por ver que as veias da América Latina ainda sangram pela exploração e desigualdade (mesmo muito de seus políticos sendo de esquerda!!!!!!! Como Venezuela e Nicarágua).

E é triste saber que Cuba ainda vive um embargo americano, que limita o desenvolvimento do país, mesmo com o fim da Guerra Fria há mais de três décadas. E, sim, o país tem graves problemas quando o assunto é direitos humanos, não vamos fechar os olhos.

E a esperança que esse quadrinho me trouxe é de que um futuro melhor é plausível. Pois, mesmo com seus autores tendo sido perseguidos (Oesterheld foi morto pela ditadura Argentina em 1978), e esse quadrinho sido censurado, sua mensagem e a biografia do CHE pôde chegar a tantos novos leitores.

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Já estou quase no fim do texto e não falei sobre o quadrinho em si, correto? Só falei sobre meus sentimentos ao ler esse baita trabalho da editora Comix Zone. Bem, façamos o seguinte, melhor texto não há do que o elaborado pela editora ao apresentar CHE:

Este livro é uma lenda. Publicada na Argentina em 1968, a primeira biografia em quadrinhos do revolucionário Che Guevara vende 60 mil exemplares em poucas semanas e logo desperta a atenção dos militares que se sucedem no comando do país. Em 1973, Che é proibido. As cópias restantes são destruídas e as pranchas originais, queimadas. Os autores, três mestres dos quadrinhos mundiais, acabam na mira dos reacionários. Ameaças sem consequências até que, em 1977, o nome do roteirista Héctor Oesterheld, devido ao seu comprometimento político, acaba na longa e sangrenta lista de desaparecidos da ditadura argentina. O livro se torna, assim, um verdadeiro objeto de culto – amaldiçoado, precioso e inalcançável – até reaparecer na Espanha, 20 anos depois. Hoje, Che retorna em uma edição que injeta sangue novo na veia revolucionária desta obra: uma joia em que os diários de Guevara e as palavras de Oesterheld se fundem à arte dos Breccia e ecoam como um pungente grito de guerra.

Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.