O Esquadrão Suicida de James Gunn fez história e moldou de novo a cultura pop para sempre. Resenha crítica sem Spoiler!
Antes de começar a leitura da resenha, leia esse texto que eu escrevi ainda em 2019 sobre James Gunn e como hoje ele é o maior diretor da cultura pop do momento.
O novo Esquadrão Suicida do James Gunn é a continuação do Esquadrão Suicida sem “O” de 2016, dos atores e personagens que sobraram do filme do diretor David Ayer, tem Amanda Waller (Viola Davis), que mais uma vez monta a Força-Tarefa X para uma nova missão suicida na remota e perigosa ilha de Corto Maltese. Margot Robbie como Harley Quinn, Joel Kinnaman como Rick Flag e Capitão Boomerang (Jai Courtney) também sobraram da primeira versão.
Dessa vez a missão suicida do grupo de vilões é pesquisar e destruir uma prisão laboratório da era nazista chamado Jotunheim, onde prisioneiros políticos são usados em experimentos misteriosos envolvendo uma pesquisa chamada Projeto Starfish, que ameaça o mundo. Desta vez, Waller reuniu uma nova e maior lista de super vilões para enfrentar oponentes altamente militarizados, guerrilheiros e uma estrela do mar cósmica gigante.
O novo Esquadrão estão acompanhados por Sanguinário (Idris Elba), Bolinha (David Dastmalchian), Pacificador (John Cena), Sábio (Michael Rooker), Javelin (Flula Borg), Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior), Mongal (Mayling Ng), BlackGuard (Pete Davidson), TDK (Nathan Fillion), Doninha (Sean Gunn) e Tubarão-Rei (Sylvester Stallone).
A equipe na missão também é mais tarde acompanhada pelo misterioso Pensador (Peter Capaldi) e uma revolucionária local chamada Solsoria (Alice Braga). Com a promessa de redução das penas de prisão, essa equipe deve arriscar a vida e os membros (literalmente) para completar sua nova missão ou arriscar ter suas cabeças detonadas pela Amanda.
Apesar do Esquadrão Suicida de 2016 ter sido um sucesso de bilheteria e ganhou até Oscar, a crítica e fãs destruíram o filme. A produção é uma zona sem pé e nem cabeça, isso foi graças aos sete cortes finais que teve por interferência do estúdio, além de ter uma produção apressada. Em vez de David Ayer voltar na direção do filme, James Gunn é quem comanda e leva a equipe de supervilões desorganizados em uma direção totalmente nova em comparação com a história anterior, além de dar ao filme a classificação 18 anos, coisa que todo mundo esperava na primeira versão.
Mas deu certo essas mudanças tão drásticas? Certo demais!
O Esquadrão Suicida de James Gunn é insano, divertido com uma lista maior de personagens basicamente loucos, uma direção sem precedentes com plots certeiros, roteiro fantástico com bastante humor e vulgaridades. Além disso tudo, James Gunn não esqueceu que seu filme é também sobre coração.
O filme também acerta nos efeitos incríveis tanto práticos quanto digitais, bem como quantidades extremas de ação e violência como se tivesse sido arrancado diretamente de uma história em quadrinhos. Não havia ninguém melhor para enfrentar tudo isso do que James Gunn. O cara estava apaixonado e sem interferência da Warner quando escreveu e dirigiu o filme devido à quantidade de esforço que ele colocou em tudo.
Devido aos spoilers, não posso entrar em muitos detalhes sobre a história e todos os personagens deste filme, mas posso falar algumas coisas legais sobre ele sem estragar a festa de vocês que ainda não assistiram. Como mencionar que todos os personagens, TODOS, são incríveis e memoráveis.Eles são muito bem escritos, têm uma química divertida um com o outro, e todos receberam performances profundamente comprometidas de seus respectivos atores.
Começando com a própria Amanda Waller. Viola Davis foi perfeita para o papel de Waller no primeiro filme e mais uma vez continua perfeita neste. Mas ela consegue muito mais cenas para mostrar o quão terrível ela é como a diretora do Esquadrão Suicida e como está disposta a tomar medidas extremas para conseguir o que quer, independentemente de quais vidas são perdidas no processo.
