Resenha crítica sem spoilers de um dos melhores dramas de 2022 disponível na Netflix, o sem precedentes “Meu Diário Para a Liberdade”
Olá, estamos de volta com mais uma resenha de um drama que quase passei batido por medo, mas esse medo é explicável como verá abaixo. Hoje vamos conversar sobre o incomparável “Meu Diário Para a Liberdade”.
Fiquei com muito medo de assistir “Meu Diário Para a Liberdade” por causa do meu trauma com o drama “Chocolate”, já que a Netflix indica “Meu Diário Para a Liberdade” como similar ao “Chocolate”, mas graças aos deuses dos doramas que preferi escolher ele para assistir por causa do elenco e produção. Como sempre e do começo, My Liberation notes título original, é novinho, do ano passado (2022), dirigido pelo experiente Kim Seok Yeon e escrito pela Park Hae Young, a autora por trás da obra prima My Mister. A produção ficou por conta da JTBC/Netflix com estreia entre Abril e Maio passado, exatamente um ano atrás.
O elenco são simplesmente Kim Jin Won fazendo Yeom Mi Jung, Son Seok Koo fazendo o Senhor Gu, Lee Min Ki fazendo Yeom Chang Hi, Lee El fazendo Yeom Ki Jung, Lee Ki Woo fazendo Jo Tae Won e a lenda viva Chun Wo Jin fazendo Yeom Ji Ho.
“Meu Diário para a Liberdade” é um drama que mexe com a alma e provoca profundas reflexões É a história de três irmãos Yeom (Mi Jung, Chang Hi e Ki Jung) – que estão exaustos com a monotonia do dia a dia e buscam encontrar realização e liberdade em suas vidas vazias e comuns. Eles moram numa região rural distante duas horas da capital Seul e, basicamente passam o dia dentro de trens e ônibus. Além disso, em casa, precisavam conviver e ajudar um pai (marceneiro e trabalhador rural) que raramente fala e uma mãe que já fala demais e reclama de tudo que os três aprontam.
Morando com eles há um homem misterioso que chegou do nada e é conhecido apenas como Sr. Gu. Quando termina o trabalho diário, ele passa a noite bebendo até cair, seu passado é desconhecido, mesmo assim, ele acaba fazendo parte da família Yeom.
A história nos leva a uma incrível jornada pela vida dos três irmãos e do misterioso Sr. Gu. Os problemas que os irmãos enfrentam e seus desejos e anseios são perfeitamente compreensíveis para a maioria de nós, porque a maioria de nós passa ou passará por isso em algum momento da vida. Vemos suas esperanças, sonhos, frustrações e como eles superam os obstáculos. Todos os três querem escapar daquela vida monótona, embora para cada um deles escapar signifique coisas diferentes. No final da jornada, alguns conseguem o que queriam, mas não da maneira que esperavam, enquanto outros embarcam em um novo começo, mas esse texto não vai conter spoilers.
O protagonista desse drama é a irmã mais nova, Mi Jung , que é cativada pelo misterioso Sr. Gun e busca uma forma de mudar de vida. Ela é muito boa no trabalho, uma das melhores e mais criativas designers da empresa, mas sua timidez e falta de vida social acabam lhe atrapalhando, então ao conhecer aquele homem tão misterioso uma janela se abre em sua cabeça.
O filho do meio, Chang Hi, está desesperado por um carro, está exausto de gastar com ônibus e trens todo santo dia, além disso, tem um sonho de ficar rico.Mas ele não tem nenhuma direção e continua à deriva na vida profissional e amorosa.
A mais velha dos irmãos, Ki Jung, está desesperada para encontrar o amor e fugir de sua família. Ao fazer isso, ela se vê envolvida com um homem que já é pai de uma jovem adolescente.
Como cada personagem tem uma grande faceta psicológica, tentarei ser o mais breve possível. Começando pelo personagem mais legal de “Meu Diário Para a Liberdade”, o Sr. Gu.
Son Seok Ku como o Sr. Gu, é um daqueles atores que tem um apelo multifacetado e que pode interpretar personagens absolutamente diferentes com grande facilidade. Seja um vilão ou um homem sem esperança, ele simplesmente entra na pele do personagem. Além disso, o ator não tem a beleza padrão de artistas coreanos, seu rosto é muito masculino e com olhos sonolentos, além disso, o cara tem um mistério no olhar que a gente não sabe se ele vai lhe dá uma facada ou um beijo rs Son Seok Ku é brilhante como o Sr. Gu. Ele quase não fala nenhum diálogo durante vários episódios, mas transmite tantas emoções com seus sorrisos e o olhar de peixe morto são tão intensos que me impressionou. Muitos atores já interpretaram o papel de um alcoólatra, mas Son Seok Ku simplesmente rouba a cena neste quesito.
