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Entrevista | Pasquale Ruju (Roteirista de “Tex”)

Em parceria com o blog “Blueberry, Uma Lenda do Oeste”, iniciamos uma série de entrevistas com grandes nomes do quadrinho italiano. Criado e mantido por Afrânio Braga, o blog é uma referência mundial sobre o personagem em quadrinhos de Jean-Michel Charlier e Jean Giraud, mais conhecido pela alcunha de Moebius.

Abrimos os trabalhos com um dos principais roteiristas de “Tex” na atualidade, Pasquale Ruju. Nascido em Nuoro, Itália, em 1962, após o ensino médio clássico ele se laureia em Arquitetura em Turim. Apaixonado pelo teatro e pelo cinema, ele se diploma no Laboratorio Teatrale di Torino. Sucessivamente, ele colabora com “Ipotesi Cinema”, a escola fundada por Ermanno Olmi, e ele realiza diversos curtas-metragens, entre os quais o recente “Password”, e o longa-metragem “Tempo di mezzo”. Depois de várias experiências teatrais e televisivas, desde 1989 ele se ocupa de dublagem, dando a voz a muitos personagens de séries televisivas e dos desenhos animados.

Debuta no mundo da história em quadrinhos em 1995, escrevendo a histórica breve “Il vicino di casa” para “Dylan Dog”, publicada em “Dylan Dog Gigante” nº 4. Desde então, ele tem ao seu ativo mais de setenta roteiros com o protagonista O Detetive do Pesadelo, além de várias outras histórias para “Nathan Never”, “Tex” e “Dampyr”, sem esquecer a minissérie “Demian”, por ele criada, sendo responsável por todos os dezoito episódios mais quatro números especiais. Assim como “Cassidy”, minissérie de cuja ele realiza todos os dezoito álbuns. Além de prosseguir com os roteiros de “Dylan Dog” e “Tex”, ele escreve também para “Le Storie”, todas publicações da Sergio Bonelli Editore.

Com o ranger e grande estrela da casa editorial italiana, Ruju tem trabalhos em diversos títulos, desde a série mensal regular, passando pelo “Almanaque Tex“, “Tex Anual“, “Maxi Tex” e a nova série “Tex Willer“, além de alguns volumes da “Tex Graphic Novel“, sendo inclusive o autor dos últimos números lançados no Brasil.

Tex©Sergio Bonelli Editore. Publicações da Mythos Editora.

Confira abaixo nossa entrevista:

Qual é a origem do sobrenome Ruju?

É um sobrenome sardo que quer dizer “rosso” (vermelho). É típico do centro da Sardenha, a Barbagia.

Tu visitaste o Brasil? E os Estados Unidos da América, o maior palco das aventuras de Tex?

Eu estive diversas vezes no Brasil, mas sempre na costa (Estados do Rio de Janeiro e da Bahia e na cidade de Natal). E eu estive também no Arizona e depois no Monument Valley. Lugares magníficos, para ver ao menos uma vez na vida.

 Qual é o teu esporte predileto?

Eu pratiquei por muitos anos as artes marciais, sobretudo caratê e taekwondo. Hoje, eu faço só um pouco de saco de pugilismo e eu vou correr. A idade avança…

Tu rebeste quais prêmios pela tua carreira artística?

Pelo roteiro, eu tive o Premio Cartoomics em 2004. Depois vários outros, entre cujos o prêmio U Giancu, consignado a protagonistas importantíssimos do mundo da história em quadrinhos, como Hugo Pratt, Sergio Bonelli, Sergio Toppi, Milo Manara e Guillermo Mordillo.

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 As tuas experiências no teatro e na televisão são utilizadas nos teus roteiros de histórias em quadrinhos?

Roteirizar é um ofício que requer competências também muito diversas. Da experiência teatral e televisiva eu peguei o ritmo das falas e a sua construção cinematográfica mais que literária. Cada fala deve poder ser lida em alta voz e resultar credível, como o é na mente do leitor.

 Tu fazes esboços das pranchas das histórias para os desenhistas?

De sólito não. Eu forneço descrições acuradas e material documentário (mapas, fotografias, ilustrações do tema) para tornar mais fácil o trabalho deles.

Quais são os teus personagens prediletos das histórias em quadrinhos?

Entre os clássicos bonellianos, Tex, Dylan Dog e Mister No. Mas eu leio um pouco de tudo. Eu amo muito a história em quadrinhos sul-americana e aquela francesa. Eu leio Blueberry, Dago, Alpha, Cayenna, Largo Winch, Blacksad, para citar só alguns. Eu leio também os americanos, mas sempre menos os super-heróis. São muitos volumes interessantes de gênero noir, nos últimos anos, de “Sin City” de Frank Miller a “Southern Bastards” e “100 Bullets”, para dar um exemplo.

 Tu gostaria de escrever histórias de quais personagens das histórias em quadrinhos?

Eu gostaria de escrever histórias para Mister No, personagem que eu tenho amado muito e com cujo eu cresci. Depois seguramente Diabolik, e entre os americanos o Justiceiro, um personagem das grandes potencialidades.

Tex©Sergio Bonelli Editore. Publicação da Mythos Editora.

 Como surgiu o convite para escrever Tex? Tu sentiste algum receio frente à responsabilidade em trabalhar com o maior personagem das histórias em quadrinhos italianas?