Rick Flag retorna e, mesmo que a maioria das pessoas não se importem muito com seu personagem, elas começarão a se importar com ele neste novo Esquadrão. O cara foi todo refeito,é um Flag menos cansado, mais ingênuo, mais engraçado e mais humano em comparação com o primeiro filme Além disso, Joel Kinnaman foi uma escolha perfeita para o recorte desse personagem no cinema.
James Gunn se inspirou especificamente nos quadrinhos do O Esquadrão Suicida escritos por John Ostrander, o criador original do grupo. Praticamente ele pegou quadro por quadro, desde o cenário, o tom, os trajes práticos e um estilo dos anos 70.
Leia aqui, eu já havia escrito sobre Ostrander:
As histórias Sombrias do Esquadrão Suicida
Margot Robbie retorna mais uma vez como Harley Quinn. Se tornando a verdadeira catalisadora do caos na equipe. Das três participações dela no UEDC, para mim, foi sua melhor performance depois de Aves de Rapina. Margot Robbie possui total controle da personagem, dessa vez, ela vem com mais camadas sobre Harely, enquanto também mantém a personagem metalmente e lindamente desequilibrada. As sequências de ação com ela e a química com os outros atores são um show a parte do filme.
Capitão Bumerangue é da mesma responsabilidade de merda que conhecíamos no primeiro filme e novamente teve uma ótima atuação de Jai Courtney. Fim.
E agora, os maiores destaques do filme.
Idris Elba assume um importante papel de liderança como Sanguinário, um mercenário mortal que pode fabricar inúmeras armas a partir de um traje tecnologicamente avançado e foi preso por simplesmente ter dado um tiro com criptonita no Superman. E antes que você pergunte, não, Sanguinário não é o Pistoleiro. Ambos podem ter habilidades baseadas em armas e ambos têm filhas, mas eles diferem enormemente em suas histórias e personalidades. E sem ofender o Pistoleiro de Will Smith, mas o Sanguinário do Idris Elba é muito melhor, por sua história, seu relacionamento com sua filha (Storm Reid) e seu desenvolvimento no filme.
Idris Elba representa lindamente um indivíduo frio e rabugento que parece realmente carecer de qualquer humanidade, mas mostra que ele pode ter um pouco dela. É engraçado, dramático e complexo. Além de ser um um assassino mortal com suas habilidades.
A Caça-Ratos 2, que tem a habilidade de controlar ratos, claro, foi definitivamente o coração do filme. De todos os vilões da equipe, ela se sente a mais inocente do grupo, pois tem um grande coração, tenta buscar o melhor nos outros e acaba se conectando com a maioria dos membros, especialmente Sanguinário e Tubarão-Rei. Ela foi uma adição maravilhosa ao elenco, tendo uma ótima atuação da linda e portuguesa Daniela Melchior. No teste para o papel, ela foi a única atriz que realmente não teve medo de ficar perto de um rato real e por isso ganhou o papel logo no primeiro dia que foi chamada.
Sua habilidade de controlar exércitos não apenas de ratos, mas de qualquer roedor é muito interessante e é usada de forma correta na trama, mas de longe a melhor parte era seu pequeno rato que lhe acompanhava, Sebastian. A estrela do filme.
Agora vou falar do Bolinha , um dos vilões de quadrinhos mais infames e ridículos da história por seu traje e poderes baseados em bolinhas. É também o personagem mais singular e interessante de todo o Esquadrão com a história mais triste e distorcida. Ele é essencialmente o grande azarão deste filme, sofrendo de muita dor física e mental, mas consegue realizar grandes atos para ajudar ‘seus novos amigos’. Através do esforço combinado do desempenho fantástico de David Dastmalchian e da direção de James Gunn para o Bolinha, eles transformaram o desconhecido e odiado vilão, num dos mais amados da história dos quadrinhos no cinema.
