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Resenha: Super-Ego (Caio Oliveira e Lucas Marangon)

Super-Ego, que trabalha e brinca com a desconstrução dos super-heróis, é uma excelente história em quadrinhos.

O desenhista piauiense Caio Oliveira, autor de All Hipster Marvel, Alan Moore, o mago supremo, Panza e, mais recentemente, R’lyehboy, começou a escrever Super-Ego ainda em 2006, terminando a série só em 2008. Na época, o trabalho foi enviado para editoras americanas Image, Boom, DarkHorse. Infelizmente, devido ao silêncio das editoras americanas, o autor teve que engavetar o projeto.
Mas Super-Ego chamou muita atenção através de outros meios de publicação, sendo publicado online, com passagens pontuais, no site sequentialink (www.sequentialink.com) em 2011, à convite do editor Mike Kennedy.
Com o sucesso da publicação online, a obra enfim conseguiu ser publicada nos Estados Unidos da América pela editora Magnetic press, em 2014, através do financiamento online Kicktarter. A obra conseguiu um bom destaque, tanto que o seu editor original, Mike Kennedy, conseguiu financiamento para contratar o capista Glenn Fabry (Preacher) e o colorista Lucas Maragon para incrementarem a obra.
 

Passando por essa verdadeira saga para imprimir a obra no mercado americano, a editora e loja teresinense Quinta Capa, também, conseguiu publicar a obra no Brasil, em janeiro de 2017, através do sistema de financiamento coletivo Catarse.
Editado por Bernardo Aurélio, autor de Por Dentro do Máscara de Ferro, e irmão de Caio Olivera, a versão brasileira conta com 21 páginas de extras inéditos, comparando com a versão gringa.
Toda essa saga editorial valeu a pena para o leitor que, enfim, pode ler a versão nacional de Super Ego.
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A sinopse da obra é a seguinte: Com grandes poderes vem grande ansiedade, angústia e expectativas. Mesmo o mais poderoso dos heróis pode precisar de um pouco de ajuda de vez em quando, um ouvido terapêutico no qual confiar e receber aconselhamento profissional. Um homem fez disso sua especialidade, o Dr. Ego, psicoterapeuta da comunidade super-humana. Entre conflitos que abalam o mundo e dilemas interplanetários, nenhuma crise está além do seu alcance. De abuso de substâncias transdimensionais até embaraço social incapacitante, ele estará lá para ajudar aqueles que estão ocupados demais ajudando os outros.
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O roteiro é um deleite para os fãs de quadrinhos que querem ver alguns heróis da Marvel e DC, além de uma pontual participação de um Power Rangers, em situações pouco vistas. A obra percorre os arquétipos do Superman, Mulher Maravilha, Gavião Arqueiro, Homem de Ferro, entre outros. Sem um texto fluído e uma história coesa, Super-Ego poderia ter percorrido o caminho da pura ironia com os famosos heróis que hoje povoam as telas de cinema e sempre estiveram presentes no mercado de quadrinhos americanos. Porém, felizmente, isso não ocorre.
Acompanhamos as histórias do Dr. Ego, o terapeuta de super seres. Entre heróis urbanos sem poderes, milionários bêbados com armaduras destrutivas e filhos de heróis famosos que tem o emocional de um adolescente de 16 anos, o autor consegue captar bem o sentimento de estranheza, ridículo e perigo que é viver em um universo com seres que podem abalar até o big bang.
Mas uma história com bom roteiro não funcionaria sem um bom desenhista, e Caio Oliveira aqui entrega o seu melhor trabalho, não só de construção de quadro, mas, também, no que tange a narrativa fluída. Contando com um traço próprio, e já bem conhecido dos que o seguem no facebook (Cantinho do Caio), essa é uma história de super-herói (ou desconstrução do gênero, dependendo de como o leitor encara o trabalho) com S maiúsculo.
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O trabalho de impressão da obra não deixa a desejar quando comparada a outras publicações. Contando com 136 páginas coloridas, lombada quadrada, capa cartão, papel couché e muitos extras (estudo de casos por desenhistas como Ben Caldwell e Lucas Marangton, por exemplo; processo de criação do roteiro e desenhos e páginas extras para divulgação). Infelizmente, há alguns escorregões da língua portuguesa na obra, mas nada que prejudique o trabalho.
Infelizmente, o ponto negativo da obra não é a história em si, mas a dificuldade de comprar a versão física. Por ser um projeto financiado pelo Catarse, o leitor que não pôde adquirir na época só poderá comprar a edição diretamente na loja piauiense Quinta Capa, já que Super-Ego não se encontra à venda nas grandes lojas nacionais. Exceto, se o comprador quiser a versão americana, que é de fácil acesso nas megastores. Porém, nem tudo está perdido. Super-Ego encontra-se disponível na plataforma Social Comics,
Mostrando que o mercado nacional tem bons escritores e desenhistas que querem trabalhar a sério com quadrinhos, Super-Ego é uma pérola a ponto de ser descoberta pela qualidade do trabalho, mas, infelizmente, de difícil localização da edição física para o leitor comum.
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Nota:
Roteiro: 09/10. Felizmente, Super-Ego é uma excelente história de super-herói e de desconstrução do gênero, não caindo na simples paródia e deboche ao gênero. Acompanhar os personagens nesse universo que presta homenagem a alguns ícones da cultura pop e pegar as referências (paródias) de Super-Ego é um dos pontos altos do roteiro.
Arte: 09/10. Os desenhos de Caio Oliveira são competentes e tornam fácil a identificação visual dos heróis citados na obra. O sentimento de movimento dos desenhos entre os quadros também é um ponto alto da obra.
Narrativa: 09/10. Leitura divertida e ágil. Ao final da narrativa, o leitor fica com vontade de conhecer mais desse universo e outros heróis que serão homenageados (parodiados).
Acabamento da edição nacional: 9/10. Alguns erros de português não tiram o brilho da obra. Contando com muitos extras e com a capa de Glenn Fabry, a edição nacional é muito boa, mas infelizmente de difícil acesso. Porém, Super-Ego pode ser facilmente achado no Social Comics.
Nota Final: 9/10.
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Ficha técnica:
Editora: Magnetic Press (Edição Americana) e Quinta Capa (Edição brasileira)
Autores: Caio Oliveira (escritor e desenhista) e Lucas Marangon (cores) Originalmente em Super Ego – Family Matters pela editora Lion Forge, em junho de 2014
Preço: R$ 35,00
Número de páginas: 136 páginas, coloridas
Data de lançamento: janeiro de 2017

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Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.