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As origens do SHAZAM! Parte 1 – 1940, Whiz Comics.

Como estamos próximos do lançamento do filme do Shazam, o que imagino que irá dar continuidade ao salvamento do Universo DC no cinema após o bem-sucedido filme da Mulher Maravilha, resolvi escrever sobre as origens que o personagem teve nos quadrinhos.

Tenho aqui na minha coleção, três  edições que apresentam releituras dessa origem, uma lançada no Brasil em 1996 (A Origem do Capitão Marvel, pela editora Abril), outra de 2014 (Shazam e A Sociedade dos Monstros) e a mais recente, de 2015 (Shazam, com uma palavra Mágica). Nós vamos fazer uma comparação entre elas, mas antes, precisei ler também o material original: a primeira aparição do Capitão Marvel, na revista Whiz Comics, de fevereiro de 1940 e também a revista Marvel Family nº 1, de dezembro de 1945, porque é a origem do Adão Negro, importante vilão do herói.

A ideia é ir discutindo as semelhanças e diferenças entre todas essas, limitando a avaliação especificamente em cada uma delas, evitando seus desdobramentos ou informações existentes em histórias subsequentes.

Whiz Comics, de fevereiro de 1940

Whiz Comics, de 1940, a primeira aparição do personagem Capitão Marvel, mais conhecido como Shazam. Um super herói forte arremessando, com as mãos, um carro cheio de bandidos, chocando-o contra uma parede. Não lembra alguma coisa pra você?

 

A primeira aventura do personagem já aborda muitos elementos que são fundamentais para o herói. Aqui nós temos Billy Batson, uma criança, órfã, com sua inconfundível camisa vermelha e queixo furado, vendendo jornais nas esquinas escuras de uma “cidade”. Apenas “cidade” porque essa primeira aventura não cita seu nome. Talvez apareça nas edições futuras, mas, originalmente, a cidade não se chamasse Fawcett, que é uma referência à editora que publicou o personagem no princípio. Fawcett City só foi criada décadas depois, por Jerry Ordway, quando o personagem já estava sendo publicado pela DC comics, como uma forma de homenagem (sempre necessária!) à extinta Fawcett, que foi comprada pela “distinta concorrente”.

Na primeira página do gibi, vemos a “cidade” e um homem encapuzado levando Billy para o subsolo.

 

O encapuzado misterioso. O trem mágico que leva Billy Batson aos subterrâneos.

 

As sete estátuas dos inimigos mortais do homem, a primeira aparição do mago Shazam em seu trono de pedra com vários elementos o importantes o cercando.

 

O encapuzado, o trem mágico e SHAZAM!

Essas três primeiras páginas do gibi são icônicas e trazem elementos que, na maioria das vezes, se repetem nas  versões futuras da origem. Um homem encapuzado aborda Billy e nós não sabemos de quem se trata. Aparentemente, ele segue um adulto estranho (não façam isso, crianças!). Em outras versões, nós sabemos quem é o encapuzado e talvez, ainda na editora Fawcett  eles tenham explicado esse homem, mas não nessa história específica de origem (lembrem que estamos abordando aqui as edições isoladamente, apenas o recorte).

Billy entra em um trem mágico, “com olhos de dragão”e sem condutor  e viaja até uma caverna misteriosa. Lá, ele encontra as enormes sete estátuas dos pecados que são inimigos da humanidade e conhece o mago Shazam, que por 3000 anos usa os poderes que os deuses lhe deram para combater as forças do mal. Pode ter ficado subentendido que essas forças malignas sejam aquelas representadas pelas estátuas: Orgulho, Inveja, Cobiça, Ódio, Egoísmo, Preguiça e Injustiça, que estão na entrada da caverna, mas não foi ainda dito diretamente.

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Shazam explica o significado de seu nome: sabedoria de Salomão, força de Hércules, vigor de Atlas, poder de Zeus, coragem de Aquiles e velocidade de Mercúrio. O mago apresenta o “historoma”, uma espécie de televisão onde pode assistir os fatos que acontecem no mundo, inclusive onde conheceu o drama da vida do pequeno Billy: órfão que foi colocado pra fora de casa pelo tio, que ficou com toda a herança que deveria ter do rapaz.

A origem do seu nome, o historama e o tio ladrão.

 

A transformação e a palavra mágica

O mago Shazam pede para que Billy pronuncie o seu nome e que isso o transformaria no mais forte e poderoso homem da terra: Capitão Marvel! No princípio, Billy nunca foi o Shazam, seu nome era Capitão Marvel! Acontece que Shazam tornou-se uma palavra mágica MUITO famosa ao redor do mundo. Hoje, tão ou mais popular que “Alakazam” ou “Abracadabra”. Quem não lembra de Tobey Maguire tentando soltar teia no seu primeiro Homem Aranha? E olha que o Aranha é da Marvel, fazendo piadinha com uma palavra que extrapolou o universo dos quadrinhos da antiga Fawcett ou DC.

