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Resenha | O Preço da Desonra, de Hiroshi Hirata

Em O Preço da Desonra, o mangaká Hiroshi Hirata mostra um Japão feudal sujo e cruel em sete histórias que prenderão a atenção do leitor, ao acompanharmos um Ronin cobrador de promissórias. As tramas acompanham uma nação bem distante do país limpo e honrado que o Ocidente aprendeu a identificar quando se fala no período dos samurais.

 

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A mão sela a promissória que deve ser paga com a vida….Não cumpri-la não é opção“.

A frase acima, presente no mangá da editora Pipoca & Nanquim, sintetiza o núcleo de O Preço da Desonra. Em um período de guerra no Japão feudal, na era do shogunato, os tão honrados guerreiros japoneses se valiam de um prática não tão digna assim: ao encarar a morte de perto, ofereciam ao seu executor quantias de dinheiro para permanecerem vivos, fazendo uma promissória de sangue como prova.

É claro que, em uma situação de desespero do executado (não vamos chama-los de vítimas aqui, haja vista quem está na guerra pode exercer o papel de executado ou executar, dependendo dos rumos da mesma), os seus executores cobravam quantias exorbitantes, que os em situação mais frágil ali logo se disporiam a pagar, ocorrendo sérios abusos.

Em especial, porque essas promissórias eram eternas, sem prazo de vigência, podendo ser cobradas a qualquer momento. E foi dessa prática que surgiram os kubidai hikiukenin, assim chamados os tomadores de promissórias.

E isso que guia O Preço da Desonra, onde, em sete capítulos com uma história para cada, acompanhamos Hanshiro, o Ronin (Samurai sem mestre) encarregado de ir até os últimos limites para conseguir seu pagamento ou algo que valha como tanto pelas promissórias firmadas.

E o que o leitor presenciará será um Japão bem distante do imaginário popular ocidental de um país limpo, com guerreiros honrados.

 

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O primeiro ponto que chama atenção ao leitor da obra lançada na década de 1970 no Japão é que, apesar de acompanharmos Hanshiro, a promissória, a vida de cada devedor após a dívida feita, os meios que será cobrada e as condições de pobreza e riqueza em que vivem os japoneses são o destaque da trama.

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Isso porque Hanshiro é um samurai sem passado, um Ronin sem rosto, que é implacável em suas cobranças. Mas isso não faz com que o personagem seja raso. Ao contrário, ao encarar situações de humilhação aos mais pobres ou até mesmo o senso de honra que faz com que um filho peça a morte de seu pai, Hanshiro tomará medidas que mudam o destino de todos os envolvidos, mas não deixando de ser implacável pelo caminho, como podemos ver no visceral capítulo inicial do mangá da editora Pipoca & Nanquim. O que valhe para Hanshiro é o cumprimento da dívida feita.

 

 

É bom o leitor estar preparado para o drama e os questionamentos éticos presentes, pois, ao ponto que a honra (ou a impressão que um indivíduo quer passar para a sociedade japonesa) leva alguns a cometerem atos cruéis, a mesma honra se volta contra aqueles que podem só querer salvar os próximos, como no Capítulo Os Onze Bandidos, quando vemos o destino que teve um samurai que assumiu uma dívida de sangue pensando em salvar crianças naquele momento de guerra.

E no meio de todas essas situações está Hanshiro, sendo um juiz silencioso.

O Preço da Desonra pode ser colocado ao lado de Lobo Solitário quando tratamos de obras que retratam samurais verossímeis no período feudal japonês, sem a cortina que normalmente cobre as feiuras de um Japão onde a vida valia pouco (ou muito, dependendo da promissória), com suas mazelas sociais aqui mostradas.

E Hiroshi Hirata estava inspirado ao compor essa obra, já que nos mantém atentos ao que está acontecendo, mesmo sendo sete histórias diferentes em um só mangá. Há uma sensação de unidade, já que, como dito, o principal aqui são as tramas envolvendo o pagamento das promissórias, sendo o fio condutor a presença de Hanshiro.

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Mas, apesar de ser muito bem desenhada, nos apresentando quadros dinâmicos, o autor falha em alguns momentos na transição dos quadros. É algo pequeno comparado aos momentos que estamos ali acompanhando, mas salta aos olhos do leitor quando ele vai progredindo em alguns momentos. Isso não é sempre que ocorre, mas, quando há, o leitor percebe. Por exemplo, em algumas cenas do capítulo três Unidos pelo Ódio.

 

 

 

A edição de O Preço da Desonra pela editora Pipoca & Nanquim, que traz a obra pela primeira vez ao país, está caprichada, como se espera de uma editora que se destaca pelos seus álbuns de luxo e que mantém um padrão elevado desde sua estréia.

Com papel acabamento de luxo, usando papel Lux Scream e um marca página, a edição conta com as 7 histórias fechadas e um posfácio do próprio autor, trazendo uma entrevista no site com Hiroshi Hirata.

 

 

O Preço da Desonra é um daqueles trabalhos que prenderão o leitor por fazê-lo conhecer um país pelo que ele foi, não pelo que gostaríamos que ele fosse ou porque nos foi ensinado a acreditar naquele Japão idílico. Ao acompanhar Hanshiro, o kubidai hikiukenin (cobrador de promessas), o leitor será tragado pela tragédia e crueldade de uma sociedade movida pela honra (ou falta dela), tudo isso com belos desenhos, mesmo que a transição entre os quadros falhe, ás vezes, depondo contra os traço de Hiroshi Hirata. Tudo isso em um volume de luxo da editora Pipoca & Nanquim, que traz a obra pela primeira vez ao Brasil.

 

 

Ficha Técnica

  • Capa cartão, com jaqueta e 396 páginas
  • Editora Pipoca & Nanquim
  • Lançamento em agosto de 2019
  • Preço de capa: R$ 59,90
  • Tamanho: 15,5 x 22 cm
Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.