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Crítica | Terceira Temporada de The Boys é uma visão certeira sobre a política atual

Resenha crítica com alguns spoilers da terceira temporada de The Boys da Amazon Prime.

The Boys 3
Reprodução (Prime Video)

Resenha crítica com alguns spoilers da terceira temporada de The Boys da Amazon Prime.

A terceira temporada de Os Garotos acabou e hora de falar um pouco dela. A adaptação da Amazon dos quadrinhos The Boys chegou num ponto onde já podemos fazer alguns questionamentos: a série conseguiu trilhar um novo caminho em comparação à sua obra original? A tentativa do programa de questionar a legitimidade heroica dos super-heróis em uma era de marketing de massa e mídia social foi nova, mas a terceira temporada transformou isso em algo maior e polêmico.

No final, The Boys acaba se transformando numa sátira social perversa (política woke) para propaganda partidária dissimulada com graça quase felina, que é seu aspecto mais sinistro para alguns e, que, particularmente eu gosto. A terceira temporada começa logo após a batalha épica das heroínas contra Tempesta (Aya Cash), uma heroína nazista que estava usando sua imagem para vender sua política, mas acaba sendo derrotada pelo garoto Ryan (Cameron Crovetti), filho biológico do Capitão-Pátria (Antony Starr). O incidente tem um efeito profundo sobre este último, que aos poucos vai aceitando sua instabilidade mental à medida que seu narcisismo dá lugar à insegurança pessoal.

Hughie (Jack Quaid) agora está trabalhando para o Federal Bureau of Superhuman Affairs – FBI que cuida dos estragos causados pelos supers -; que por acaso é dirigido por Victoria Neuman (Claudia Doumit), uma super com o poder de explodir as cabeças de seus alvos via telecinese. Neuman tem um relacionamento complicado com Stan Edgar (Giancarlo Esposito), o CEO corrupto da Vought International, a empresa responsável pela proliferação de supers na vida pública.

Os Garotos percebendo que Capitão-Pátria representa uma ameaça existencial para o mundo inteiro, o plano é localizar uma suposta arma secreta capaz de matá-lo, que supostamente está localizada na Rússia. Depois de seguir uma pista que começou durante a última geração de super-heróis, Bruto (Karl Urban) e sua equipe vão para a Rússia, onde descobrem o Soldier Boy (Jensen Ackles), um super com poderes iguais ao Capitão América que se pensava há muito tempo está morto.

O tempo que o Soldier Boy passou na Rússia, ele virou um prisioneiro/experiência em transformá-lo numa arma antiocidental. Isso inclui uma nova habilidade devastadora que causa imensa destruição na área circundante, desencadeada por um gatilho subconsciente no estilo “Sob O Domínio do Mal” que faz com que o Soldier Boy desmaie após cada ataque. Entrementes, Soldier Boy volta para os Estados Unidos, vingando-se de seus ex-membros da equipe que ele acredita que o traíram. Ao mesmo tempo, Bruto e Hughie devem lidar com os efeitos viciantes de um composto experimental da Vought que concede superpoderes a humanos normais por 24 horas.

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Enquanto a primeira temporada de The Boys se concentrou inerentemente na premissa de que os super-heróis eram uma ameaça à sociedade, em oposição a uma bênção, a segunda temporada tentou levar as coisas para uma direção mais controversa. Começou a fazer alusões ao nazismo aberto, racismo e outras questões sociais.

É óbvio desde o início que todas as referências a racismo, armas, Deus e patriotismo devem ser imediatamente vinculadas ao Partido Republicano americano e aos conservadores em geral, mas no Brasil vivemos numa época onde o poder está nas mãos de uma pessoa que era fã da política do Trump, então essas questões também acabam virando reflexos de nosso cotidiano aqui em nosso país. Ao mesmo tempo, a política de esquerda da série promove o hedonismo sem rumo em alguns momentos e a objetificação do ser humano como algo a ser celebrado e aplaudido. The Boys é política pura, mas também trabalha no caos. A série orgulhosamente empurra cenas controversas de super-heróis encolhendo de tamanho para rastejar em uretras penianas, enquanto personagens como o Profundo (Chace Crawford) se envolvem em bestialidade explicitas na tela.

Com tanto foco na violência gratuita, linguagem vulgar exagerada e conteúdo sexual beirando uma classificação X, a terceira temporada de The Boys ainda trabalha a intrigante premissa de super-heróis moralmente falidos e/ou questionáveis, mesmo essa premissa ficando em segundo plano em alguns momentos. Na verdade, ninguém na série é moralmente correto.

Se há uma coisa a ser dita sobre The Boys, é que a série tem uma produção impecável. Os personagens são impecáveis, os atores fazem um trabalho incrível de interpretação, dada a loucura que é a série. Entre os personagens, acho que Bruto e Hughie tomarem a fórmula experimental que lhes concede superpoderes foi inteligente. Não apenas permite algumas cenas realmente incríveis e hilárias, mas muda a dinâmica da série, dando um vislumbre da hipocrisia inerente que está tomando conta. A  grande reviravolta de Kimiko (Karen Fukuhara) com direito a um musical é um dos grandes momentos. E, claro, Antony Starr continua a roubar todas as cenas em que está como a imagem espelhada narcisista  do Superman com o Capitão-Pátria. Seu personagem consegue crescer muito durante a temporada, fornecendo vislumbres de quão frágil é seu estado mental e como seu impasse no final da temporada pode afetá-lo em episódios futuros.

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Mas faltou mais cenas de ação, passaram bastante tempo fazendo cenas com diálogos e discursos lotados de palavrões. Tudo bem, mas teria sido melhor ver o pau torando não literalmente e porradas mais cinéticas, em oposição apenas a alguns plots.

A terceira temporada de The Boys é também sobre o Soldier Boy e sua atitude abertamente misógina, até uma cena em que ele ameaça dar um tapa em um personagem “como Connery”, uma referência direta ao falecido Sean Connery, que uma vez sugeriu que não havia problema em esbofetear uma mulher se ela se comportou de maneira beligerante e combativa. A mensagem é simples – a masculinidade tradicional é má e destrutiva. Não importa que tenham sido tradicionalmente homens masculinos que lutaram na Segunda Guerra Mundial para ajudar a libertar o mundo da opressão nazista. O propósito dos produtores e escritores da série era esse mesmo.

E tem muita gente branca se doendo por causa disso. Ótimo.

Todo o arco do Falcão Azul, um vigilante de super que policia bairros negros que é acusado de abusar de seu poder com intenções racistas. É uma referência ao caos social que o Estados Unidos vem passando nos últimos dois anos. Muita gente não gostou, mas grandes séries que tem um poder em número de telespectadores como é o caso de The Boys, temas como esse precisam ser abordados e falados abertamente.

Para concluir, já que não preciso me alongar muito sobre The Boys já que eles mostram que lado estão de um mundo onde o bipartidarismo é uma realidade. Apesar de tudo que senti falta, a série ainda vale a pena, conseguiu ser melhor que seu quadrinho de origem e hoje é uma das séries mais importantes de heróis já feitas. Que venha a quarta temporada!

P.S: Deixei alguns personagens no texto de fora para não estragar quem ainda não assistiu.

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.