Uma coisa sobre o ator, ele não começou sua carreira no entretenimento, Son Seok Ku veio do mercado industrial como CEO de uma grande empresa de distribuição de máquinas pesadas para a indústria sul-coreana e entrou no cinema e tv por obra do destino.
Kim Ji Won me impressionou no papel de Tan Ya em Arthdal Chronicles. Mas ela fazendo Yeom Mi Jung, uma protagonista tímida, introvertida, desgastada pela vida comum que nunca muda, é extremamente convincente e realista. À medida que os episódios avançam, ela se torna as palavras de Paulo Coelho em um de seus livros: “A beleza da verdade, seja ela boa ou ruim, é liberdadora”. Eu adoro os papéis da Kim Ji Won, ela entrega tudo que pedem.
Chang Hi é, sem dúvida, o melhor trabalho de Lee Min-ki como ator até agora. Em “Porque esta é minha primeira vida”, ele faz um protagonista bem estoico, na pele de Chang Hi, ele nos leva a várias emoções, como aborrecimento, raiva, pena e felicidade.
“Meu Diário Para a Felicidade” é o primeiro drama que Lee El me pega na alma. Minha experiência com ela foi sem sentido e sem graça em “Uma Odisséia Coreana” e ela fazendo Ki Jung me convenceu desde primeiro segundo que essa bela e incrível atriz entrou em cena. Ela faz uma mulher que está ficando sem tempo para o amor e para criar uma família. Totalmente o contrário das protagonistas que assistimos nos dramas. Dos personagens centrais, ela é a que tem a carreira com mais prêmios. A mulher se garante demais com personagens complexos e dramáticos.
Além das estrelas citadas acima, o elenco de apoio é brilhante.
O relacionamento entre Mi Jung e o Sr. Gu está em um nível totalmente diferente dos romances que costumamos assistir. A química entre eles funciona muito bem. O romance que desenvolve é lento, com quase nenhum beijo, ainda assim, o coração vibra demais com a cena dos dois. Seus diálogos são verdadeiras joias de roteiro. Você pode pausar qualquer diálogo entre os dois e analisar que sairá diversas conjecturas sobre a vida, relacionamento, família, solidão, perda e amor.
Os problemas que esses três irmãos enfrentam e seus anseios e dúvidas completamente diferentes são algo pelo qual a maioria de nós passará mais cedo ou mais tarde durante a vida, e ver isso representado na tela faz com que valha a pena assistir e, talvez, fazer uma terapia. Eu só chorei muito em diversos momentos rs
“Meu Diário Para a Liberdade” compreende seus personagens e revela a sua situação de cada um brilhante. Se há um exemplo de que o personagem é a parte mais memorável de uma história, esse é o caso. A escrita é tão próxima da realidade que você é transportado para a situação exata da história, compartilhando as emoções e os sentimentos dos personagens. A beleza desse drama é que todos os personagens são relacionáveis de alguma forma devido à maneira como são retratados. Ele lida com as provações e tribulações da vida adulta de uma forma muito sensível e realista. Um drama que dá uma olhada honesta em como a mente e o coração humano sempre precisam de aceitação. É um drama muito lento, em que você não se apaixona pelos personagens ou pelos cenários de cara. Mas, ao longo de alguns episódios, no decorrer da história, você tende a se apegar tanto aos personagens que começa a sentir falta deles quando a série termina. Eu ainda não superei rs
“Meu Diário Para a Liberdade” mostra a Coreia do Sul de uma forma muito diferente em comparação com a maioria dos dramas coreanos. A vida aqui tem um ritmo lento, é entediante, com o monótono trajeto casa-trabalho-trabalho-casa de sempre. Você vê pessoas comuns e normais, sem aparência ou talentos perfeitos, mas pessoas que têm seus próprios sonhos e ambições. O drama brinca muito com a vida calma da zona rural e com a vida frenética de Seul, fazendo justaposições sobre a divisão social e suas posições na cadeia dinâmica da vida.
É um drama que não precisa de pressa. Você precisa ir devagar e digerir cada cena e diálogo. O ritmo sem pressa parece tão real que você se esquece de que está assistindo a uma ficção. O humor é muito gentil e a filosofia de seus personagens é muito compreensível. A trilha sonora é excelente e realmente cria o clima perfeito. Essa faixa aqui destrói nosso coração:
Andei lendo e assistindo que muita gente achou o final ruim, mas, para mim, o final é o que deveria ser. Todos nós temos visões e percepções diferentes sobre a vida, mas, desde que estejamos felizes com ela, está tudo bem. A vida nem sempre segue o caminho que planejamos, mas, desde que mantenhamos o foco e não desistamos, seremos libertados e ficaremos em paz.
