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Dica de Leitura | Bojeffries: a saga (Alan Moore & Steve Parkhouse)

Bojeffries: a saga é Alan Moore fazendo humor com a sociedade britânica da década de 1980 e dos anos 2000, enquanto usa utiliza lobisomens, vampiros, bebês radioativos e funcionários públicos com um toque de grandeza. Não, não é um humor pastelão, daquele que faz gargalhar, sendo mais uma comédia de costumes, onde a sociedade britânica e o comportamento dos indivíduos faz rir.

 

Imagem de Bojeffries, por Steve Parkhouse
Um fiscal vai fazer uma inspeção em uma residência de uma família bizarra, enquanto tem delírios de grandeza com o título da sua biografia. Esse é o humor de Bojeffries: a saga.

Toda vez que me deparo com um trabalho que não conhecia de um autor que gosto é sempre gratificante, porém, gerando certa dúvida. Gratificante por saber o quanto da produção daquele autor ainda há para ser descoberta. Dúvida porque as expectativas como leitor podem ser altas, em especial, quando se trata de Alan Moore, o inglês que desde os anos 1980 é apontado como um dos melhores roteiristas da história dos quadrinhos.

E essa expectativa vai para as alturas para quem se depara com o editorial de Alexandre Callari, editor do Pipoca & Nanquim, fã declarado de Moore, tendo já encontrado com o inglês. No texto que abre a edição de Bojeffries: a saga, lançado pela editora Devir no Brasil, há uma afirmação categórica:

Plena de anarquia, estranheza e muito humor britânico, BOJEFFRIES: A SAGA é uma HQ inteligente e sagaz que mostra uma faceta diferente do mago como escritor, e que funciona como uma mistura de A Família Adams e Os Monstros, com elementos lovecrafitianos, sarcasmo da revista Mad e sugestõesde paranoia nuclear para apimentar a mistura.

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arte de Steve Parkhouse para Bojeffries: a saga
De um tio vampiro para o outro lobisomen, os Bojeffries são uma família que transita pelos monstros clássicos do cinema e da literatura. Que o diga o vovô, que é tão velho que virou uma sopa de matéria primordial, ou seja, um monstro ao estilo Lovecraft.

E a salada de referências de Alan Moore nessa grande sátira, que durou décadas, sendo iniciada na década de 1980 na revista Warrior, tendo terminado lá pelos anos 2000, é muito satisfatória.

Nos sete contos presente no encadernado da Devir, além do prefácio feito para a edição americana, Bojeffries: a saga vai dando destaque para cada membro da família, sempre com muito humor e crítica de costumes, em especial, britânicos, desembocando em um musical no meio da edição (ok, essa foi a única parte que me senti completamente perdido e não funcionou para mim!) e um catártico programa de celebridades mostrando como está a família nos anos 2000.

E essa parte final é que joga o barro na parede, pois passaram-se duas décadas entre o início e o fim da publicação da saga. Ninguém é o mesmo após tanto tempo, nem Alan Moore e nem a própria Inglaterra. É por isso que o final enfia o dedo no olho da sociedade inglesa, fazendo piada desde a inaptidão política do Parlamento e do Primeiro Ministro britânico, até ao culto às celebridades (aguarde algumas piadas com a falecida Amy WInehouse aqui!)

arte de Steve Parkhouse para Bojeffries: a saga
Seria preocupante se o humor de Bojeffries: a saga estivesse datado, não funcionando para os dias de hoje. Mas não, as piadas e a crítica social à Inglaterra ainda funcionam porque mexem com o costumes que até hoje se mantém, mesmo com o passar do tempo.

Bojeffries não o fará gargalhar como uma comédia pastelão. Não, o humor ácido de Alan Moore e a excelente arte de Steve Parkhouse faz com que lobisomens, vampiros, psicopatas e meninas monstros façam parte de uma sociedade trabalhadora inglesa, apontando vários absurdos.

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É sempre bom ler um trabalho de Alan Moore que você não conhecia. E o mais gratificante é se deparar com um escritor mais voltado para o humor ácido e que faz sátira da Inglaterra ao estilo de um Monty Python, utilizando-se de monstros e do absurdo para fazer comédia sobre o dia a dia inglês.

Arte de Steve Parkhouse para Bojeffries: a saga

Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.