Após mais de trinta anos, quando foi publicada pela editora Abril em 1990, na revista Classics Illustrated n° 1, a adaptação em quadrinhos do clássico Moby Dick pelas mãos de Bill Sienkiewicz volta ao Brasil, trazendo desenhos que são verdadeiras pinturas abstratas para a história de obsessão do capitão Ahab em busca de seu monstro marinho.
Nos últimos anos, o leitor brasileiro teve contato com 4 obras que adaptaram o famoso livro de Herman Melville para os quadrinhos: Moby Dick de Chaboute, pela editora Pipoca & Nanquim; Mocha Dick, pela Conrad; o volume 5 de Ken Parker, com a história Caçada no mar, da Mythos; e Moby Dick de Bill Sienkiewicz, lançado pela @editoratremfantasma.
A história de obsessão do capitão Ahab, narrada pelo marinheiro Ishmael, em busca da baleia branca Moby Dick desperta o imaginário popular daqueles que veem o mar como a grande fronteira a ser desbravada. Se levarmos em consideração que o oceano foi o desconhecido entre os séculos XV e XIX, já que no século XIX a raça humana virou seus olhos para o espaço, não é de se estranhar o quanto o livro de Melville sintetiza essa busca pela aventura, pelo desconhecido e com um inimigo a ser batido, como a grande baleia branca é.
Na edição em formato gigante da editora Trem Fantasma, encontramos a adaptação que já estava há mais de 30 anos fora de catálogo no Brasil, quando foi publicado pela editora Abril em 1990. E conta com uma abordagem artística diferente dos outros títulos citados acima, aproximando-se mais do texto original. Moby Dick de Sienkiewicz possui a narrativa do livro, cortando os excessos, como as narrativas acerca da caça e da produção do óleo de baleia, com desenhos que são verdadeiras esfinges, para onde o leitor contemplará as páginas, devendo o leitor desvendá-las no meio da perturbadora história.
Como exemplo destas pinturas abstratas belíssimas do autor, o capitão Ahab tem várias páginas dedicadas a si, sendo retratado de varias formas. Em páginas tomadas pelas sombras, em outras, tomadas pela ira, os desenhos são verdadeiras pinturas que poderiam ser colocadas nas paredes e despertariam horas de contemplação. A aparição da fúria de Moby Dick é um desses quadros, em páginas dupla.
Porém, identifico um erro na adaptação de Sienkiewicz, que é no momento que a baleia afunda o barco Perquod. Para o tanto de dramaticidade que a obra carrega, esse momento chave parece ter sido esquecido, infelizmente. Nada que diminua o quadrinho, mas o leitor só sente o peso do acontecimento pelas palavras de Ishmael. E estamos falando de um quadrinho aqui. A obra é texto e imagem. negligenciar esse fato me causou incômodo.
E antes de encerrar este texto, cabe aqui um relato, como pessoa e leitor. Sou um apaixonado pelo mar, e seus mistérios. Nascido em uma cidade com praia e neto de um marinheiro, não poderia ser diferente. Tenho verdadeiro fascínio pelo tema, tanto que sou um fã incondicional de Tubarão, de Steven Spielberg, o qual assisto todos os anos, pelo menos, duas vezes.
E vamos ser sinceros, é uma adaptação até certo ponto da história de Melville e do navio Perquod. Então, poder ter acesso a várias adaptações em quadrinhos da história de Moby Dick é uma satisfação pessoal, que o belo volume da Trem Fantasma faz parte.
A carga religiosa da obra, o impacto dos quadros, e a força da obra original, transformam a edição da Trem Fantasma em algo indispensável aos leitores de quadrinhos, que tem sido agraciados durante os anos com várias interpretações do conto original de Herman Melville.
Leave a Reply