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Resenha | X-men: Equipe Vermelha Vol. 01 – A Máquina do Ódio

“Vamos esmagar as mentiras e transformar a verdade em arma”. Esse é o tom do volume 01 de X-men: Equipe Vermelha, uma história que coloca os mutantes contra os seus verdadeiros inimigos: o preconceito e o ódio contra a sua espécie. Fazendo com que a história seja palco para se debater e combater a ascensão da extrema direita racista e fascista e as fake news que influenciam a população.

 

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Pense bem: quando foi a última vez que os mutantes abordaram o tema do combate ao ódio e preconceito de forma enfática nos quadrinhos ? A resposta pode demorar a vir. Desde Dinastia M, lançada nos EUA em 2004, os mutantes parecem só bater em uma tecla: sobrevivência. Após ter sua raça massacrada pela Feiticeira Escarlate (fato covardemente esquecido e perdoado pela Marvel), os X-men se viram presos em uma luta por sobrevivência que parecia não terminar.

O ápice disso, e o que levou o tema à exaustão, foi o conflito entre a raça mutante e os inumanos, onde as névoas terrígenas (que dão poder a esses últimos) ameaçavam impedir que os X-men vivessem na terra. Ou seja, a equipe criada por Stan Lee e Jack Kirby viveu e vive em uma espiral de conceitos que se repetem há muito tempo.

Faltava aos mutantes (vamos evitar a palavra herói nesse texto) uma trama recente focada no combate ao preconceito da raça humana e o ódio desenfreado que isso gera. É esse o tema principal presente em X-men: Equipe Vermelha Vol. 01 – A Máquina do Ódio, escrito por Tom Taylor, com desenhos de Mahmud AsrarPascal Alixe.

 

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Nesse primeiro volume, acompanhamos a mutante Jean Grey, que voltou dos mortos pela segunda vez, encontrando um mundo cheio de ódio contra os mutantes. Em busca de solucionar esse problema, sendo a voz da tolerância em uma realidade focada em conflitos, Jean tentará achar novas soluções, indo até mesmo se manifestar acerca dos direitos dos mutantes na sede da ONU, e encontrará novos aliados pelo caminho, como o Rei (e mutante) Namor, que está disposto a enfrentar esse conflito de raças. Mas a vilã Cassandra Nova tem outros planos e buscará influenciar os humanos contra os mutantes, fazendo com que a mídia, os governos de vários países e o cidadão comum hajam de forma irracional e preconceituosa contra os planos de Jean Grey.

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Sendo claro, o começo dessa edição não é dos mais promissores, onde vemos Jean encontrando e fazendo as pazes com velhos conhecidos, como sua filha Rachel Summers e a filha de Wolverine, a X-23. Chegando até mesmo a apaziguar o clima de guerra que ainda existia entre os X-men e os Inumanos.

Essa primeira parte, que saiu em X-men Red Annual 01 nos EUA, é um banho de água fria tanto do roteiro de Tom Taylor quanto nos desenhos de Pascal Alixe, que são muito estáticos, sem movimentos e sem emoção, sendo o desenhista mais hábil em cuidar de capas, que é o que ele faz nesse volume da Panini.

 

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Mas, quando vamos para a primeira parte da história propriamente dita, a trama engrena muito bem. Apesar de alguns temas batidos (como um ataque de um sentinela, robô criado para caçar mutantes) e do uso de Cassandra Nova (vilã criada por Grant Morrison lá em 2001), o que importa é o sub texto presente. Nele, encontramos o estímulo do ódio propagado por redes sociais (mais de uma vez esse tema é citado), passeatas contra mutantes (que lembra em muito a de Charlottesville, promovida por supremacistas brancos nos EUA) e a posição de governos que agem autoritariamente para prender mutantes.

Há muitos temas sensíveis nesse volume, que deveriam ser mais discutidos, mas estão sendo jogados para debaixo do tapete devido à ascensão da extrema direita pelo mundo. Até mesmo a grande diferença salarial entre homens e mulheres na Índia, que também ocorre no Brasil, chega a ser citada aqui, mostrando que o quadrinho de Taylor veio para debater várias formas de discriminação social.

 

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Mas não, os temas dessa edição não são meramente panfletários, tudo aparece organicamente na história de Tom Taylor. É verdade que poucos personagens são verdadeiramente desenvolvidos, sendo alguns apenas ótimos alívios cômicos, como X-23 e Honey Badger, que o escritor cuida do título solo. Até a presença de Gambit ainda está meio solta na equipe, tendo o cajun feito parte da equipe após o assassinato de uma mutante durante uma passeata de ódio na Louisiana.

Mas isso não desmerece o título, que prende o leitor, que chega a desanimar com tanto ódio promovido pela raça humana através dos atos de Cassandra Nova. Mas Jean Grey é um ótimo contraponto a tanto pessimismo, fazendo com que essa equipe ainda possa perseverar.

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É uma pena que a última página desse volume seja um balde de água fria nos leitores, já que promete uma nova mega saga dos mutantes tratando novamente de aniquilação da raça, chamada obviamente de Extermínio. Depois de ver um show de conceitos, ver o anúncio de uma mega saga com esse tema batido ao extremo, faz com que o leitor queira parar ali mesmo de ler qualquer título mutante, em especial, ao ler tão boa trama com tantos temas importantes sendo tratados em X-men: Equipe Vermelha Vol. 01 – A Máquina do Ódio.

 

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Mas não é só o roteiro que está afiado nesse volume. a arte de Mahmud Asrar e seu traço ágil caiu muito bem para essa trama que tem um ritmo bem rápido, o que o diferencia do outro desenhista Pascal Alixe, que tem desenhos mais estáticos.

 

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Os encadernados da Panini se tornaram padrão quando se trata de títulos de linha. Sem nenhuma introdução ou contextualização, o volume só conta com as 06 histórias originais e algumas capas extras. No mais, há um erro grosseiro na edição, quando Cassandra Nova está falando com um homem e o chama de PrimeirA MinistrA. Apenas outro erro grosseiro que se tornou padrão da editora.

 

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Parece difícil um título mutante que fuja do comum atualmente, pois todos tratam a espécie como ameaçada e a beira do extermínio. Mas esse conta com um ótimo roteirista e um excelente desenhista, fazendo com que, para a sorte dos leitores, X-men: Equipe Vermelha Vol. 01 – A Máquina do Ódio tenha uma equipe que arranca elogios, mesmo contanto com um começo desanimador e uma última página que dá vontade de largar a franquia mutante de uma vez por todas. Enfim os X-men estão enfrentando os verdadeiros inimigos de frente: o ódio e o preconceito.

 

 

Ficha Técnica

  • Capa cartão, com 156 páginas
  • Editora Panini
  • Lançamento em abril de 2019
  • Preço de capa: R$ 24,90
  • Tamanho: 17 x 26 cm
Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.