Mas ele não foi o único personagem que acabou sendo uma grande surpresa neste filme, o outro foi o Pacificador interpretado por John Cena. Sei que, para a maioria das pessoas, John Cena nunca foi realmente levado a sério como ator. E esse papel emergente finalmente veio na forma do Pacificador insanamente patriótico e assassino que está disposto a alcançar a paz a qualquer custo, não importa quantas pessoas ele tenha que matar ao longo do caminho.
O próprio John Cena em diversas entrevista, comenta que para interpretar o Pacificador, ele imaginava sendo o Capitão América idiota. O Pacificador realmente simboliza a face moderna da América e as piores partes dela. Porém Cena tem uma pegada bem cômica nas cenas enquanto seu personagem ocasionalmente é um saco de piadas obscenas para outros personagens (principalmente por causa de sua roupa ridícula), você acaba levando-o a sério. Ele teve cenas tão intensas e dramáticas que foram além de qualquer coisa que eu esperava, e na maior parte do filme. Ele estava totalmente envolvido neste papel e realmente conseguiu mostrar do que é capaz. Para quem não sabe, o Pacificador ganhou uma minissérie e as expectativas são altíssimas.
De todos os citados até agora, o Tubarão-Rei foi o personagem que fiquei com mais expectativa de assistir. Ele foi dublado pelo Sylvester Stallone! Quem não gostaria de assistir isso? Além do mais, o dublador brasileiro oficial do Stallone Luiz Feier Motta
fez a versão dublada do vilão.
O Tubarão-Rei é tudo e mais um pouco do que todo mundo esperava dele no cinema. Com grande força e apetite por carne humana, ele pode facilmente morder ou destruir qualquer um que fique em seu caminho, o que também pode incluir seus próprios companheiros de equipe. No entanto, como ele quer fazer amigos, tenta do seu jeito truculento ajudar a sua equipe, mesmo que ele não seja tão inteligente.
Com tantos outros personagens participando de O Esquadrão Suicida, não daria tempo de falar de todos aqui. Mas eu não deixaria de fora o vilão TDK interpretado pelo lendário Nathan Fillion (ele fez o papel de graça porque seu sonho era participar de um filme de seu amigo James Gunn),TDK é simplesmente o vilão mais inútil que a DC Comics já criou. E sua participação no filme é hilária e memorável. Também temos Solsoria de Alice Braga, que definitivamente foi uma grande inclusão no filme e tem seus próprios grandes momentos, pois é forçada a trabalhar ao lado de um grupo do que ela considera “loucos americanos”, e fazendo justiça, nunca esteve tão certa na vida.
Tem também o Milton, mas vendo seu papel é melhor e mais engraçado que apenas lendo ou falando sobre ele.
Eu ia me esquecendo do Pensador de Peter Capaldi e os vilões, que incluem os líderes militares de Corto Maltese. Mas é melhor deixar eles falarem por si no filme.
Quanto a Starro, bem ao lado de Thanos, Kang e Darkseid, é um dos melhores e maiores vilões dos quadrinhos que sempre quis ver adaptado para o cinema. E ele está glorioso, mas por motivo de spoiler, não posso entrar muito no que Starro faz neste filme, mas sua batalha com O Esquadrão Suicida é épica, meus queridos!
O Esquadrão Suicida de James Gunn é um filme de guerra hiper-violento que saiu diretamente do cinema dos anos 1970, brilhante, ousado, engraçado e dramático quando é para ser dramático.
Mas a joia da coroa do filme é como os personagens são tratados e explorados. E quando a gente começa a comparar a primeira versão do Esquadrão, esse filme faz seus vilões receberem uma profundidade emocional que nos dá um motivo para gostar deles. O Esquadrão Suicida de James Gunn tem muitos personagens, é o filme com o maior número de nomes até agora no cinema da DC Comics. Alguns morrem, claro, é uma coisa que o James Gunn falou desde sempre, mas são extremamente surpreendentes e impactantes emocionalmente.