Shazam é também o título de um dos mais importantes livros temáticos sobre quadrinhos já lançados no Brasil. Bibliografia básica para qualquer pesquisa séria no assunto, mais uma evidência de que a palavra pode ser até maior que o personagem.

 

Billy Batson é Capitão Marvel?

Observem bem essas imagens que juntei de recortes da primeira edição:

Obs: Esses quadrinhos são de páginas diferentes, que agrupei para trabalhar melhor aqui.

 

Desde o princípio, quando Billy se transforma em Capitão Marvel, ele parece mudar sua postura, tornar-se mais sério. Podemos entender que Billy se transforma em outra coisa e que depois volta ao normal sempre que diz a palavra “Shazam”. No penúltimo quadrinho podemos ler que momentos depois o “Shazam, o Capitão Marvel e a caverna estranha haviam desaparecidos” e Billy conclui dizendo que tudo pareceu um sonho. Só para desenvolver esse raciocínio, leiam o quadrinho seguinte, retirado da última página da estréia do vermelhão:

Billy Batson deixa reticências: “eu e…”.  Refere-se a ele mesmo, junto o Capitão Marvel, como “nós”. Não aparenta ser uma só pessoa. Eu e ele. “Nós”. É como Gollum e o Anel, ou melhor, como  o Eddie Brock e o simbionte alienígena tornando-se Venom (nossa! Essa foi horrível!). O importante é deixar aqui a interrogação: existem duas coisas separadas aqui? Capitão Marvel transformado é o mesmo Billy de antes, agora com poderes?  Guarde essa pergunta pra você que a gente trabalha melhor no futuro nas próximas partes deste texto.

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Mas antes de concluir, é bacana ainda citarmos outros elementos importantes deste gibi.

A morte do mago, Silvana e a Rádio

Quando Billy/Marvel vai embora da caverna pela primeira vez, falando sua palavra mágica, nós vemos uma enorme pedra de granito caindo sobre o mago Shazam. Ele estava cansado e tinha preparado tudo para sua morte e substituição: fica claro que arquitetou a própria morte, podemos até dizer que cometeu suicídio, mas não fica claro com quais intenções teria feito isso a não ser estar cansado e precisar passar o manto para outra pessoa.

Inclusive, nessa primeira edição, o mago Shazam não dá nenhum significado especial para o braseiro que aparece ao lado (na imagem acima, o braseiro está aceso e caindo). Mas é um elemento que precisa ser citado para as partes seguintes de nossa conversa.

Billy Batson, a exemplo de um outro superpoderoso herói que usa suas habilidades em benefício próprio para conseguir se dar bem no emprego ou mesmo conseguir um serviço na imprensa, vai até o dono de uma rádio, o sr. Morris e consegue uma promessa de emprego como radialista, caso conseguisse descobrir o paradeiro de um terrível vilão. Isso é muito importante, porque a ligação do personagem como vendedor ambulante de jornais e como jornalista mirim é algo bastante marcante.

Por fim, outro elemento que destaquei desse gibi de apenas 15 páginas mas com muitos pontos essenciais que fundamentam o personagem é o primeiro vilão do gibi: Dr. Silvana. Vocês lembram do Dr. Evil em Austin Powers? Pois bem, é aquilo. Silvana é um pequeno cientista maluco do mal que cria engenhoca e ameaça as pessoas, caso não paguem uma enorme quantia em dinheiro.

Silvana perpetuou-se como um dos 3 principais vilões do Capitão Marvel e já aparece em sua edição de estreia. Só para efeito de comparação, Lex Luthor só viria aparecer em Action Comics 23, de abril de 1940, quase dois anos após o surgimento do Superman e dois meses após Silvana. Ambos são retratados como cientistas do mal, mas seria precipitado dizer que Silvana influenciou a criação de Lex. Aparentemente, cientistas malucos e carecas eram bastante comuns naquele tempo.

 

Não viu as outras origens do Shazam? Acesse aqui:
Parte 1 – https://quintacapa.com.br/as-origens-do-shazam-parte-1/
Parte 2 – https://quintacapa.com.br/as-origens-do-shazam-parte-2-jerry-ordway-1996/
Parte 3 – https://quintacapa.com.br/as-origens-do-shazam-parte-3-jeff-smith-2007-a-sociedade-dos-monstros/
Parte 4 – https://quintacapa.com.br/as-origens-do-shazam-parte-4-com-uma-palavra-magica-de-gary-frank-geoff-johns-2012/

Sou desenhista, criador do Máscara de Ferro e autor do quadrinhos Foices & Facões. Sou formado em história e gerente da livraria Quinta Capa Quadrinhos