Não vou estragar quem ainda não assistiu, mas cada personagem segue o fluxo que escolheu, a liberdade que tanto buscavam. “Um Diário Para a Liberdade” é um drama que fala com a gente e nos faz refletir sobre nossas vidas. Ele mostra, de certa forma, os pensamentos e sentimentos da maioria das pessoas. As emoções silenciosas são trazidas à vida e refletidas neste drama tão bonito. Há dramas que eu amo e adoro e há dramas como “Um Diário Para a Liberdade”, que ressoam na alma.
Para finalizar, o drama tem uma produção incrível, tomadas estéticas belíssimas, roteiro sem defeitos, atores fazendo papéis inesquecíveis e diálogos e monólogos fantásticos e lindos, resultando numa obra-prima e um drama imperdível.
SPOILER NOS COMENTARIOS.
Não é um dorama que vai agradar a muitos. É o meu gênero favorito: “Slice of Life” ( é a capacidade de contar a história de um personagem e a vida cotidiana por meio de uma narrativa muito natural. Não é preciso um clímax para manter os espectadores envolvidos, eles se identificam com o texto.
Muitos comentários:
É lento > Sim é
Textos muito longos > Sim
Cenas sem diálogos, contemplativas > Sim.
Tem romance>Tem, mas é da alma, não do coração
Tem cenários deslumbrantes >Não
Figurino elegante, roupas de grife > Não.
Mostra o campo, e as dificuldades e vida cansativa de quem vive nele, em contraste com a cidade.
Fala de cotidiano, sonhos, escolhas com suas consequencias. Sem romance cor de rosa, sem fantasia. Mostra que o conto de fadas que vemos com frequência nos dramas é novela, e não vida real. O modelo de excelência máxima exigido aos jovens na Coreia está no limite, não tem emprego para todos, a competitividade é altíssima. As pessoas classe média, ou baixa entram em desvantagem para emprego e perspectiva de vida está limitada. O nível de frustração é alto. Problemas sociais bastante sérios. Vemos isso em Itaewon Class, My mister, Porque essa é a minha primeira vida, Extra currícular, Juvenile Justice entre outros. Famílias vivendo um abismo entre as gerações pré e pós guerra, relacionamentos que não deram certo, desrespeito dos superiores para com os subordinados e vida quase medíocre. É reflexivo, e com um olhar na Coreia real, sem cor. Muitas vezes melancólico. Tem uma narrativa semelhante a My Mister( os dois foram escritos pela mesma autora)
Mostra as cicatrizes que cada um adquiriu na vida, e como lidar com elas. Mas no fim cada um foi achando seu caminho para a liberdade com a descoberta da auto confiança. E se libertando das ” amarras” que os prendiam O irmão finalmente passou a se dar bem com o pai e descobriu sua aptidão profissional, a irmã mais velha conseguiu o sonhado amor de inverno, a caçula adquiriu a auto confiança que precisava. Gu se libertou da violência, e a decisão de parar de beber abre o caminho para dar e receber. Pronto para uma nova relação. Gostei em especial dos diálogos que são primorosos! Com um elenco de peso, tanto os principais como os coadjuvantes. Poucos atores se entregariam tanto a um papel sem glamour, roupas simples, e a casa sem luxo e pouco conforto. Nao vi sofa na sala. A filha menor (adulta) dormindo no chão. E o excepcional veterano CHEON HO-JIN dá um show a parte. Poucas falas, mas um olhar que reflete o que o personagem esta sentindo. A mãe acolhedora, mas rigida e sempre preocupada que os filhos tenham o mesmo destino dela. Cansada e triste. Os amigos que todos precisamos por perto. Simplesmente sensacional. É uma busca do autoconhecimento. Uma série muito tocante. Não queria que acabasse. Por mim teria 50 capítulos. Queria continuar vivendo as histórias deles. Sensível,e profundo. E algo bom vai acontecer com você hoje…
Desde o anúncio que iria estreiar fiquei com uma ansiedade dúbia. Louca para assistir, mas com um certo temor. E se me decepcionar??? E o roteiro desandar?? Mas depois de quase 1 ano arrisquei. Nao me arrependi em nenhum segundo. Drama a flor da pele. Magnífico. Não a toa é escrito pela mesma Hae-yeong Park de My Mister. Deixo meus comentários em outro post.
É pq eu que aprovo os comentários e estou lançando um livro ai ficou tudo corrido esses dois últimos meses. Mas estou de volta e vou comentar certinho tudo agora! Obrigado de novo!