Esta resenha contém spoiler da terceira temporada de Stranger Things, já que a ideia original era eu eu fazer uma resenha por episódio, mas como demoraria, resolvi congregar tudo, então se ainda não assistiu, coisa que acho difícil, saia já daqui.
Na mesma linha de Game of Thrones, o elenco adolescente de Stranger Things passaram por uma transformação impressionante ao longo dos anos – tanto fisicamente quanto como pessoas. A terceira temporada efetivamente destaca as mudanças profundas que afetaram as crianças de Hawkins enquanto se preparam para o ensino médio, enquanto também tentam descobrir como crescer sem se distanciar um do outro. Os criadores da série, os irmãos Duffer, acertaram na forma como escreveram essa busca narrativa em particular, ao oferecer uma temporada mais sombria, assustadora e cheia de ação, que supera as temporadas anteriores.
Particularmente, os primeiros episódios não me prenderam, mas, ainda assim, a 3ª temporada é incrível em diversos sentidos, começando pelo núcleo dos nossos jovens heróis, que, depois de aparentemente fecharem o portal para o Upside Down no ano passado, estão empenhados em ser “crianças” no verão de 1985. Mike (Finn Wolfhard) e Eleven (Millie Bobby Brown), agora um casal de jovens adolescentes que não desgruda um do outro, estão atrapalhando o desejo de Will (Noah Schnapp) de jogar Dungeons & Dragons com os garotos, enquanto esperam Dustin (Gaten Matarazzo) voltar para casa de um acampamento de verão de um mês, mas a esperada reunião não termina bem. Os hormônios estão atrapalhando as amizades antigas e o grupo começa a se dispersar naturalmente.
Dustin e Steve (Joe Keery) são o melhor núcleo cômico da 3ª temporada, com seu desenvolvimento evolutivo levando a algumas cenas emocionantes. Ambos, agora rapazes, estão lutando para enfrentar suas respectivas novas circunstâncias: Steve não consegue entrar na faculdade e se vê forçado a trabalhar na sorveteria do novo e incrível shopping center da cidade, e os amigos de Dustin não se interessarem por nenhuma de suas novas invenções. Ao longo da temporada, a dinâmica entre Steve e Dustin funciona perfeitamente novamente, ficando a cargo de Dustin explicar o que é certo e errado para o Steve.
Juntando-se à dupla dinâmica está a novata Robin (interpretada por Maya Hawke), que trabalha com Steve na sorveteria Scoops Ahoy. Como Dustin, Robin é outra mentora de Steve “The Hair” Harrington, desafiando o ex-galã do ensino médio de maneiras inesperadas. Maya é um dos destaques dá temporada, a gente até esquece que ela acabou de entrar no grupo. Para fechar o melhor núcleo da temporada é hora de falar da estrela mirim Priah Fergunson — que interpreta Erica, a irmãzinha do Lucas — a criança rouba todas as cenas, seus diálogos são memoráveis e sua adição ao elenco principal foi um presente lindo para todos nós.
Sem entrar em detalhes, posso dizer que das tumbas do Upside Down, o Devorador de Mentes e seus minions estão vivos e bem, produzindo novas criaturas aterrorizantes e uma sequência de ações emocionantes no final da temporada. Os novos monstros são diferentes de tudo que já vimos até aqui, e você pode dizer que a Netflix não poupou gastos nos efeitos. O final da temporada, intitulado “A Batalha de Starcourt”, é uma montanha-russa de suspense sobrenatural de 80 minutos. Além disso, eu estou feliz em informar que todos os oito episódios são essenciais, sem o “inchaço da Netflix” que está sempre presente em suas séries.
No lado adulto “das coisas”, o chefe de polícia Hopper (David Harbour) e Joyce Byers (Winona Ryder) estão passando por suas próprias metamorfoses de caráter significativo. Joyce ainda está lutando para superar a morte de seu amado Bob Newby (Sean Astin). O desempenho sincero de Ryder é elevado pelas escolhas criativas dos Irmãos Duffers por trás da câmera, usando flashbacks e imagens violentas para acentuar o estado de espírito fraturado de Joyce.
Hopper está passando pelo pior pesadelo de pai de menina. A fase adolescente da Eleven. Harbour é incrível em seu retrato de um pai superprotetor que está tendo dificuldade em aceitar que sua fila está crescendo. Juntos, Hopper e Joyce são um divertido par na temporada, e sua química “será / não será” deliciosa.
Além das criaturas sobrenaturais de Upside Down, Stranger Things Season 3 também possui um malvado vilão humano chamado Grigori (Andrey Ivchenko), que estranhamente se “assemelha” a Arnold Schwarzenegger do primeiro filme Exterminador do Futuro – a forma como ela anda, olha e se movimenta é praticamente igual. Grigori não fala muito, mas sua aparência ameaçadora e o corte de cabelo dos anos 80 já valem suas cenas. O misterioso agente russo tem alguns encontros memoráveis com Hopper, que são uma boa mudança de ritmo, já que sempre víamos Hopper lutando com monstros viscosos.
Um dos pontos negativos da temporada, com certeza, é o papel de Cary Elwes, que interpreta o ambicioso prefeito de Hawkins, Larry Kline. O cara é esquecível em apenas alguns segundos. Elwes faz o papel de vilão, mas não há nenhuma nuance em seu personagem – ele é exatamente quem você presume ele ser, o que é uma vergonha, já que Elwes é um ator incrível.
Stranger Things continua crescendo em termos de elenco e do escopo de sua história, então é compreensível que nem todo personagem receba a atenção que merece. Jonathan Byers (Charlie Heaton) e Nancy Wheeler (Natalia Dyer) se enquadram nessa categoria em particular, com seus respectivos enredos se sentindo inconsequentes em comparação com o resto dos heróis juvenis de Hawkins. Mesmo que Nancy e Jonathan estejam envolvidos com o enredo principal, se você os tirasse da equação, a temporada não teria problema. Espero que os dois aspirantes a repórteres tenham mais o que fazer na quarta temporada.
Todos os episódios fazem parte do grande momento da temporada, o episódio 8, a entrada de uma personagem deixa tudo tão bonito, tão vivo que eu fiquei emocionado com a cena do dueto neste capítulo que beirou a perfeição por causa das referências ao cinema de 1985 enquanto o mundo estava se acabando em trevas e caos.
Veredito
O Stranger Things 3 da Netflix é que a empresa de streaming tem de melhor, essa temporada se saiu melhor que o esperado, com apostas maiores e desenvolvimento de personagem mais forte do que as duas iterações anteriores. À medida que as crianças amadurecem, o mesmo acontece com as respectivas histórias e os jovens atores continuam sendo o segredo do sucesso da série.
O recém-chegado Maya Hawke é uma excelente adição ao grupo, com Hopper, de David Harbour, e Joyce, de Winona Ryder, acrescentando um pouco de profundidade emocional ao seu enredo envolvente. Com mais dinheiro, a série apostou alto, fazendo com que esta 3ª temporada se pareça mais com algo que você poderia assistir feliz de uma sala de cinema em 1985.
Foi um dos eventos mais importantes da cultura pop de 2019. Valeu cada segundo.
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