Ao contrário do primeiro filme, onde quase não mataram os personagens ou quando morriam não fazia qualquer sentido à narrativa, O Esquadrão Suicida de James Gunn é tensão pura do começo ao fim
Todo mundo corre o risco de morrer por seus inimigos, por Amanda Waller ou por eles mesmos. Afinal, você tem um monte de vilões juntos que não estão dispostos a cooperar por vários motivos e não hesitam em matar uns aos outros a qualquer momento. Alguns deles se dão bem, mas outros não, o que é principalmente devido a suas próprias personalidades ou moral. O Esquadrão Suicida foi feito com maestria e tudo por causa da excelente escrita de James Gunn e, claro, do elenco fantástico que ele escolheu.
A outra coisa que vai adorar em O Esquadrão Suicida é o quão imprevisível ele é. Tudo pode mudar de um segundo para outro, especialmente nas grandes sequências de ação, como o arco final absolutamente insano. Um dos melhores momentos da história de um filme de quadrinhos que já vi na vida.
No entanto, o filme consegue ter pequenos e calmos momentos entre a loucura, permitindo que a verdadeira cerne venha à tona. Quer sejam apenas pequenos momentos em que certos personagens se unem ou até mesmo uma divertida cena festiva onde vemos os vilões vestindo roupas civis e apenas se soltando, tudo é extremamente bem feito e contribui para a história que cada um estava contando. Além de contar com uma participação especial da atriz Pom Klementieff (Mantis de Guardiões da Galáxia). Só dura alguns segundos.
CGI é obviamente usado quando necessário, incluindo para certos personagens e suas habilidades únicas, mas na maioria das vezes todo o resto são efeitos práticos. Isso torna a ação muito mais envolvente e parece muito mais cheia de emoção por causa de como tudo parece real. Quase todos os atores fizeram suas cenas perigosas. Margot Robbie não usa dublê e tudo aquilo que assistimos dela voando, caindo, pulando, é real. E mesmo quando CGI é usado, tudo parece ótimo e cria texturas incríveis.
Cada sequência de ação, principalmente no arco final, parece um espetáculo visual épico, mas sangrento, confuso e divertido. E com a classificação 18 anos, o sangue corre solto em todo o filme.
A cinematografia é absolutamente notável, a fotografia é linda, os detalhes que ficam fora da visão, tudo foi criado e feito com muito detalhe e referência a cultura pop.
O filme apresenta uma trilha sonora sem precedentes, eu acho que é a melhor trilha dos filmes da DC até aqui. O compositor John Murphy oferece uma musicalidade intensa e épica que se encaixa no filme. Isso aumentou a tensão do filme, hoje eu acredito que a trilha sonora ajuda muito numa produção. As canções escolhidas a dedo por James Gunn para a trilha sonora são muito diferentes das trilhas sonoras dos Guardiões da Galáxia, mas ainda assim se encaixam perfeitamente no estilo e tom deste filme.
Há também uma cena pós-crédito no final deste filme, como você esperaria e posso dizer honestamente que quando se trata de cenas pós-crédito, esta é provavelmente a mais ousada que eu já vi. E isso é tudo que vou dizer.
O Esquadrão Suicida era tudo que eu esperava, mas me deu muito mais do que eu poderia imaginar. Não só se tornou meu novo filme favorito da DC Comics, mas também um dos melhores filmes baseado em um quadrinho de todos os tempos. James Gunn teve permissão para trazer à luz sua visão completa e isso o levou a o sucesso que é hoje.
Espero que a Warner tenha aberto os olhos quando for interferir em outro filme da DC Comics. Querer podar a visão de um diretor (visionário ou não), acabou se mostrando o grande problema do estúdio na última década.
O Esquadrão Suicida de James Gunn fez história e moldou de novo a cultura pop para sempre.
P.S: Não sabem a ideia de como esse texto me deu trabalho. Eu consegui escrever tudo que eu queria? Andou longe, mas foi que deu para escrever sem estragar quem ainda não assistiu o filme. Obrigado se chegou até aqui.
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