No imaginário popular, animais antropomórficos são relacionados a contos lúdicos com mensagens edificantes. Jason tem uma leitura pessoal dessas criaturas, uma vez que suas histórias, embora longe de qualquer moral, buscam também um final feliz. “Eu matei Adolf Hitler” (Editora Mino, 48 páginas, R$ 46,00) é uma prova de suas boas intenções e, de quebra, excelente porta de entrada para quem deseja conhecer o autor. Narrativa curta, ágil, exibe um traço econômico e carente de plasticidade, mas que ecoa o roteiro preciso e funcional.
Aqui, temos uma realidade em que a carreira de matador de aluguel segue em alta, com os profissionais agindo sem qualquer constrangimento ou sigilo no dia a dia para cumprir os contratos. Nosso protagonista, sem nome, é aparentemente um nome forte no mercado, com clientela numerosa e muitos alvos para eliminar. Mas o sucesso no trabalho não se reflete no amor, e o fim de seu relacionamento o abala de certo modo. É quando um cientista o procura para um serviço peculiar: viajar no tempo e assassinar Adolf Hitler.
O inusitado é trabalhado de forma engenhosa, com um lapso temporal que não permita a coexistência de duas versões do mesmo personagem. Mesmo assim, nosso pistoleiro não previu os riscos que corria ao recuar para o ano de 1938, pois, ao falhar na missão, acaba preso no passado, enquanto Hitler, investigando o maquinário singular que realiza o translado temporal, acaba vindo para nossa época.
Poderia uma paixão sobreviver por tanto tempo? É a questão que Jason explora a partir desse ponto, ao colocar um homem que esperou por décadas para concluir um serviço no caminho de uma mulher que pensava tê-lo superado, ainda que a distância não lhe parecesse tão grande. Formando uma inesperada parceria, procuram Hitler no presente enquanto refazem, com parcimônia, os laços que outrora os uniu.
De repente, ao perceberem que a tarefa de eliminar no presente um perigo que, de fato, não existira no passado, poderia ceder espaço para outras prioridades, a vida se revela maior e cheia de possibilidades. E fica a questão: seria possível recomeçar quem tem todo o passado pela frente?
É por despertar reflexões assim que Jason se revela uma leitura surpreendente e digna dos prêmios recebidos, como o Eisner Awards.
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