O roteirista americano Tom King tem se notabilizado pelos títulos em que “resgata” personagens pouco lembrados da DC Comics e os trabalha em séries limitadas sob um viés mais adulto, com traumas e fissuras psicológicas e emocionais, além de explorar subtextos que dão margem para interpretações que fazem um paralelo com a realidade e questões contemporâneas.
Foi assim com “Ômega Men“, “Senhor Milagre” e neste trabalho estrelado por Adam Strange. Neste primeiro volume de “Estranhas Aventuras” (192 páginas, R$ 44,90, Panini Comics), que compila os 6 números iniciais da série, a trama é ambientada em dois momentos distintos, cada qual com o traço de um desenhista. Ao lançar sua autobiografia, em que relata as glórias de batalha vividas no distante planeta Rann, o explorador espacial acaba por se tornar alvo de acusações sobre sua verdadeira atuação no conflito contra os pykkts.
Para piorar, um homem é assassinado, e as suspeitas recaem sobre Adam. A Liga da Justiça decide entregar a investigação sobre o caso para o Sr. Incrível, enquanto o herói e sua esposa Alanna usam a mídia como meio para expor sua versão dos fatos. Esse, por sinal, é um dos eixos da trama: afinal, qual seria a verdade? Ou, melhor, o que seria a verdade e quem poderia contá-la sem se envolver (ou se sujar) com a história?
Alanna, inclusive, revela-se a personagem mais complexa em cena, agindo e debatendo sob uma questionável moralidade conforme o enredo avança. O leitor é compelido a acompanhar um grande quebra-cabeças estabelecido página a página, que alternam o presente, quando a própria Terra é ameaçada pelos terríveis pykkts, com a crônica da invasão de Rann, as alianças feitas e o papel de Adam Strange na guerra.
O heroísmo é algo de que ele pode mesmo se valer, para colocar-se acima de qualquer suspeita e assumir a liderança na Terra da resistência aos alienígenas? Embora o ritmo lento que King impõe em seu roteiro deixe a leitura tediosa em algumas passagens, o gancho para o segundo volume é provocativo.
