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Crítica | Red – Crescer é uma Fera é engraçado e brilhante

Resenha crítica de Red - Crescer é uma Fera da diretora chinesa ganhadora do Oscar, Domme Shi. Sem Spoiler.

Disney/Pixar

Resenha crítica de Red – Crescer é uma Fera da diretora chinesa ganhadora do Oscar, Domme Shi. Sem Spoiler.

Eu adorei esse filme de um jeito que jamais imaginei. Ele chega a ser tão bom quanto Luca e Soul. Por isso deixarei muita coisa de fora nesta resenha para não estragar a experiência que terão com essa animação tão valiosa.

Os temas que a cineasta, roteirista e diretora chinesa  Domee Shi abordou (em apenas sete minutos) em seu brilhante curta de animação de 2018, vencedor do Oscar, “Bao” – sobre uma jovem mãe  sofrendo com a ausência do filho,  volta a ver sentido na vida quando um dos bolinhos que preparou ganha vida – foi um treino para seu longa de animação rico em camadas e temas que é Red – Crescer é uma Fera ( Turning Red).

A diretora está falando novamente sobre relacionamentos e familia: O filho agora é uma filha: a protagonista de 13 anos Meilin “Mei Mei” Lee, filha de imigrantes chineses, crescendo em Toronto em 2002 e acabando de descobrir o maravilhas do sexo oposto e a purbedade. Sua mãe, Ming Lee, que nasceu na China em 1989, mudou-se ainda jovem para o Canadá e cresceu, como a personagem Mei Mei, à sombra da icônica Torre CN da cidade, cuidando do famoso e mais antigo templo chines de Toronto, o Templo do Panda Vermelho.

No filme original em inglês, a atriz Rosalie Chiang é quem empresta a voz a Mei Mei. Já na versão brasileira, Nina Medeiros será a responsável pela dublagem. Sandra Oh faz a voz original de  Ming Lee. Já aqui no Brasil, a dublagem ficou a cargo da atriz Flávia Alessandra.

Entre outras coisas, o filme é uma carta de amor semi-autobiográfica à cidade adotiva da diretora: lar da maior comunidade de imigrantes do Canadá, e aqui povoada por uma tapeçaria de personagens que não são apenas da Ásia, mas do Caribe, da Europa Oriental e da Índia. 

Em suma, a hiperespecificidade (palavra difícil de escrever) do cenário temporal, geográfico e cultural do filme – vividamente bem feito, como esperamos de um filme da Pixar – faz “Red – Crescer é uma Fera” parecer uma versão da própria história de amadurecimento de Domee Shi. Exceto por uma coisa. Mei Mei acorda um dia e descobre que se transformou em um panda vermelho gigante.

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Ainda falando de “Bao”, o filho era representado, menos literalmente, como um bao antropomórfico – Bao é pão a vapor em Chines – mas apenas no sonho de sua mãe. Aqui, a transformação é literal. Quando Mei Mei volta à forma humana – sua metamorfose temporária, é desencadeada quando ela está sob uma forte pressão psicológica, mas pode voltar a sua forma humana se ficar calma – seu cabelo, uma vez preto, fica um vermelho brilhante e chamativo dali em diante.

A Pixar sabe destruir o sentimento dos telespectadores e “Red – Crescer é uma Fera” não seria diferente. As implicações metafóricas são fascinantes e audaciosas. Quando Mei Mei confessa para sua mãe Ming  – hesitante e sem detalhes – que uma mudança ocorreu em seu corpo, a primeira reação da mãe é compreensível. “A peônia vermelha floresceu?” Ming pergunta à filha, referindo-se eufemisticamente ao início da puberdade e oferecendo uma ‘sacola’ de produtos de higiene feminina.

“Você agora é uma flor bonita e forte que deve proteger suas pétalas delicadas e limpá-las regularmente”, acrescenta ela em um dos exemplos mais engraçados sobre o tema numa animação da Disney. Mas, apesar das implicações biológicas sugeridas pelo título, “Red “ é muito mais do que um ciclo menstrual mensal que toda mulher no planeta passa.

Acontece que todas as mulheres da família de Mei Mei compartilham uma herança mágica de uma ancestral que possuía a capacidade de se tornar um panda vermelho para proteger seu povo. Hoje, sua mãe, suas tias e avó conseguiram conter a fera, por assim dizer, através de um antigo ritual.

Em um nível excessivamente simplista, o filme evoca e dá um novo significado ao apelido sexista outrora difundido para a menstruação: a Maldição. Mas Domee Shi tem muito mais a dizer. Em um sentido amplo, “Red – Crescer é uma Fera” é, como “Bao”, sobre crescer, se separar e se transformar em quem você escolher se tornar. Para Mei Mei, essa pessoa não é a mesma mulher firmemente contida que sua mãe tornou, ou quem sua mãe deseja que ela seja.

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Ming Lee parece que foi criada baseada num livro sobre uma mãe perfeccionista chamada Tiger Mother que virou um documentário no Youtube. Mas no fundo, Mei Mei está simplesmente se tornando uma adolescente que gosta de garotos, música alta e sair com as melhores amigas e que sua mãe precisa lidar com isso. O enredo principal do filme diz respeito aos esforços de Mei-Mei e suas amigas Priya, Miriam e Abby (que merecem todo o amor do mundo, mas que preferi deixar de fora desse texto para não estragar a experiência de vocês) para assistir a um show de 4Town, uma boyband fictícia cujas canções originais foram escritas por Finneas O’Connell e sua irmã Billie Eilish, e incluem uma letra divertida sobre a puberdade.

Além disso, quem fez a trilha sonora do filme foi nada menos que a lenda Ludwig Goransson (Mandaloriano, Pantera Negra, Creed, O Livro de Boba Fett). 

Parafraseando Sigmund Freud, às vezes um panda vermelho é apenas um panda vermelho. E às vezes é uma metáfora para aquela centelha interior de criatividade, a chama da originalidade que deve ser valorizada, não extinta. Com “Red – Crescer é uma Fera”, Domee Shi demonstra que ela conseguiu.

É um filme sobre amizades verdadeiras, como podemos mudar, errar e não necessariamente ser como nossos pais, mesmo que eles sejam protetores ao ponto de nos sentirmos sufocados por isso. A mensagem do filme vale para qualquer idade. Simplesmente uma das animações mais legais da Pixar dos últimos anos. Vale cada segundo.

P.S O filme é lotado de referências aos animes japoneses, os fãs de Sailor Moon nunca foram tão felizes na vida. 

 

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.