Sunny, de Taiyo Matsumoto, funciona muito bem por mostrar uma situação universal, pois, mesmo em uma cultura diferente da nossa, já que as condições de crianças órfãs e abandonadas sejam ligeiramente diferentes no Japão do que na nossa, a melancolia, o desejo de ser aceito e os problemas que a ausência dos pais causam às crianças do abrigo/escola Hoshinoko são um sentimento comum para quem busca ser aceito ou se pergunta do porquê ter sido abandonado.
É essencial esclarecer algumas coisas sobre a minha experiência na leitura de Sunny e os motivos de indicar esse mangá para os leitores da Quinta Capa. Em primeiro lugar, afirmo que demorei um tempo excessivo para terminar esse primeiro volume de três que a editora Devir lança no Brasil através de seu selo Tsuru, conhecido por trazer mangás em formato de luxo e que conta com grandes histórias do quadrinho japonês.
O motivo de tanta demora? Percebi que Sunny não era uma leitura que deveria ser feita às pressas, daquelas que o leitor vai terminar em dois ou três dias e já partir para a próxima história.
Essa percepção da obra veio ao notar que, por mais que existam vários pontos em comum e desenvolvimento de personagens, o trabalho de Taiyo Matsumoto nos 12 capítulos desse primeiro volume de Sunny nos permite absorver melhor cada personagem e seus anseios se nos forcarmos melhor naquela parte da história, com seus personagens e situações.
Sim, ocorrerá de mais de uma vez em que um personagem terá mais de um capítulo ou participará de uma história em conjunto durante a leitura. Mas essa experiência de ler mais devagar, lendo pausadamente, e absorvendo melhor a intenção do autor, me levou a gostar mais ainda de ter conhecido o mangá.
Mas longe de mim mandar em você, leitor, dizendo como deve ler os seus mangás. Só afirmei como a minha experiência melhorou e muito ao ir conhecendo os personagens aos poucos.
Outro ponto que quero deixar claro é que afirmo meu desconhecimento acerca dos lares de adoção e orfanatos. Tanto no Brasil, e, em especial, no Japão. E esse foi um dos fatores que me chamaram atenção em Sunny.
Taiyo Matsumoto produziu esse mangá seinen (voltado para um público leitor mais adulto) com base em sua experiência com lares adotivos, fazendo com que Sunny tenha muito de autobiográfico. E, sim, a situação de ver crianças já na casa dos 7 ou 10 anos serem colocadas em lares adotivos porque os pais não podem acompanhá-las me causou certo estranhamento, para não dizer incômodo. Desculpem a minha ignorância.
No começo, pensei que o lar Hoshinoko fosse uma lar para crianças que perderam os pais. Mas, com o desenvolvimento da leitura, vi que elas eram colocadas ali deliberadamente, sendo que os pais até as visitam, às vezes.
O que isso causa na cabeça de uma criança deve ser perturbador. E é muito bem retratado no capítulo onde Haruo vai visitar sua mãe em outra cidade, Tóquio. O garoto, por mais que queira controlar suas emoções para não chateá-la, não segura seu emocional ao implorar para morar novamente com sua genitora.
Sim, aguarde muitos momentos onde Sunny vai partir seu coração, por mais que alguns momentos de humor e o otimismo inerente aos jovens venham para quebrar a melancolia da obra. Melancolia essa reforçada pelo traço de Matsumoto e pela paleta de cores, sendo que o cinza será uma cor constante no mangá.
Sunny não é daqueles quadrinhos que acontecem em um período histórico específico e emocionam ao retratar o ocorrido naquela época. A obra de Taiyo Matsumoto é atemporal e universal, pois, ao focar no ambiente de jovens e crianças abandonadas, por mais que seja em um contexto social diferente, seus personagens tem uma voz que é a de milhares de filhos e filhas abandonados e que tem que encontrar novas emoções, seja o escapismo ou a solidão, e buscar soluções em um ambiente onde se viram sem seus pais e mães.
Gostou de Sunny e quer conhecer mais sobre o selo Tsuru, da editora Devir? Pois ouça nosso podcast clicando no link.
Você pode ler outras dicas de leitura do selo também em nosso site:
1 – O Homem Que Passeia, de Jiro Taniguchi
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