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Dica de Leitura | NÓS, OS MORTOS (Darko Macan & Igor Kordey)

Em Nós, os mortos, a dupla Darko Macan e Igor Kordey cria uma das histórias mais imersivas envolvendo colonização, cultura europeia e da América pré-colonial, em um quadrinho que poderia cair no lugar comum quando envolve apocalipse zumbi. Porém, a obra se debruça em temas muito mais interessantes do que uma praga que mudou os rumos do mundo.

Arte de Igor Kordey em Nós, os mortos

Leitura imersiva. É essa a definição que posso dar para Nós, os mortos. Não consegui parar de ler as 228 páginas até terminar. Por isso, é preciso contextualizar a obra pelo seu começo, onde, na tramam acompanhamos um mundo onde, no período da peste negra, a Europa sucumbe a uma praga zumbi. Mas não qualquer doença. Os humanos ainda pensam e são racionais, exceto quando encontram alguém vivo, que é quando a fome toma conta e eles viram selvagens.

Mas a fome é controlável. Porém, um outro mal surge daí: a imortalidade, que leva a estagnação. Os bebês nascem mortos e não há futuro. Houve uma parada forçada na história do mundo, que levou os europeus a nunca cruzarem os oceanos e colonizaram outros povos, no período das grandes navegações.

No quadrinho, nos é apresentado o continente americano sem a chegada dos europeus. E, sim, não ter sido colonizado mudou tudo na história não só da América. Mas uma coisa não mudou: a natureza brutal humana. Sai o colonialismo da Europa e entra a avidez Inca. Já começamos o quadrinho com o massacre do povo Lakota, nativos norte-americanos. Os Incas dormiram todas as tribos (inclusive, os Maias) e são a força colonizadora, inclusive tendo laços com Han (China).

Nous, les morts (Darko Macan & Igor Kordey)
E aí entra outro ponto Fantástico de Nós, os mortos, que é não se focar só na América e Europa. É uma odisseia por esse mundo novo, através dos olhos de um príncipe Inca e por um padre zumbi irlandês. Mas não só deles. A história é um desfile de bons personagens e situações.

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E o melhor, não se furta de esconder o que causou a praga zumbi. Ao contrário, mostra que o importante nunca foi o mistério, e, sim, as mudanças que essa doença causou e como o mundo pode mudar.

Reseña: Nosotros, los muertos (Darko Macan e Igor Kordey)
E aqui vai minhas desculpas ao desenhista Igor Kordey. Eu sempre o culpei pela cagada que foram os tapa-buracos nos desenhos da fase Grant Morrison nos X-Men. Os desenhos dele aqui estão muito bons quando falamos em cenários. Quanto aos rostos dos personagens, está tudo ok. Ainda acho ele um Richard Corben genérico. Mas é um trabalho muito competente em Nós, os mortos.

RESEÑA Nosotros los Muertos, de Igor Kordey y Darko Macan - Tomos y Grapas
Não sei de onde a Mythos achou Nós, os mortos, que era uma publicação europeia que passava longe do meu radar de leitor, porém, o trabalho se mostrou um quadrinho fantástico. A edição brasileira juntou os 4 álbuns europeus, que completam uma história fechada, transformando esse quadrinho em um dos melhores lançamentos do ano.

Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.