Não deixe de conferir nosso Podcast!

Resenha | Paciência (Daniel Clowes, Jim Anotsu)

Daniel Clowes (Autor),‎ Jim Anotsu (Tradutor)

Texto Thiago Ribeiro

Muito se falou em 2017 sobre o aumento considerável de publicações de quadrinhos e graphic novels lançadas no Brasil, gerando especulação acerca da viabilidade comercial dos títulos, já que tantas novas editoras e coleções chegavam as bancas e livrarias especializadas. Muito desse debate era e é devido aos crescentes gastos que o leitor tem para acompanhar cada material publicado.Levando em consideração esse cenário de constante expansão do mercado de HQs, algo de positivo se manifesta: a possibilidade dos fãs terem acesso a títulos que dificilmente seriam lançados em terras brasileiras.
Dessa forma, em 2017 a editora NEMO publicou PACIÊNCIA (180 páginas, tamanho: 24,6 x 18,8 x 1 cm; encadernação em brochura, capa mole e com orelhas) de Daniel Clowes.
A obra já chega com um feito e tanto, pois ficou 19 semanas seguidas na lista dos mais vendidos do famoso jornal New York Times quando foi lançado em 2016 nos Estados Unidos.
Apesar do quadrinista Daniel Clowes ser pouco conhecido do grande público brasileiro é dele trabalhos como Ghost World, recém publicado pela NEMO no aniversário de 20 anos da obra, e Wilson. Ambas as obras já tiveram adaptações pro cinema, tendo Scarlett Johansson no elenco de Ghost Word, além de concorrer ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. PACIÊNCIA foi a última obra do Autor a ser lançada até o momento.
Versão Cinematográfica de Ghost World. Enid (Thora Birch) e Rebecca (Scarlett Johansson) se formaram do segundo grau e decidem que não vão para a faculdade.

O leitor acompanha a história de ficção científica envolvendo viagens no tempo de Jack Barlow em busca de salvar sua esposa Paciência de um assassinato brutal. Não, não é uma história voltada ao público aficionado em teorias envolvendo o tempo e o espaço, apesar de ser um dos pontos centrais, no quadrinho o que acompanhamos é o amor de um homem em busca de salvar a única coisa que trouxe significado para a sua vida, a sua amada.
Falando assim, parece ser uma obra brega e de romance pueril, mas nos diálogos convincentes de Daniel Clowes o leitor perceberá que aqueles personagens são multifacetados, principalmente, Paciência, a qual é acompanhada desde a adolescência até a vida adulta, quando é morta. O Autor enfatiza as questões que fazem um romance ultrapassar aquele primeiro momento onde apenas o sentimento é correspondido, no quadrinho se debate: Situação financeira, trabalho, impotência em não conseguir não só o que não se almeja, como não conseguir se manter com o mínimo possível, se fala sobre sentimentos que as pessoas não conseguem superar, dor, frustração, e outras coisas mais que só fazem aumentar o debate moral em quem lê a obra.
Infelizmente, essa não é uma obra para leitores de ficção científica, apesar de tratar sobre viagens no tempo. Os questionamentos levantados por PACIÊNCIA são debates morais, não temas voltados para a ciência. Para citar um exemplo brilhante da obra, há um momento que Jack está na mesma linha temporal que ele criança. Desse encontro, o personagem se indaga se não deveria encontrar com sua mãe e mudar sua vida, trazendo um futuro melhor para ele mesmo. São nesses pequenos questionamentos que a obra brilha.
O desenho é bem diferente do que o leitor de quadrinhos em geral está acostumado. A forma de contar a história muda constantemente, indo dos habituais quadros por páginas, até as páginas únicas onde se sente os efeitos físicos da viagem no tempo. O leitor atento vai ver que muitos quadros são percepções da realidade dos próprios personagens, já que, em muitas situações, frases saem incompletas no quadro, demonstrando que a parte ilegível também é inaudível para os personagens da cena. Destaque para as cores usadas, já que elas dão um sentimento de viagem lisérgica e movimento em diversas cenas.
Não caindo no clichê de aventuras no tempo onde o próprio viajante é o causador dos problemas no futuro, essa obra do quadrinista Daniel Clowes é uma excelente oportunidade para o leitor brasileiro sair da zona de conforto das histórias voltadas para a aventura e ação. Com um tom emocional, a saga de Jack Barlow merece ser lida e relida, não para ficar notando detalhes até então despercebidos, e, sim, para acompanhar uma verdadeira busca e descobrimento da pessoa amada.
LEIA TAMBÉM:  Resenha | Meu Livro Violeta, de Ian McEwan
Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.