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Resenha | 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Arthur C. Clarke (Editora Aleph)

Texto de Thays Costa

A seca já durava dez milhões de anos, e o reinado dos terríveis lagartos há muito havia terminado. Ali no equador, no continente que um dia seria conhecido como África, a luta pela existência chegara a um novo clímax de ferocidade, e ainda não se sabia quem seria o vencedor. Naquela terra deserta e árida apenas os pequenos, os velozes e os ferozes conseguiram prosperar, ou sequer esperar sobreviver.

Os homens-macacos da estepe não eram nenhuma dessas coisas e não estavam prosperando; na verdade, já estavam bem adiantados no caminho para extinção racial. Cerca de cinquenta deles ocupavam um grupo de cavernas que dava para um pequeno vale ressecado, dividido por um riacho vagaroso, alimentado pelas neves das montanhas mais de trezentos quilômetros ao norte. Nos tempos difíceis esse riacho sumia por completo, e a tribo vivia com o fantasma da sede.”

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E assim começa a odisseia de Arthur C. Clarke, considerada com todos os méritos uma das maiores obras de ficção científica de todos os tempos.

Lançado em 1968, o livro foi escrito paralelamente ao roteiro do filme homônimo, e isso possibilitou que o autor e o diretor Stanley Kubrick pudessem colaborar em diversas partes da história e nos entregar as obras que conhecemos – numa experiência que vaga entre a escrita e o audiovisual, marcando o cinema para sempre. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

Aqui cabe ressaltar que só no ano seguinte o homem pisaria na Lua, o que dá ainda mais mérito para “2001”, seja em argumentos científicos ou para a criação visual apresentada no filme.

Baseado em outros de seus próprios contos, como “A Sentinela” e “Encontro no Alvorecer”, Clarke escreveu o romance dividindo-o em partes. Na primeira parte, temos o encontro dos homens-macacos, primatas ainda sem qualquer centelha clara de raciocínio, com um monolito completamente opaco, preto e angular. Essa figura misteriosa tem um efeito quase hipnótico em suas mentes, testando os indivíduos potencialmente inteligentes e influenciando-os à descobertas que mudarão para sempre os rumos daquela população.

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A partir daí, a história dá um enorme salto temporal até um futuro em que o homem já está familiarizado com viagens espaciais. Mais precisamente à época quando uma expedição encontra um monolito semelhante ao dos homens-macacos, enterrado na Lua.

Examinando o objeto, concluem que não se trata de uma formação natural e aí começa a grande discussão sobre a existência de vida inteligente em outras partes do universo, que irá tomar a maior parte dos pensamentos de cada personagem e do leitor também.

Clarke era um renomado matemático e físico e as informações presentes no livro são muito bem fundamentadas, entregando uma ficção científica de altíssimo padrão. Um exemplo é a ideia de usar o campo gravitacional de planetas para impulsionar as naves descritas no livro, recurso utilizado por algumas sondas da NASA posteriormente.

As reflexões e questionamentos sobre a existência de inteligências extraterrestres ou dilemas de inteligências artificiais dão substância à narrativa e mantêm o leitor atento aos detalhes. No entanto, o livro conta com muitas descrições espaciais e páginas a fio sem muita ação, o que pode ser enfadonho para alguns. Então, não recomendo para mochileiros espaciais de primeira viagem.

A edição da Aleph é um primor gráfico: um estojo traz em seu interior o romance no formato do monólito da trama. Com 336 páginas e preço sugerido R$ 64,90, traz ainda ótimos extras, como os dois contos anteriormente citados e uma carta do autor.

Parnaibano, leitor inveterado, mad fer it, bonelliano, cinéfilo amador. Contato: rafaelmachado@quintacapa.com.br