Dos mesmos produtores “Preacher”, The Boys traz uma nova adaptação dos quadrinhos para o Amazon Prime Vídeo. É como assistir “Watchmen” com mais piadas e sexo.
Evan Goldberg e Seth Rogen receberam carta verde para iniciar o projeto de produzir The Boys antes de Preacher (AMC) terminar, que é história também escrita pelo roteirista Garth Ennis; um dos autores que nos deram os quadrinhos mais originais e audaciosos dos últimos anos. Eu não sei bem em quem temporada de Preacher se começou a produção de The Boys, mas sua última temporada chegará mês que vem.
“The Boys” não é um lançamento do nível de “Preacher”, em termos de dinheiro e marketing, mas no nível caos e piadas sujas, nada em 2019 se comparou. Seu showrunner, Eric Kripke, criador de “Supernatural” e “Timeless”, deixou Evan e Seth com ajuda do próprio Garth Ennis fazerem em oito episódios, uma série sangrenta, sexy e divertida.
“The Boys” pode ganhar um grande público porque ela fala justamente do que está na moda: Super-herois. Mas a coisa é toda ao averso, aqui são os vilões os protagonistas e os combatentes do crime fantasiados são os bandidos, arrogantes e corporativos e indiferentes aos danos colaterais para os seres humanos inocentes. A função dos “The Boys” – um bando heterogêneo de pessoas comum e desonrosos em diversas camadas – é mostrar a sujeira por trás dos que se dizem salvadores da humanidade. O problema é como pessoas sem poderes e usando apenas pés de cabras podem lutar com seres que podem voar, soltar lasers pelos olhos, correr mais rápidos que o som?
Sobre isso, a série é bastante agradável, particularmente no rápido e inteligente primeiro episódio (escrito por Erik Kripke e dirigido por Dan Trachtenberg) que nos introduz ao mundo da série – muito parecido, mas marginalmente exagerado que o nosso – e dá o herói real do programa, o vendedor de eletrônicos Hitchie (Jack Quaid), uma razão para odiar os supers. O cara mais comum do mundo, parecido comigo e com você. Em uma cena judiciosamente horripilante, testemunhamos a obliteração acidental da noiva de Hughie por um heroi velocista fora de controle, A-Train (Jessie T. Usher), que é membro dos Setes, a principal equipe de super-heróis da América.
Os Sete são uma marca gerenciada pela Vought, uma megacorporação maligna que ocupa uma torre futurista não muito longe do Empire State Building, os Sete são liderados pelo sempre Loiro e Deus, Homelander (Patriota), interpretado perfeitamente pelo ator Antony Starr. Ele é o Super-Homem que azedou, digamos assim, e o programa enquadra alegremente os Sete como exemplos do privilégio americano, do patriarcado e da cultura fraudulenta de celebridades. A fachada saudável e perfeita do Patriota esconde um mentiroso e assassino em série, enquanto o herói aquático Deep (Chace Crawford) é um pesadelo para mulheres com seus assédios sexuais da forma pura e violenta possível. A Vought encobre seus excessos enquanto vende seus serviços para cidades cheias de crime e faz lobby para que eles sejam responsáveis pela defesa nacional. Sua cidade está sofrendo com violência, assaltos e assassinatos? A Vought terá um herói especialmente para lhe proteger.
Hughie, um ex-fan boy agora enfurecido e sofrendo de estresse pós-super-herói, é recrutado em uma tentativa clandestina de derrubar os sete por um cara chamado Billy Butcher (Karl Urban), que tem suas próprias razões para querer que eles parem, ou sejam mortos. Mais aliados gradualmente juntam-se à vendetta, e a série perde um pouco de sua faísca nos episódios subsequentes em parte devido ao elenco pesado que precisa ser introduzido e mantido ocupado – os Sete (incluindo Erin Moriarty como a inocente e nova membro, Luz-Estelar ), mais cinco “Boys”, mais a sempre incrível Elisabeth Shue como executiva da Vought, Simon Pegg como o pai de Hughie e Jennifer Esposito como agente da CIA tem um passado com Butcher. Sãos muitos personagens feito por grandes atores colocar em oito episódios.
Quaid (sabiam que ele é filho de Meg Ryan e do Dennis Quaid?), faz uma performance encantadora e simpática como Hughie, porém, quando mostra sua face brutal, o cara vai ser brutal literamente. E no geral, a arquitetura da história de Ennis – uma visão mais leve e menos apocalíptica do tipo de desconstrução de super-heróis que Alan Moore fez em “Miracleman” e “Watchmen” – é interessante o suficiente e executada com brio suficiente para segurar você. Colocar o ônus em Hughie para escolher um verdadeiro heroísmo em escala humana não é uma ideia nova, mas, ainda assim, tem um impacto emocional. Eu ainda dedico algumas linhas para como Karl Urban está visceral. Sem dúvidas, seu melhor papel.
E a noção de que o mundo precisa ser salvo de seus super-heróis tem outra ressonância sorrateira: Vought, como uma loja, é dona 200 heróis fantasiados, tem seus parques temáticos e franquias de filmes, se assemelha nada mais do que os leviatãs dos quadrinhos Marvel e DC. O próprio quadrinho “The Boys” foi publicada pela primeira vez e depois abandonado. Tanto que no Brasil, existem diversas versões editoriais desse quadrinhos. Quando Hughie descobre a verdade sobre os Seven, ele percebe que a vida de fã de cultura pop é uma grande piada.
Veredito
“The Boys”, em oito episódios, nos oferece o tipo de prazer inteligente e descontraído que a maioria dos programas e filmes da Marvel e Netflix, seus análogos mais próximos, não alcançaram. Sem mesmo ter estreado, a Amazon Prime já encomendou a segunda temporada.
Vale cada segundo.
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