Decerto é um compromisso importante e uma grande responsabilidade. Foi Sergio Bonelli o primeiro a propor-me de entrar na equipe texiana. À época, eu escrevia, sobretudo, para “Dylan Dog” e eu começava a trabalhar às minhas séries (“Demian”, “Cassidy”). Eu fiz alguns roteiros para os “Almanacco del West”, mas seria a história “La prova del fuoco” (“Tex” nº 598 e 599) a fazer-me entrar definitivamente no staff dos roteiristas de “Tex”.

Há diferenças em roteirizar uma edição especial de Tex, como “Color Tex” ou “Almanacco del West”, e uma história da série regular?

A maior diferença é o número de pranchas, mais breve, que requer uma história adaptada a fechar-se em pouco espaço. Para o resto, as dinâmicas e os personagens são os mesmos, e assim o compromisso que vai colocado para os desenhos e os roteiros.

 Quais as tuas preferências quanto à estrutura de teus roteiros? Por exemplo, tu preferes escrever aventuras solitárias de Tex ou tu te divertes com os quatro pards em ação?

Agrada-me mudar. Se eu fiz uma aventura com Tex “em solitária”, de solito prefiro na história, depois, ter também Carson, ou se possível todos os quatro pards. Uma boa história de Tex vem enriquecida pela presença dos companheiros, como também de maus à altura do nosso herói.

 Tu achas interessante explorar o passado de Tex em sua nova série? Quais as possibilidades e os limites tu identificas nessa empreitada?

Decerto escrever o jovem Tex tem sido muito divertido. É um personagem um pouco diverso do ranger que conhecemos. Menos maduro e menos infalível. É necessário ter muita cautela ao tratar o passado de Tex, dito isso, Gian Luigi Bonelli deixou espaço suficiente, na história do personagem, para poder inserir muitas novas aventuras sem trair a história.

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Tex©Sergio Bonelli Editore. Publicação da Mythos Editora.

Que marca tu procuras impor em teus roteiros?

Nenhuma marca. Se eu escrevo “Tex” (ou “Dylan Dog”), eu me coloco, sobretudo, a serviço do personagem e dos seus leitores, um pouco como um ator que se identifica em um papel. Fico sempre eu, mas a escritura se adapta àquele particular herói. Se ao invés eu escrevo as minhas histórias, o faço com o meu estilo, que eu creio seja bem reconhecível por parte dos leitores, com o seu ritmo, os diálogos fechados, e os personagens caracterizados o melhor que seja possível. É um trabalho que me diverte sempre muito.

 Em algumas histórias de Tex há elementos da ficção científica e do sobrenatural. Qual é a tua percepção sobre isso?

Amo-as muito. “Tex” é um western realístico (enquanto no seu mito), mas cada tanto é belo que passe a fronteira no sobrenatural. As histórias de Mefisto e Yama, ainda hoje, são as mais apreciadas pelos leitores.

Acontecem modificações em personagens de histórias em quadrinhos. Tu farias alguma modificação em Tex?

Seguramente não.

Tex©Sergio Bonelli Editore. Publicação da Mythos Editora.

 Em 2000, Sergio Bonelli escreveu: “Blueberry, o irmão francês de Tex”. Qual é a tua opinião sobre a frase do mítico editor?

São personagens diversos, mas por outro lado França e Itália são países diferentes, com diferentes sensibilidades. Tex e Blueberry são irmãos diversos. Ou porventura somente primos.

O quê tu pensas sobre uma história de Mike Blueberry e Tex Willer juntos?

Seria interessante, mas não creio que nós a leremos um dia.

 Tu assististe aos filmes “Tex e il Signore degli abissi” (“Tex e o Senhor do Abismo”, título no Brasil) e “Blueberry, l’expérience secrète” (“Blueberry – Desejo de Vingança”, título no Brasil)?

Sim. Eu não amei nenhum dos dois. Demais distantes da minha ideia dos personagens e do mundo deles.

Tex©Sergio Bonelli Editore. Publicações da Mythos Editora.

Tex e Blueberry já foram publicados em mais de 20 países. A quê se deve o sucesso desses dois heróis western?

O western é um gênero que não morrerá nunca. Os seus heróis, sempre iguais depois de tantos anos, constituem, para nós, uma certeza e uma fuga de um mundo complicado. No Oeste, as regras são simples, é fácil entrar nas histórias, divertir-se, identificar-se. Por isso assim tantos leitores continuam a seguir os nossos dois heróis.

 Qual é o teu ponto de vista sobre publicações de novos títulos de histórias em quadrinhos western?

Tem havido propostas muito interessantes (entre todos Mágico Vento), e eu vejo aparecer novos personagens. Eu espero sempre que tenham sucesso e alguma vez acontece. Como eu disse, o western não morrerá nunca!

 

Fonte da biografia e da bibliografia texiana de Pasquale Ruju: Sergio Bonelli Editore, Milano, Italia. 

Um grande agradecimento a Pasquale Ruju pela entrevista ao blog Blueberry e ao site Quinta Capa.

Parnaibano, leitor inveterado, mad fer it, bonelliano, cinéfilo amador. Contato: rafaelmachado@quintacapa.com.br